Dinder: The other side of life

Nightmare

28 de Junho

"Ele sumiu. Sumiu...
Ele me abandonou, me deixou sozinha, ok! Eu tenho as meninas, mas ele fazia parte de mim, eu o amo, neste momento a única pessoa que eu quero ao meu lado é ele. Porém ele sumiu. Ele me esqueceu.
Assim como muitas outras pessoas ele também não me ama... Já você está aqui comigo, sem pedir nada em troca, eu te amo tanto, mais do que tudo, mais do que amo ele..."

P.O.V Lilith

Já estamos praticamente de férias, esta é a última semana de aula, a semana mais corrida do semestre para todos, desde professores, direção e alunos. E ele desapareceu da escola, sim, o Rennie desapareceu, não o vejo desde que ele saiu do apartamento das meninas. Sinto falta do perfume forte e sedutor que ele costumava usar, dos beijos quentes e inesquecíveis que somente ele tem, do toque. Hoje faltei a aula, não estava me sentindo muito bem, desde que meu pai me expulsou de casa não tive notícias da minha mãe, minhas irmãs não respondem as mensagens que eu mando, sinto que fui esquecida novamente.

Me levantei e fiz minhas higienes pessoais, coloquei uma calça folgada e bem levinha, uma blusa com mangas longas e um tênis velho, prendendo minhas madeixas em um coque perfeitamente bagunçado, as meninas viajaram tem três dias, não fui com elas por razões óbvias, meus pais não autorizaram.  Arrumei meu quarto, lavei a louça e passei pano na casa, não sou muito boa com limpeza e organização, mas quando começo deixo tudo bem feito. Meu celular toca, um número desconhecido. Será que atendo?

• Ligação on •

— Alô! - digo de início.

— Bom dia! Eu gostaria de falar com algum parente da Senhorita Débora Montenegro... - não reconheço a voz, mas percebo que a pessoa está nervosa.

— Eu sou irmã dela. Quem está falando? - respondo tensa.

— Desculpa, eu me chamo Lucas. Bom, sua irmã sofreu um acidente muito grave de carro, eu estava passando no momento e presenciei todo o ocorrido, com ela havia uma outra mulher e uma criança, chamei uma ambulância e enquanto eles não chegavam tentei retirar as três de dentro do veículo, mas não obtive sucesso. Sua irmã era a única que estava acordada e consciente, porém sangrava muito. - Ele falou tão rápido que por um instante pensei que fosse mentira, meu coração se apertou, eu só posso estar sonhando, esse tal de Lucas está mentindo com certeza.

— Por favor moço, me diz que é mentira, que isso é uma brincadeira de muito mal gosto. - digo entre soluços, não consigo me controlar. - Como elas estão? Como você conseguiu meu número?

— Durante o resgate sua irmã me chamou e pediu para que eu ligasse para este número, ela me disse que somente você podia vir ajudar ela e as outras duas vítimas, mas infelizmente a outra moça que estava no veículo morreu no momento do acidente, a bebê morreu sufocada com o próprio sangue minutos após o ocorrido, já Débora... - ele para de falar, percebo que ele está chorando.

— Nãoooo, minha irmã e minha sobrinha não, por favor me diz que é mentira, por favor moço. - elas não podem ter morrido, minha sobrinha tão pequenina, minha irmã tão jovem, elas não morreram, ele está mentindo, isso, ele está mentindo. - O que aconteceu com a Débora, ela está bem? Onde ela está?

— Moça por favor se acalme, eu entendo seu desespero, mas já aconteceu o pior, não podemos fazer nada. - como eu posso me acalmar, acabo de receber a notícia mais devastadora da minha vida.

— CADÊ A DÉBORA? ELA ESTA BEM? - digo gritando.

— Ela foi levada para o hospital, mas... - ele suspira. - Mas não resistiu, os médicos tentaram de tudo, ela chamava por vários nomes, porém o que Débora mais repetia era "Lilith, eu e as meninas te amamos, nos perdoe minha irmã, mamãe e papai irão precisar de você neste momento. Lucas, Lucas, diga a minha família que eu os amo por favor."... Os corpos serão enviados para São Paulo amanhã, se você for a Lilith, diga estas palavras para sua família, ela morreu após pronúncia-las pela décima vez. Estou muito abalado, estive do lado dela todo o momento. Orem pelas almas delas, porque foram momentos dolorosos e sofridos para todas as vítimas. - assim como eu, ele também estava chorando, me doeu saber que as últimas palavras da minha irmã foram para mim.

— Muito obrigada por ter ficado ao lado da minha irmã, eu preciso avisar meus pais agora... - não consigo continuar o telefonema.

• Ligação off •

Minha mãe não parava de chorar, pela primeira vez meu pai chorou pelos anos de dor e sofrimento que ele proporcionou para minhas irmãs, ele chorava como alguém que havia perdido o rumo. Meu pai me olhou com o semblante mais deprimido de todos e me abraçou, porém não por muito tempo, de repente ele me soltou e...

— A culpa é toda sua, você às matou, se não fosse pela tua falta de respeito comigo elas não teriam vindo sozinhas e muito menos morrido. - não suportei tais palavras, sai correndo sem destino, as lágrimas desciam sem qualquer controle, neste momento estou destruída, perdi minhas irmãs e minha amada sobrinha, mas o pior é que meu pai está certo, elas morreram por minha culpa...

5 meses depois

Daqui um mês terminará às aulas, não aguento mais a escola, porém ainda me resta dois anos neste inferno. Não vejo meus pais desde a morte das minhas irmãs e da minha sobrinha, e não sinto falta deles, o Rennie me deixou, nem mesmo os amigos dele sabem o que aconteceu com o mesmo, a Alasca está namorando com um tal de Gabriel, gosto dele, nos tornamos amigos, porém ele só fala comigo quando a Alasca não está perto, não sei qual o motivo, mas ok, a Aline voltou pra Madrid, sim ela é de lá, a Alasca também é, mas ao contrário da Aline, ela veio com três anos e foi naturalizada aqui no Brasil.

As duas querem abrir uma agência de publicidade e um escritório de arquitetura assim que terminarem a faculdade, já eu só quero me encontrar no mundo, preciso me encaixar em algo. Dois anos atrás eu queria trabalhar na NASA, mas essa vontade já passou, eu sinto que sou um  parasita perdido.

Faltei as aulas durante toda a semana e já que hoje é sábado eu quero curtir, um amigo do Gabriel me chamou pra ir na mesma boate onde fui meses atrás, aceitei por educação, mas agora eu quero ir para rachar o coco, vou beber como se não houvesse um amanhã.

Neste exato momento são 16:37hrs e o Alessandro disse que iria passar aqui as 20:00hrs, tenho que me banhar, secar meu cabelo, que mesmo curto da trabalho, fazer uma depilação magérrima, porque nunca se sabe... Ainda sou virgem, mas com o fogo que eu tô meu lacre ficará lá na boate mesmo. Sempre que lembro que irei nesta boate vejo o Renan na minha frente.