A vida de Miguel se desfez em um dia, perdeu Elis, foi traído pelos irmãos e ainda por cima ganhou uma terrível maldição. O jovem já não tinha mais alegria de viver, vagava pelas florestas sem destino, três semanas havia se passado do ocorrido. Os Ulric estavam realmente separados pelo rancor e decepção.
O primeiro dia do mês chegou Miguel não notou a passagem do tempo, enquanto Heitor trancou-se no calabouço para conter a besta que provavelmente vinha a surgir. Arthur dirigiu-se para o local mais isolado, o temor de não saber o que virá assolava os irmãos.
O anoitecer chegou os últimos raios solares davam adeus à luz e chamavam a escuridão. O jovem de olhos azuis sentiu uma fisgada no peito, repentinamente seus ossos começaram a deslocarem-se, o fazendo cair de tanta dor, as presas cresciam na boca e o corpo encheu de pelos, tudo ia mudando lentamente enquanto Miguel debatia-se. No castelo Ulric Heitor passava pelo mesmo, sua pele estava ficando acinzentada lentamente, os dentes ficaram todos pontiagudos e algo queria sair pelas suas costas rasgando a pele. Já Arthur garras cresciam, seus ossos desarticulavam-se, a arcada dentária crescia e o corpo enchia de pelos.
A fera surgiu Miguel tornou-se um lobo feroz de quase dois metros, a pelagem toda negra, presas e garras afiadas, a única coisa que restava de si era o azul da cor dos olhos. Arthur virou um lobisomem enorme de cor marrom. Heitor adquiriu pele cinza e assas saíram em suas costas o mesmo agora era um vampiro. Aquela noite parecia não ter fim, os irmãos destruíam tudo que via pela frente até que o primeiro raiar de sol os trouxe a normalidade, mas a transformação foi tão exaustiva que ambos ficaram desacordados. Algumas horas se passaram os irmãos acordaram cheios de dor e completamente despidos. Então, Heitor afirmou ainda cambaleando:
— Ai meu deus, quase que o calabouço não suportou. O que farei esta noite para esconder este monstro?
Aquele tormento se alongou durante as noites dos sete dias da semana. O sétimo e último dia passou, Miguel havia sido encontrado em lugar muito distante por moradores de uma pequena aldeia. Os aldeões o vestiram e cuidaram dele até acordar, quando Miguel abriu os olhos estava em uma cama feita de palha a sua frente estava um homem branco barbudo e uma jovem de olhos castanhos e cabelos longos.
— Que bom você acordou! Pai o rapaz que achou abriu os olhos! Exclamou a moça alegremente chamando o pai.
— Onde estou? Perguntou Miguel levantando com muitas dores por todo o corpo.
— Não faça esforço garoto, descanse mais um pouco. Você está em uma pequena aldeia na Floresta de Ashdown. Chamo-me Baltazar e essa é minha filha Calisto. Disse o homem gentil.
— Meu nome é Miguel, agradeço pela ajuda de vocês, mas já estou bem. Falou o jovem de cabelo ondulado levantando rapidamente.
O homem assustou-se, pois há alguns minutos Miguel estava em situação deplorável, agora encontrava-se completamente bem em um passe de mágica. Aquelo foi bastante estranho. O rapaz percebendo a feição de surpresa do homem e explicou sabiamente:
— Não me aconteceu nada, só andei por muito tempo e cabei perdendo os sentidos.
— Mas, o jovem estava completamente despido, como isso aconteceu? Perguntou Baltazar intrigado.
— Bom... É que... Na verdade... Eu não me lembro de nada, só de está caminhando sem rumo.
Miguel passou o dia sendo apresentado a cada morador da aldeia, todos eram pessoas humildes, mas bastante acolhedores em poucas horas já o consideravam como membro, já no final da tarde estava fazendo frio. Então, acenderam uma fogueira e ficaram conversando amigavelmente. Nunca em toda a sua vida Miguel se sentiu tão acolhido e parte de algo, depois da decepção com os irmãos aquele lugar o fazia bem.
— Ai, alguma coisa me mordeu. Exclamou Calisto olhando para trás a procura do bicho.
— Não, aquela cobra! Ninguém mordido por ela sobreviveu. Falaram os aldeões mutuamente assustados.
A pobre Calisto correu até os braços do pai e começou a chorar, pois sabia que iria morrer. O homem abraçou a filha, deixando lágrimas correrem, mas já se preparando para o pior. O jovem ficou assustado com a normalidade das pessoas perante a morte de alguém querido, andou até moça e puxou a sua perna dizendo:
— Posso tentar salva-la da morte.
O jovem de olhos azuis rasgou um pedaço de pano da camisa e amarrou acima da panturrilha bem apertado, depois pediu algo cortante o pai foi à busca rapidamente sem questionar. Miguel olhou para Calisto e disse para que fosse forte, em seguida cortou em cima da mordida a garota gritou enquanto o sangue escorria, depois o rapaz começou a tirar o veneno sugando com boca e cuspindo.
—Pronto, ela vai ficar bem, podem ficar tranquilos. Terá que ficar de repouso por dois dias. Disse Miguel deixando todos surpresos.
— Mas... Como você sabia disso meu jovem, é confiável mesmo? E você não se envenenou também? Perguntou Baltazar.
— Não mesmo retirei com cuidado, leve-a para casa que irei à procura de uma erva para amenizar febre, provavelmente essa noite não será muito boa para Calisto. Respondeu Miguel entrando na floresta.
As palavras de Baltazar estavam certas a quantidade de veneno foi grande de mais para não ingeri-lo, porém não era preocupação de Miguel já que não morreria. No entanto, o mesmo começou a ficar tonto, uma dor insuportável tomou conta do seu corpo o fazendo cair, demorou alguns minutos para ficar curado totalmente.
— Meu deus, que veneno terrível, realmente isso mata sem piedade. Respaldou Miguel voltando para a aldeia com a erva.
Como havia tido Calisto já estava suando e com bastante frio. Por isso, Miguel fez rapidamente uma ebulição com a erva. Durante toda a noite cuidou da moça dando o chá a aquecendo com cobertores, a acalmando, colocando panos úmidos. Quando amanheceu Calisto estava muito melhor, o seu rosto já estava mais corado o que deixou Baltazar bastante feliz ao ver a filha melhorando rapidamente.
— Nunca o pagarei por salvar a minha filha, serei sempre grato. Mas, você não respondeu a minha pergunta de ontem, como aprendeu fazer isso? Falou Baltazar.
— Desculpa por não tê-la ajudado mais, o veneno é muito forte retirei rápido, mas uma pequena quantidade entrou na corrente sanguínea. Na verdade fiz estudos medicinais dois anos na academia de Londres. Respondeu Miguel solenemente.
— Meu jovem a minha Calisto está viva é o que me importa. Londres já sonhei em um dia poder ir lá, não te questionarei de nada, quando se sentir a vontade para contar seus mistérios estarei a todo ouvidos. Indagou Baltazar indo até a cama da filha.
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Lágrimas da Fera
RomanceHavor Land era uma cidade inglesa do interior bastante conhecida pela sua forma de governo organizado, pois os Sunceranos tinham todo o poder e governavam estabelecendo suas próprias regras. Dessa forma, Havia três grandes nomes Salazar Ulric, Georg...