18. Vermelho

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"Ás vezes tem de doer como nunca, para não doer nunca mais"

Marcos Bulhões

Amelia e Avery estavam sentados em um banco próximo ao estacionamento do estádio Parc des Princes. A loira estava curiosa e o jogador ansioso e nervoso.

— O que você tem para me dizer de tão urgente? — Amelia perguntou dando um apertão de leve no ombro dele e encarando os olhos azuis do homem.

— Nós somos amigos há quanto tempo? — Avery questionou sério, mas com uma leve incerteza no tom de voz, como se soubesse que estava adentrando em um território perigoso e desconhecido.

— Acho que quatro anos — Amy respondeu com um sorriso leve. Não estava entendendo para onde aquilo estava caminhando, mas não estava exatamente preocupada. Sua curiosidade estava bem maior.

Avery assentiu e suspirou pesadamente.

— Eu não sei nada sobre você — ele confidenciou com pesar. — Quatro anos de amizade e às vezes sinto como se tudo isso fosse superficial.

Amelia deixou o sorriso morrer lentamente nos lábios e franziu levemente a testa. Não estava prevendo aquele tipo de afirmação. Pensou, por alguns segundos, que deveria ter escutado errado.

— Superficial? — Repetiu o adjetivo escolhido pelo amigo com certo amargor na voz. — Você acha que eu quase perco meu emprego por uma amizade superficial? É isso, Avery? É isso o que você pensa?

A jornalista não estava muito preocupada em segurar a própria raiva e percebeu que havia levantado um pouco a voz. Respirou profundamente e se afastou um pouco do amigo.

— Eu não quero dizer que você não se importa — Avery falou rapidamente e sentindo-se confuso momentaneamente. — Eu só quis dizer que não te conheço direito. Você sabe tudo sobre mim e sobre a minha família, sabe sobre meus amigos... Eu não sei nada sobre a sua vida pessoal.

Amelia sorriu, mas seus olhos não demonstravam a menor alegria. O sorriso era sarcástico, quase cruel, como se ela estivesse preparada para feri-lo sem dó e nem piedade.

— O meu pai é um cara muito engraçado. Ele sempre conta piadas nos almoços de domingo. Piadas infames, aquelas que deixam todos vermelhos de vergonha e de tanto rir — Amelia disse com seriedade, parecendo quase robótica. — Minha mãe cozinha divinamente. Ninguém faz uma comida tão boa quanto a dela — continuou com o mesmo sorriso cruel nos lábios. — Eu tenho irmãos e eles sempre me encheram o saco na adolescência por causa dos meus namoradinhos da escola, mas eu adoro eles. Nós implicamos muito uns com os outros.

Avery percebeu que o sorriso cruel continuava nos lábios, mas os olhos brilhavam com as lágrimas recém chegadas. Amelia era um misto de emoções que ele não conseguia desvendar ou entender.

— Eu te contaria tudo isso com o maior prazer, Avery — ela disse dura, fechando a expressão como se houvesse um muro entre eles. — E eu nunca contei porque seria mentira. Não tenho família e nunca tive. Sou órfã desde sempre. Minha infância foi inteira em um orfanato em Londres. Você só sabe fatos aleatórios da minha época da faculdade porque pra mim foi lá que eu comecei a ter uma vida de verdade.

O homem não sabia o que dizer. Não sabia se tinha algo que pudesse dizer para amenizar aquele sofrimento da amiga. Sua cabeça estava explodindo com as informações e seu coração estava quebrado por saber que Amelia tinha tido um começo difícil.

— Amelia... Eu...

A jornalista negou com a cabeça e suspirou pesadamente.

— Estou extremamente cansada. Acredito que você também — ela se levantou do banco e encarou o estacionamento com o coração acelerado.

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