☼ ☽ Número Seis ☽☼

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— Tudo bem pra você mesmo? — minha mãe perguntou pela milésima vez.

Yes. — respondi, concentrada no episódio de Vikings. Dona Fernanda podia ir até a China que eu não ligaria, já que Ragnar conseguia me prender com essas lutas em que ele quase morre e aí não morre. Pois é.

— Você podia chamar algum amigo pra vir aqui e ficar com você. Eu provavelmente vou demorar.

Pausei o episódio, decidindo acalmar minha mãe.

— Você chega antes da uma da manhã, fica tranquila. Eu tenho uma temporada inteira pra ver e muita pipoca pra comer. Tô de férias, mãe!

— Não gosto de te deixar sozinha. — ela insistiu, preocupada.

— Não tem nada de mais em me deixar sozinha. Eu tenho dezenove anos. — sorri torto pra ela, que balançou a cabeça ao rir.

— Você é um bebê ainda. Vai ter que lidar com isso até os trinta, porque aí será uma adolescente pra mim.

— Meu Deus do céu, mãe! — eu ri. — Vai pro seu encontro de amigas, vai!

— Tudo bem, eu vou! — ela apanhou a bolsa, se olhando uma vez no espelho antes de se direcionar à porta. Eu assisti todo o caminho da mulher dos cabelos mais hidratados do mundo, vide minha mãe. — Fica com Deus. Tem dinheiro no balcão, caso você queira pedir comida. Qualquer coisa me liga, Elisa! Eu tô falando sério!

— Tá bom!! — falei entre risos.

— Te amo!

— Também te amo!

E me vi sozinha.

Vikings, uma vez pausado, não me instigou o suficiente para continuar a assistir.

Me senti vazia, pra variar.

Então meu celular vibrou.

Lucas George: Eu poderia te mandar uma mensagem clichê dizendo "estou pensando em você agora", né?

Lucas George: Em vez disso, fique com inveja do churros enorme que estou comendo. Com muito amendoim. Beijão.

Revirei os olhos, mas acabei rindo. Era um churro enorme e atrativo, e eu estava com fome. Injusto demais.

Elisa: Vai se ferrar, ow

Eu não pude pensar em palavrões mais criativos porque a campainha tocou. Imaginei que fosse minha mãe, que talvez ela tivesse esquecido alguma coisa, então só gritei mesmo:

— Tá aberta!

A porta se abriu e eu preguiçosamente olhei na direção da entrada.

— E se fosse um bandido?

Kauê.

Kauê vestindo alguma camisa de game e sendo o meu amigo chato que nunca avisa quando vem em casa, já me pegando em momentos constrangedores com Mateus. Ele adora lembrar disso, aliás.

— O que cê tá fazendo aqui? — perguntei, confusa.

— Sua mãe disse que ia sair, aí eu pensei em te fazer companhia.

— Como se você não morasse em outra cidade. — ironizei, me obrigando a sentar no sofá que nem mocinha. Ele se jogou ao meu lado, concordando. — E desde quando você mantém contato com a minha mãe?

Ele pensou por um momento antes de falar, e eu soube que era mentira.

— Seu ex-namorado me passou o número dela há algum tempo.

Um Conto Não Depressivo Sobre DepressãoOnde histórias criam vida. Descubra agora