Prólogo

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Anos atrás... 26 de março de 2009, pra ser mais exata.

Era uma tarde muito agradável, o sol estava se pondo, era possível ouvir pássaros cantando ao longe e, em algum lugar daquela quase vazia escola pós-festival, alguém estava tocando violão. Era o dia perfeito pra se confessar.

Enquanto andava, podia sentir meu coração martelando o suficiente pra fazer com que descansasse duas vezes para não desmaiar de nervosismo. Não, eu não sou uma pessoa nervosa, mas naquele momento podia sentir a morte andando atrás de mim com um death note escrito "causa da morte: parada cardíaca". Mas estava tudo bem, não é?... (meu auto-consolo), afinal... eu gosto dele já faz tempo.... (tão trouxa). Passei direto pela sala que ele estava e só me toquei disso porque tive que parar de novo e olhei ao redor para me localizar, a sala do clube de literatura já havia passado.Voltei andando calmamente, como alguém que prevê que algo muito abalante está prestes a acontecer, e foi exatamente isso que houve.

Bruno estava sentado numa mesa de modo meio formal até, algo que não é de sua natureza, e uma menina extremamente bonita e fofa estava na sua frente. Mesmo tendo problema de visão, pude ver que ela estava corada.

-Eu gosto de você! - disse. Não preciso nem dizer que aquilo ali me marcou, Jesus tava ligando pro SAMU por mim.

-Sempre gostei, Bruno, desde que o vi ela primeira vez... -Ela roubou meu papel e eu não sabia?Isso daí é minha fala, filhinha - Te acho sensível, cavalheiro, mas também divertido e amigável, além de muito bonito... Por favor, saia comigo!

Ele continuou parado lá, sem dizer nada, confundível com uma estátua, por um período de tempo maior do que o aceitável para uma confissão. Eu podia ler a menina, ela devia estar pensando "será que isso é um "vai embora" ou uma reflexão? Acho que é melhor eu falar algo".

-Ahn... Bruno? Fale algo, por favor - disse isso tão fofamente que eu até esqueci a tensão da situação, inclusive meu ranço por ela. Tudo isso deve ter durado 3 minutos, mas ele conseguiu terminar bem rápido com um "desculpe, não posso". O choque da menina era o meu choque, nós compartilhamos as emoções como se fóssemos uma só, era como se ele estivesse falando aquilo pra mim.

-O... que?

-Desculpe, não posso. - disse novamente, mas ainda era inacreditável. Vendo a reação dela, tenho certeza, se explicou: - Eu não estou interessado em namorar agora, Agatha. Agradeço por ter coragem de me falar e por gostar de mim, mas não sou a pessoa que pensa, por isso... Apenas siga em frente, tudo bem? - ele tocou seu ombro levemente num sinal de reconfortanto, mas ela era a nova estátua do quarto. Pela primeira vez, enquanto ele se aproximava da porta, me ocorreu o pensamento de que não deveria estar ali.

Foi tudo muito rápido, mas ocorreu na seguinte ordem: a menina olhou para ele, que estava indo para a porta mas em vez disso, olhou para mim, ela soltou um pequeno gritinho, ele escutou e olhou para ela, graças a Deus eu fui rápida o suficiente pra sair correndo dali antes de um desastre maior, mas no processo bati numa mesinha no corredor próximo à sala e derrubei uma caixa cheia de papéis. Nem Flash me viu, imagine ele.

Minutos depois do micão...

Meu cabelo estava bagunçado, no mínimo, eu estava longe do perigo mas a adrenalina ainda se fazia presente. Por que eu fiz aquilo? Por que eu não saí de lá logo? Será que ela me conhece? Era tudo que passava na cabeça. Respirei fundo e não deixei uma lágrima pendente cair.

Mesmo energética e curiosa, uma parte de mim estava triste, afinal, era como se tivesse sido rejeitada também, e o fato de que ela era trilhões de vezes mais linda piorava a situação.

Coloquei meu fone de ouvido e escutei uma das músicas mais terapêuticas do mundo, What's Up, da banda 4 Non Blondes. Fiquei ali por muito tempo, aproveitando o resto da luz solar que aquele dia de outono poderia oferecer, pensando na vida e nele. Interiormente, estava me perguntando a razão de amá-lo e se deveria continuar, e encontrei várias. Foi naquele dia que aprendi que amar significa não esperar resposta.

Aceitei então que, ingenuamente, continuaria o amando sozinha por muito tempo.

Porém eu não sabia que quele dia seria um dos últimos em que eu ainda poderia ser considerada uma pessoa alegre e namorável por um longo período de tempo.

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