☼ ☽ Número Oito ☽☼

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Eu gostaria de avisar, de antemão, que vou usar o exemplo mais contraditório que poderia usar.

Infelizmente, encontros dependem muito das expectativas. Não do jeito positivo, eu receio. Sempre que tenho expectativas para alguma coisa eu acabo me decepcionando, e como eu sou Elisa e o Universo é o Universo, ainda tem uma caprichada bem dramática pra estragar completamente o meu dia.

Por isso, naquela já horrível sexta-feira, eu me sentia cagada de medo.

Eu estava muito ansiosa, mais que o normal, e também estava sensível, conforme os parágrafos anteriores podem provar.

Eu sentia que hoje seria definido o pé em que estou com o Lucas, apesar de não querer descobrir porque era um pé muito bacana e eu não queria estragar as coisas.

Talvez ele percebesse que na verdade eu sou muito chata e não sirvo pra ser um par romântico. Talvez eu arrotasse sem querer. Na pior das hipóteses, eu quebraria o dedo dele.

Isso. Exatamente, Elisa. Pense assim.

Não pense que ele é um cara maravilhoso e divertido que gosta de conversar dos mesmos assuntos que você, nem que a química entre vocês é absurda e que, cara, aquele beijo tinha sido muito bom pra não ter replay. Não pense que ele vai aparecer com alguma frase clichê porém fofa e vocês vão ter a melhor noite do resto de suas vidas.

Expectativas são perigosas.

Eu abri a porta de casa, me dando de cara com um homem de jeans e camisa social que era gostoso para um caramba. E a roupa dele estava combinando com meu vestido despojado.

— Você devia ser bonito assim? — eu perguntei, fazendo careta.

— Disseram pra eu tentar me equiparar a você, então eu fiz um esforço. — ele explicou, abrindo um sorriso.

Eu sorri de volta, aceitando a mão que ele estendia para mim.

É, a noite ia ser maravilhosa.

...

Exceto pelo fato de que não foi.

Bendita, bendita sexta feira.

Eu tinha acordado chorando. Eu devia ter cancelado esse encontro. Qualquer dia que você começa no chororô provavelmente vai ser ruim. Eu não devia ter criado expectativas.

Não me leve a mal, antes de mais nada. Lucas e eu tivemos uma das noites mais engraçadas e gostosas de toda a nossa vida, disso eu sei. Foi muito vinho e muito docinho de chocolate, e todo mundo sabe que eu adoro chocolate. Fora as luzes da cidade, tão brilhantes que eu me sentia no auge do clichê hollywoodiano. Poderíamos nos tornar um casal e seríamos muito fofos juntos.

Uma parte de mim ficou muxoxa quando no meio do jantar ele mencionou a irmã mais nova dele e eu percebi que nem sabia que ele tinha uma irmã mais nova. Eu também não sabia sobre seus pais, sua decisão de permanecer no Brasil apesar de toda a família estar em outro país, a cor favorita, ou mesmo se ele preferia vinho ou era um cara da cerveja. Fiquei tão envergonhada com isso. É óbvio que eu monopolizei toda a nossa relação e não me esforcei para abrir uma brecha que fosse para que ele falasse e se apresentasse.

Pedi desculpas exatas seis vezes antes dele me pedir educadamente para calar a boca.

Foi quando ele disse: "Meu nome é Lucas. Minha irmã se chama Lana e tem quinze anos, o que significa que ela está começando a enxergar os garotos como só adolescentes conseguem. Meus pais são engenheiros e gostam da vida no subúrbio que levam. Minha cor favorita é azul. Você já sabe que minha bebida favorita é Jurupinga, esse é nosso melhor segredo. Eu gosto de cidades grandes e de caos. Eu gosto de tudo que me faça ser mais ousado do que eu seria em contextos normais. Isso inclui ter iniciado essa aventura que é conhecer você. Não peça perdão por me imergir na experiência com tanto afinco, pois eu quis isso. Agora, se você insiste mesmo, posso contar qualquer coisa que você perguntar, até aquelas coisas constrangedoras que eu normalmente evitaria.

Estreitei os olhos para ele, uma vontade de sorrir fazendo minhas bochechas doerem, então eu disse:

"Já se masturbou pensando em mim?"

Lucas ficou vermelho, e a noite só melhorou depois disso. Senti como se finalmente estivesse o enxergando, conhecendo-o tanto quanto ele fez comigo durante todo esse tempo.

Só que aí veio a hora da despedida e nós estávamos frente a frente.

Ah, o famigerado primeiro encontro.

E foi tão, tão bom.

Mas, no fim, eu não queria um beijo de boa noite. Eu só queria um abraço.

Eu só queria um amigo.

Um Conto Não Depressivo Sobre DepressãoOnde histórias criam vida. Descubra agora