☼ ☽ Número Três ☽☼

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— FESTA, BABY!

Entrei no carro com uma animação que não cabia em mim.

CARAI! — Kauê gritou de volta, com berros ininteligíveis de Daniel e Larissa também prejudicando meus ouvidos.

Para contexto, Daniel é o tal do Antônio na minha história sem nomes verdadeiros. Ele é um dos amigos mais antigos que eu tenho, o único que nunca duvidou da minha palavra, então: Daniel é foda. Rei do mundo. Pérola enclausurada numa ostra. Perfeito. Nunca errou e jamais errará (exceto na hora de escolher namorados, aí ele erra muito).

— Por que eu tenho que ir atrás? — reclamei de repente. — Dani, tira o Kauê daí!

— Eu tô controlando as músicas do som, caso contrário a gente só vai ouvir Nirvana e ficar triste antes mesmo de começar os PTs. — Kauê se defendeu.

— É melhor preservar as bads pra hora certa. — Larissa concordou, recebendo o apoio bônus de Daniel.

Ah, a Larissa. Ela não é bem minha amiga porque, na verdade, não gosta de mim. Tem essa nóia idiota de que o Kauê pode se apaixonar por mim e abandoná-la, o que não faz nenhum sentido porque eu sou praticamente a ex cunhada dele, que é irmão de consideração do meu ex namorado. Então, coitada da Larissa. Vai ter que me engolir.

Kauê me chamou em voz baixa, contrastando com a música no último volume no carro, o que significava que era apenas para eu ouvir o que ele ia dizer. Eu logo previ qual seria o assunto, então virei uma golada de tequila antes de precisar torturar meus tímpanos.

— Mateus me contou da semana passada.

Eu apoiei uma mão no banco do passageiro, me aproximando dele.

— Pois você fale pra ele nunca mais fazer isso.

— Ele se importa com você, Elisa. — Kauê disse.

— Eu sei. E eu me importo com ele. É por isso que devemos manter distância um do outro. — eu estava falando alto demais no ouvido dele, mas era a melhor forma de fazê-lo me entender.

— Ele disse que você parecia mal só de estar falando com ele.

— Eu fiquei mal. Eu fiquei abalada.

— Elisa...

— Eu não quero falar sobre isso.

Me afastei de vez, encerrando o assunto. Gritei um ou dois versos de um funk pra ele entender que era o fim da conversa de verdade.

Nós atravessamos duas cidades (Carapicuíba e Osasco) até chegar no Butantã, onde os pseudo ricos Júlio e Lucas George moravam. Onde, se querem saber, eu tive uma das melhores noites da minha vida há algumas semanas.

Como acompanhante exclusiva de um dos anfitriões da festa, nós pudemos estacionar o carro no prédio e evitar, sei lá, um roubo.

Lucas nos esperava no elevador do subsolo com uma sacola na mão.

— Antes que a gente dê um beijinho e eles nos casem, deixa eu apresentar a Larissa, que é a namorada do aparentemente assexuado Kauê. — avisei, risonha. — Larissa, esse é o meu crush meio gringo claramente gostoso: Lucas.

Todo mundo se cumprimentou e se espremeu no elevador, com conversas paralelas e empolgadas.

— Isso é pra você. — Lucas George deixou a sacola que carregava em minhas mãos. — Mas é pra mim também.

— Calcinha comestível?

— Quantas doses de tequila você já tomou? — ele franziu o cenho.

— Duas, ou três. Tinha um restinho e a gente acabou com ele no carro. — expliquei. — O Daniel tá dirigindo, mas a gente não pretende sair daqui até vocês nos expulsarem, então eu deixei ele beber também.

— Eu posso até expulsar eles, mas você definitivamente não. — Lucas deu um sorriso. — Agora abre a sacola.

Mas aí o elevador parou no nono andar.

— Vão indo, já tá lotado. Se querem dicas pra pegar as melhores bebidas...

Eu me encostei numa parede do corredor enquanto observava Lucas George dando dicas aos meus amigos, que provavelmente se tornariam amigos dele também. Acabei sorrindo com isso. Ele estava mesmo na minha vida e isso era uma coisa boa, mesmo depois de tanta merda que tinha acontecido comigo. As pessoas podem voltar a ser feliz, aparentemente.

E dias sem álcool no sangue me tornaram fraca pra tequila, aparentemente.

— Eu sinto que já estou bêbada. — avisei, assustada.

Ele se virou pra mim e arqueou uma sobrancelha. Estava tão lindo numa camisa preta, mesmo com aquela calça bege de sarja que eu não conseguia gostar de jeito nenhum.

— Você tem bunda sim. — ele observou, aleatório.

— Quê?

— Essa saia colada ao seu corpo te entrega. Que bunda, hein.

— Eu estou de frente pra você. — afirmei, confusa.

— O que você acha que eu fiquei olhando quando abracei a Larissa lá embaixo?

Eu sorri, negando com a cabeça.

— O que eu quis dizer é que você está linda. E definitivamente não parece uma garota de treze anos. Pelo menos não hoje.

Eu estendi uma mão, pedindo que ele se aproximasse. Eu gostava muito do perfume dele, apesar de ser doce. Era envolvente e meio que se encaixava com a sua personalidade: forte, mas doce. E inofensivo. E gostoso.

— Você pode me trancar no seu quarto hoje. — eu admiti, séria. — É só não se esquecer de levar uma Jurupinga, água e finis pra lá. A gente fica a noite inteira junto sem problemas.

Lucas George abriu um sorriso convencido.

— O que você acha que tem na sacola?

Eu abri a boca pra falar qualquer coisa, mas decidi apenas conferir o conteúdo. A garrafa de Jurupinga amarrada em um lacinho rosa era resposta suficiente.

— É por isso que eu vou me apaixonar por você. — sorri, com nossos rostos próximos o suficiente para os nossos lábios se beijarem.

Mas Lucas encostou nossas testas, focando o olhar no meu da maneira mais intensa que pudesse. Senti um sorriso enorme surgir na boca dele, e alguma parte de mim ficou muito feliz com aquele momento simples.

Um Conto Não Depressivo Sobre DepressãoOnde histórias criam vida. Descubra agora