Deitado na cama, várias coisas vieram à mente de Miguel, principalmente questionamentos como o significado da vida durante os seus dezenove anos, sem Elis continuar vivendo não tinha sentido nenhum. Por isso, levantou-se ainda mancando, a casa era próxima de um precipício, Miguel foi andando tirando os panos dos ferimentos e deixando pelo caminho. Ao chegar junto a última pedra abriu os braços, fechou os olhos e respirou fundo, porém um grito pode ser ouvido o interrompendo. Ao mesmo tempo Arthur notou que o irmão havia fugido e seguiu os tecidos ensanguentados temendo o pior.
— Meu jovem! Você me assustou, ainda bem que cheguei a tempo, não se pode tirar a vida. Exclamou a mulher se aproximando de Miguel.
O rapaz não deu uma única palavra, apenas algumas lágrimas escorriam pelo rosto. Então, a mulher que estava encapuzada colocou a mão em seu coração e mostrou o rosto. Miguel sentiu algo estranho como a conhecesse de alguém lugar, foi ai que lembrou daquela bruxa cujo pai prendeu há dois anos.
— Espere! A conheço de algum lugar. Não, você a bruxa que meu pai condenou, como está livre? Indagou Miguel assustado.
— Eu prometi que me vingaria de todos os Ulric nesta terra, estou aqui para cumprir. Pagarão por seus pecados. Refutou a bruxa rindo alto.
Ainda com a mão sobre o peito de Miguel, a mulher começou a falar: "por meu ódio, pelo sangue derramado da jovem moça, pela ganância dos seus, os condeno a vida eterna, verão todos que amam morrerem e continuaram vivos". Enquanto a mulher conjurava o feitiço o rapaz gritava de dor, mas não somente o mesmo a sentia Arthur caiu sentindo uma dor imensa no peito, Heitor no castelo sentia o mesmo. Quando tudo acabou uma marca negra surgiu em cima do coração de Miguel com linhas semelhantes a raízes indo até o ombro esquerdo.
— Não pense que é apenas isso, a partir deste dia ganharam maldições. A primeira semana de cada mês transformaram-se em monstros sanguinários e durante um dia do ano assumirão suas formas monstruosas aleatoriamente. Entretanto, vamos testar sua imortalidade. Falou a mulher empurrando Miguel do precipício.
O corpo do jovem de olhos azuis caiu sobre pedras a mais ou menos 30 metros de altura, suas pernas foram quebradas o crânio rompeu-se, saía sangue pelos olhos, boca e ouvidos. Arthur chegou cambaleando sem entender o que havia acontecido, quando caminhou até o precipício e avistou o irmão. O susto foi tão grande que o mesmo colocou as mãos nos olhos começando a chorar, porém uma voz chegou aos seus ouvidos.
— Irmão, é você que está ai? Perguntou Miguel encharcado de sangue e com os ferimentos curando-se instantaneamente.
— O que! Como sobreviveu a isso? Indagou Arthur assustado com o que via.
— Ache um jeito de me tirar daqui e explicarei tudo. Refutou Miguel.
Arthur amarrou uma corda na árvore mais próxima, assim, o irmão mais novo conseguiu sair de onde estava. De volta a casa Miguel contou tudo que a bruxa fez e mostrou à marca, Arthur ficou desacreditado apesar de ter sentido uma dor imensa. Entretanto, para provar o que dizia o jovem pegou algo pontiagudo e enfiou em seu estômago.
— Está maluco? Como pode fazer isso? Exclamou Arthur temendo pelo irmão.
— Já curou, estou bem! O único problema é que você não deixa de sentir dor, mas nada que possa sentir em externo machucará mais que minha cicatriz interior. Afirmou Miguel desanimado.
— Meu Deus! Será que Heitor está assim também devemos procurá-lo. Disse Arthur assustado.
Assim como Arthur sugeriu os dois irmãos voltou ao castelo onde estava Heitor despenteado e com as mesmas roupas. Mesmo notando algo errado no Suncerano Miguel contou toda história novamente com riqueza de detalhes em seguida mostrou a marca no peito. O jovem demonstrou cortando-se como havia feito anteriormente, fazendo o irmão mais velho levantar da cadeira na hora assustado.
— O que faremos agora? Seremos aberrações que nem imaginamos e ainda viveremos eternamente. Mas, bem que eu mereço tudo isso. Falou Heitor preocupado.
— Na marca que Miguel carrega no peito diz bem assim: "A abdicação pela lágrima de sangue em prol do amor verdadeiro findará tudo". É uma esperança, temos como quebrar o feitiço. Respaldou Arthur com um fio de esperança.
— Onde colocou o seu cérebro! Aquela bruxa nos odeia acha que faria algo fácil? Amor verdadeiro, estamos perdidos o único que amou verdadeiramente foi o Miguel e infelizmente matei a sua amada. Nem eu tão pouco você ama ninguém. Refutou Heitor acabando com a esperança de todos.
— Lembrou-me bem! Você matou Elis, acabou com a minha vida de que me adianta ter a eternidade? Vou precisar de muito tempo e ainda assim não sei se o perdoarei. Falou Miguel deixando algumas lágrimas caírem.
— Se deseja odiar, então, terá que fazer isso com o Arthur também. O mesmo traiu você nunca parou para pensar o porquê de ter descoberto sua fuga? Ele me mandou uma carta ti entregando, tudo pela ganância de ser Suncerano em meu lugar, queria que me matasse. Afirmou Heitor em tom de deboche.
— Não dê ouvidos a este desgraçado meu irmão. Perdão, não foi bem assim que tudo aconteceu. Disse Arthur entristecido.
As palavras de Heitor mergulharam até a alma de Miguel, pois do irmão mais velho esperava qualquer coisa, menos de Arthur que sempre foi seu companheiro e confidente. A ferida da decepção tomou conta do rapaz, por mais que Arthur tentasse explicar nada adiantaria. Os dois irmãos havia o traído da maneira mais vil. Então, Miguel retirou-se da sala e caminhou até a janela sem dá uma única palavra. O sol batia em seu rosto a saudade do pai e da mãe apareceu, foi ai que o jovem respirou fundo e chorou como criança.
— Te prometo Elis nunca a esquecerei, séculos passaram e o meu amor ainda viverá. Exclamou Miguel olhando para o céu e partindo do castelo sem rumo algum.
Após a partida do irmão mais novo Arthur pegou o cavalo e foi embora sem destino. Heitor continuou em sua cadeira rodeado pela total solidão. Um destino cruel e eterno esperava pelos irmãos que nem imaginavam o quão dolorido é o tempo, pois o mesmo pode erguer, mas também destruir.
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Lágrimas da Fera
RomanceHavor Land era uma cidade inglesa do interior bastante conhecida pela sua forma de governo organizado, pois os Sunceranos tinham todo o poder e governavam estabelecendo suas próprias regras. Dessa forma, Havia três grandes nomes Salazar Ulric, Georg...