☼ ☽ Número Três ☽☼

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Lucas George era um dos melhores amigos do meu colega de classe, o que o tornava um dos donos do apartamento em que eu estava. Eu desacreditei à princípio, até que ele me mostrou seu quarto e lá tinham muitas fotos dele, então seria estranho se fosse o quarto do Júlio.

Como eram mais de seis da manhã e as pessoas estavam indo embora desde às quatro, me aproveitei do fato de estar na companhia de um dos anfitriões há um bom tempo e decidi permanecer ali até me expulsarem.

Sobre meu relato, eu não me lembro de ter ido tão a fundo nos detalhes antes, então aquela era uma genuína primeira vez.

— E o tal do Antônio? — Lucas George de repente perguntou.

— Estou começando a questionar essa sua curiosidade nele.

— Ele fugiu no meio da sua história. Ou não? É que você basicamente virou a nêmesis dos seus amigos ou então o interesse amoroso deles, então fiquei confuso.

— Nêmesis ou interesse amoroso. Um jeito interessante de ver tudo isso. — eu refleti em voz alta, elogiando-o.

— Quais os nomes deles?

— Desculpa. Eu estou bem o suficiente pra contar a história, mas... sinto que se eu disser os nomes, eles voltam a me machucar como já machucaram.

— Então você é aquele tipo de garota. — Lucas observou, pensativo — Sabe, a garota que tem uma bagagem enorme no passado e por conta disso se tornou fria.

— Não sou nada fria, caso você não se lembre. — sorri, maliciosa. A gente realmente tinha quase se pegado enquanto dançava, e não tinha sido nada desagradável. — E caso questione o sentido de frieza, também gostaria de te lembrar que acabei de contar todas as minhas dores pra você. As garotas misteriosas geralmente esperam alguns capítulos.

— Tá, mas quem mais sabe disso? — ele mordeu um pedaço do Fini que estávamos preguiçosamente dividindo, jogados no sofá do apartamento do Júlio.

— Um ou dois caras de bar.

— Você vai a festas, acha alguém e então conta a difícil história de Elisa Bonifácio?

— Exatamente.

— Então está recrutando novos amigos? — Lucas questionou, rindo fraco.

— Seria uma ótima ideia, se eu quisesse. Mas a verdade é que não me lembro do nome de um deles sequer.

Eu o senti ficar quieto e desconfortável. Não fazia sentido eu conhecê-lo ao ponto de ter essa impressão, mas de alguma forma eu conhecia. Ele estava se perguntando se eu o esqueceria tão facilmente.

— Nunca cheguei nesse ponto da conversa com nenhum deles. — admiti, distraída com o pacote de finis. — Esses caras não estão a fim de ouvir muito e não ganhar nem um beijo no final da noite. São péssimos ouvintes.

— Devo me sentir especial? — Lucas sorriu um pouco, roubando os doces de mim.

Revirei os olhos.

— Você se envolve muito fácil.

— Já faz sete horas que nos conhecemos! — insistiu, me abraçando e ironizando meu ponto.

— Feliz sete horas! — decidi brincar também, apertando sua bochecha.

Ao fazer isso, é claro, eu notei que nós estávamos muito próximos um do outro; que agíamos como se fôssemos amigos demais e que achávamos que nos conhecíamos o suficiente para ter piadas internas. Mas éramos colegas de festa e só tínhamos vivido meio PT juntos, pelo amor de Deus!

Era bizarro.

Tirando isso, era ótimo.

— Tem certeza que a festa vai acabar sem um beijo nosso? — ele sussurrou, me fazendo sentir o açúcar de sua boca.

Respirei fundo.

— Tenho.

— Ah, não. — Lucas interveio, tão baixo quanto antes. — Eu estou pedindo um beijo, não vê?

— Não só vejo... sinto. — mirei seus lábios, podendo assistir um sorriso leve surgindo neles. O efeito das minhas palavras.

— Eu mereço. Mereço alguma coisa, alguma garantia.

Me afastei um pouco, arqueando a sobrancelha em intriga.

— Do que você está falando?

— Quero te ver de novo, Elisa. Não quero ser só um dos seus ouvintes da história sem nome da sua vida e ficar no limbo dos rostos que um dia você achou bonitos.

— Você é um pouco dramático, gringo.

And so are you. — rolou os olhos.

— Tudo bem. Eu te dou um nome de verdade, assim a história vai ser real.

— Isso pode doer em você.

— Faz oitenta e quatro dias, eu acho que já está na hora.

Eu não sabia, na verdade, se estava na hora. Eu já tinha chegado a pensar que nunca estaria preparada. Eu estava, sim, há oitenta e quatro dias sóbria, pois precisei me afastar pra sentir que ainda havia uma vida pra se viver. Sóbria de todos os nomes, de um deles em especial.

E foi justamente esse que eu falei.

— Mateus. Mateus Arantes.

— Antônio, meu favorito? — arriscou.

— Não. — eu ri, baixo. — O...

— Entendi. — Lucas me barrou, rápido. — Entendi, Elisa. Você não precisa falar quem ele era. Se já não é algo bom pra você, é melhor não falar.

— Obrigada, eu acho.

— Eu demorei alguns meses pra falar sobre a Heather. Quando disse, bitch estava no meio da frase.

— Parece justo. — eu ri, pegando um fini. Aqueles canudinhos eram uma das fontes de felicidade da minha vida. — Isso significa que você superou.

— E você, superou? — Lucas perguntou, curioso.

Apenas olhei ao redor, para a sala parcialmente destruída e a janela refletindo o sol nascente.

Um Conto Não Depressivo Sobre DepressãoOnde histórias criam vida. Descubra agora