☼ ☽ Número Sete ☽☼

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Sempre tentei criar apreço pelas segundas feiras.

Pensei, então, que a melhor maneira seria encontrando um bom lugar pra passar o tempo e sempre visitá-lo quando acordasse desgostando desse dia em especial. Um Antiquário, lá nos cafundós de São Paulo. Tinha uma padaria aconchegante na mesma rua, então meu dia começava lá com pão de queijo e café com leite.

Todo mundo precisa de um lugar favorito no mundo.

Deixei minha bebida fria pra trás, arrumando meu cachecol e saindo da padaria. Bastaram poucos passos pra eu chegar na lojinha rústica e perceber que, por alguma estranha razão, Lucas George não havia me mandado uma mensagem de bom dia.

E a razão se explicou bem ali na entrada do antiquário, com a figura do meio gringo segurando um girassol em mãos.

Arqueei ambas as sobrancelhas, cruzando os braços.

— Estou esperando.

— O quê? — Lucas perguntou, abrindo um leve sorriso.

— Meu bom dia. Você acha que é assim? É meu amigo por três semanas e já pode esquecer de me mandar mensagens?

— Eu quis ser o cara que todas as garotas querem namorar.

— Então é justamente o tipo de cara que eu não gosto muito. — ponderei.

Ele assentiu, caminhando até mais perto de mim. Não fui muito boa em disfarçar o sorriso que surgiu em mim ao perceber que ele estava mesmo ali.

— E pra quem eu vou dar esse girassol agora? — fez menção de quem estava desolado.

Eu sorri e aceitei a flor, observando-a com cuidado. Era pequena, com um vasinho preto revelando que seria minha tarefa cuidar para que crescesse.

A minha sorte é que minha mãe tem um jardim em casa.

— Então, eu vim fazer um convite. — Lucas George parecia quase tímido, se não fosse pelo sorriso radiante que ia e vinha de seu rosto.

— E como soube que eu estaria aqui?

— Tudo que você fez ontem foi me xingar, então eu imaginei que seu humor não melhoraria em vinte quatro horas. Um mais um é dois...

— Você é um grande matemático. — brinquei, recebendo uma cara feia dele em resposta. — Vou parar de te interromper. Pode me chamar pra sair agora.

— É tão óbvio assim?

— Você é o típico cara daqueles filmes... e você sabe de que filmes eu estou falando. — dei uma piscadela.

A lateral dos lábios dele se repuxou no início de um sorriso, então ele proferiu melodicamente:

— Nós vamos ter um encontro. Num restaurante bonito, com luz baixa, de um jeito que vai fazer você se sentir num desses filmes e não vai odiar. Juro. Vai ser ótimo e eu vou te dar um beijo de boa noite, e a partir daí nosso romance vai começar.

Pendi a cabeça um pouco para o lado, instigada pela situação.

— E então, aceita? — Lucas delicadamente colocou a mão na minha bochecha.

Eu fiz melhor do que dizer sim. Eu dei um passo até ficar próxima dele, erguendo meus pés para deixar um cálido beijo na lateral de seu rosto.

— Sai daqui antes que eu mude de ideia. — avisei no ouvido dele.

Ouvi sua risada antes de me ver sozinha novamente.

E fácil assim eu voltei a apreciar segundas.

Um Conto Não Depressivo Sobre DepressãoOnde histórias criam vida. Descubra agora