Pela manhã, ao acordar, eu me vi chorando.
Chorando copiosamente. Chorando muito. Sem um motivo certo, mas com muitos motivos no bolso. Coisa demais apertava o meu coração. Eu já não sabia como respirar, então soluços eram inevitáveis.
Eu não esperava que fosse quebrar em uma manhã de sexta, no meu último dia de férias, pouco antes de voltar a minha rotina corrida.
Eu tive tanto, tanto tempo pra fazer isso. E eu podia ter feito antes. Eu podia, eu não sei, ter chorado há uma semana, assim passaria mais uma semana processando o acontecimento, mas não é como se fosse algo que eu pudesse adiar ou adiantar. Eu atingi um limite, mesmo às cegas, mesmo sem ter uma noção definida da minha infelicidade, e a partir daí tudo o que sobrou foi chorar.
Eu não quis chorar antes porque sabia que chorar não resolveria nada, assim como contar tudo pra algum amigo não resolveria nada. Eu só queria contar pra uma pessoa, mas essa pessoa já não era minha pessoa, então... Era eu mais eu.
Toda vez em que eu me sentia no limite, ia pra algum lugar agitado, escolhia alguém no meio da multidão e vomitava algumas dores nessa pessoa. Funcionava, me mantinha de pé.
Até o Lucas chegar.
É. Lucas George estragou tudo.
Tudo, menos eu.
Porque eu já estava estragada.
....
Minha mãe apareceu um pouco depois do meu surto. As lágrimas já haviam secado. Eu podia disfarçar com uma bela cara de sono. Quem não sabia disfarçar de jeito nenhum era dona Fernanda, que mal entrou no quarto e já começou a chorar também.
Ela foi forte, considerando que o aniversário do meu pai teria sido ontem, não hoje.
Ao me dar conta da fragilidade da minha mãe, eu me senti tão, mas tão pequena.
Deus... Ela havia perdido o amor de sua vida muitos anos antes do esperado. Ela tinha o perdido de verdade, e pra sempre. Não era como eu e meu namoro que deu errado, nem como meus erros que contribuíram pra isso acontecer. Minha mãe não tinha feito nada de errado e mesmo assim era a pessoa que mais sofria pela perda, porque também tentava ser forte por mim.
Então eu corri pra abraçá-la.
— Você não precisa fingir pra mim, mãe. Pode contar comigo.
— Não estou triste. — ela interferiu, debulhada em lágrimas, e sorriu. — Estou grata. Tenho você. Tenho uma parte do seu pai bem viva na minha frente.
Eu não consegui dizer mais nada.
Naquele dia visitamos seu túmulo e eu deixei ali um belo girassol que uma pessoa especial havia me dado.
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Um Conto Não Depressivo Sobre Depressão
Короткий рассказElisa Bonifácio é uma universitária como qualquer outra que você pode acabar encontrando na rua: não é a melhor da classe, mas tem sonhos e aspirações. Algo sobre seu sorriso contido e frases inteligentes pode acabar te atraindo, porém dificilmente...