22. Fuga

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Um dia, quando estava com dez anos, Amelia comeu um amendoim e teve um choque anafilático. Sua pele ficou vermelha, seus olhos incharam e sua garganta parecia fechada. Era difícil respirar. Descobriu da pior forma que era alérgica a amendoim.

Agora estava sentindo a mesma falta de ar de anos atrás, com a sutil diferença de não ser um choque anafilático, mas sim um choque de realidade.

A loira sentiu tudo ao redor girar e em sua mente ecoavam repetidamente as mesmas palavras:

Eu sou sua mãe.

Eu sou sua mãe.

Eu sou sua mãe.

— Amelia? — Ela ouviu a voz de Theo bem ao longe. Parecia que ele estava há quilômetros de distância.

A mulher deu dois passos para trás, pisando nos cacos do que um dia foi uma garrafa de champanhe. Com a respiração ruidosa e o peito subindo e descendo rapidamente, ela caminhou lentamente até a cozinha.

Tinha a sensação de estar fora do próprio corpo. Sentia-se como um astronauta pisando na lua. Cada passo parecia maior e mais descoordenado. Continuou caminhando lentamente até a cozinha. Se alguém havia chamado por ela, não escutou.

Só conseguia ouvir o barulho do próprio coração disparado.

Teria um ataque cardíaco?

Seu estômago estava revirado. Sua cabeça girava. Seu coração batia muito rápido e ela só conseguia enxergar o balcão da cozinha.

Utilizou o balcão como guia e assim que alcançou a pia, simplesmente deixou que todo o conteúdo estomacal saísse livremente.

Como se tivesse recebido uma injeção de adrenalina, sentiu que voltava para o próprio corpo. Abriu a torneira e limpou a boca. Percebeu que as mãos estavam trêmulas.

A loira jogou um pouco de água no rosto e fechou a torneira.

— Amelia, olha pra mim, meu amor — Theo disse preocupado e se aproximando da loira.

Quando ele fez menção de tocá-la, ela se afastou abruptamente e ele a encarou com o olhar perdido.

— Ninguém. Toca. Em. Mim — falou pausadamente.

Precisava respirar. Seus pulmões pareciam cheios de ar, mas a sensação de falta de ar não ia embora nunca.

— Amelia... — Theo tentou se aproximar novamente e a loira o olhou com raiva.

— Sai de perto de mim. Sai. Sai, Theo. Eu mandei sair de perto de mim — ela empurrou o homem que não tinha forças para reagir. — SAI DAQUI. SAI TODO MUNDO DAQUI. SAI. SAI. SAI — empurrava o jogador com mais força até que ele segurou seus braços e ela parou.

— Amelia, tenha calma — Alexia se aproximou falando em um tom baixo e quase sereno. — Vamos todos sentar e conversar com calma.

A loira respirava ruidosamente e puxou os braços do aperto de Theo. Caminhou de forma determinada até a sala e viu Louise sentada no sofá segurando a cabeça entre as mãos e com lágrimas nos olhos.

— Vocês querem conversar? — Amelia disse encarando Theo e Alexia. — Querem começar pela parte em que os três me fizeram de idiota? Ou você quer começar pela parte em que me abandonou? — Direcionou o olhar para Louise.

— Amelia... — A mais velha sussurrou e a jornalista sentiu tanta raiva que doía fisicamente.

— Eu quero vocês dois fora daqui — ela apontou para Theo e Alexia sem desgrudar os olhos da figura que estava sentada no sofá.

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