Capítulo 15

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Camille guardava o sono do marido.

Sentada ao lado dele na cama, ela deslizava as pontas dos dedos por suas costas num movimento distraído, de vai e vem.

Seu toque era frio na pele quente e suada.

Por vários minutos repassou momento por momento da sua primeira noite com Benedict, ela nunca havia sentido nada igual aquilo antes, e sabia que ia muito além da sensações físicas. Toda vez que ele a beijava ela sentia seu coração se expandir dentro do peito, nunca pensou que sentiria isso por alguém, e por isso algo a  mais lhe preocupava.

Ela quase podia ouvir as palavras se repetindo em sua cabeça, como um eco torturante.

Tinha que vê-la – pensou consigo.

Saiu da cama e foi até a janela, onde os primeiros raios da manhã surgiam por entre as nuvens cinzas.

Tudo parecia está fora de seu controle.

Olhou mais uma vez para o marido e seus pensamentos correram de volta para as palavras que a velha bruxa lhe dissera.

O gelo nunca poderá amar o fogo.

Caminhou até perto da cama e agachou-se para pegar uma peça de roupa.

Vestindo as calças do marido, seguiu até um móvel de madeira e abriu uma das gavetas a procura de uma camisa limpa, achando-a na terceira tentativa. Passou a peça de roupa pela cabeça e deslizou os braços pelas mangas. Esgueirou-se até seu quarto de vestir, usando uma porta de conexão, onde estavam seus baús, procurando por um em especifico. Achando-o, debruçou-se sobre ele desatando as amarras de couro, pegou o livro e um das pistolas e colocou os objetos em sua estimada bolsa de couro. Devolvendo o baú ao seu lugar, voltou para o quarto.

- Perdão amor – sussurrou para o marido que ainda dormia e depositou um beijo em seus cabelos emaranhados, e saiu para o corredor escuro.

A casa ainda dormia, então ela seguiu pelo vão principal até a entrada de serviço, e saiu por uma porta lateral.

Seguiu até os estábulos onde sua égua, Matilda, a aguardava, e ouviu o relinchar do animal, que parecia sentir a sua presença.

Maldição! – soltou ao ver que havia alguém nos estábulos.

- Milady – cumprimentou-a o menino, que curvou-se levemente para a frente em uma referência – o que faz de pé tão cedo? – perguntou ele num tom inocente.

- Tenho alguns assuntos a tratar – disse ela. – Peço que se meu marido procurar por mim, não conte a ele que me viu. – pediu ela e jogou uma moeda na direção do garoto, que a pegou no ar.

- Não sei se devo mentir Milady – disse o menino e deu uma mordida na ponta da moeda, e depois a colocou no bolso.

- Pois bem – começou ela, pensando em uma outra estratégia – então não diga nada.

O garoto concordou com um aceno de cabeça e correu para selar a égua.

Camille aguardava com uma impaciência visível , caminhando de um lado para o outro, como um felino enjaulaldo.

Deu um pulo para trás quando finalmente o garoto se aproximou e tocou-lhe o ombro a fim de avisa que a égua estava pronta.

Sem nenhum esforço Camille montou e saiu em disparada, em direção a floresta.

**********

Benedict dormia, o tronco descoberto, a boca levemente aberta.

Sentia um toque frio e suave descendo pelas suas costas e de repente.... Não sentiu mais nada.

Rolou na cama esperando sentir a presença quente e macia de Camille ao seu lado. Bem, nem tão quente quanto ele imaginava, mas tudo o que encontrou foi o toque frio e macio dos lençóis.

Abriu os olhos, arregalando-os. Piscou várias vezes até focar a visão e olhou ao redor do quarto procurando por ela.

Sussurrou seu nome, uma... Duas vezes até perceber que ela não estava em nenhum lugar daquele cômodo.

Saltou da cama procurando as peças de roupas que haviam sido espalhadas na noite passada, mas tudo o que encontrou foi o vestido de noiva abandonado em um canto do quarto.

Benedict praguejou enquanto corria para se vestir.

Pelos Céus - pensou beirando o desespero - Aquela mulher seria a sua ruina.

Imaginava que Camille havia fugido, e esse simples pensamento o levava a loucura.

Não muito tempo depois seguia apressado para os estábulos.

- Bom dia meu senhor – soldou-o o menino.

- Onde está a égua de Lady Camille? – perguntou ele sem rodeios.

- A senhora levou a égua mais cedo – respondeu o menino prestativo.

- E sabe para onde ela foi? – quis saber.

O menino negou com um gesto de cabeça.

- Ela por acaso lhe disse para não me dizer? –Benedict perguntou.

O menino hesitou um instante antes de assentir.

Conhecendo Camille como ele conhecia não duvidava que ela fizesse algo desse tipo.

- Ela por acaso lhe ofereceu algo pelo seu silêncio? – voltou a perguntar em um tom suave e calmo.

O menino assentiu novamente, então Benedict levou uma mão ao bolso do casaco, puxou três moedas e as depositou na palma do menino.

- Está vendo essas moedas – disse ele para o menino, que voltou a assentir com um movimento de cabeça – elas serão suas se me disser em que direção ela foi. – ele continuou.

O menino não disse nada, mas apontou em direção a floresta, para onde Camille tinha seguido.

Benedict jogou mais algumas moedas para o menino e correu de encontro ao seu cavalo. Jogou a sela sobre o lombo do animal e montou.

- Tenha um bom dia, meu senhor – gritou o menino quando Benedict passou por ele na velocidade de um raio.

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