Capítulo 36: Empatia pela vadia

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Capítulo 36... Empatia pela vadia

P.O.V. Agatha

Anos atrás, nos Estados Unidos ...

Matheus, o homem que minha família havia apresentado, estava sentado na minha frente, em um restaurante chique que ele teve a gentileza de pagar. Com certeza estava ali só pela minha aparência, nunca nem tínhamos nos vistos, nunca nem havíamos trocado um palavra e ele já se achava no direito de me tocar como estava me tocando (mãos dadas...audacioso). O odiei assim que entrou pela porta.

Olhei no relógio e, infelizmente, era cedo para dizer "olha só que tarde, melhor ir pra casa".

-Então, Agatha, o que gosta de fazer? - disse, forçando a voz para ficar mais masculina. Fiquei até com nojo.

-Dançar. - primeira coisa que veio à cabeça.

- Uau... - arregalou os olhos e fez um fingido "o" com a boca. Queria tatuar "babaca" em sua testa - Você não me parece do tipo que dança.

E você não me parece do tipo que presta.

-Pois é, minha família também acha, por isso que faço outra coisa da vida.

-Interessante. - bateu os dedos na mesa ritmicamente, como se estivesse penando em algo divertido.

-O que? - o cortei.

-Hã?

-O que é interessante? - só falta ser burro pra completar o combo de personalidade bosta. Ele poderia até ser bonito (tinha olhos azuis escuros, cabelo moreno e pele levemente bronzeada), mas eu era mais então não me impressionava. Nem. Um. Pouco.

-Você. - deu um sorriso malicioso e bebeu um fino gole do vinho que estava na mesa. Suspirei fundo, checando o quanto de paciência sobrava em meu ser: percebi que era bem pouco - Onde trabalha?

-No Hospital Dennis J. Moura.

-É enfermeira? Recepcionista?

-Faço faculdade de medicina, tenho um estágio lá. - agora sim, um verdadeiro "o" apareceu - E você?

-Sou advogado... - novamente, não impressionada. Tomei um gole de vinho, acho que estava com sede por gente que valia alguma pena - Agatha, posso perguntar quantos anos você tem?

-Isso não é contra seu código de cavalheiro?

-Eu só estou realmente surpreso, você me parece tão jovem, bonita e frágil, mas já é tão sucedida... - sua máscara de pegador foi delicadamente retirada, isso foi o ápice do encontro arranjado, estava conversando comigo informalmente agora - Não acredito que tive sorte em encontrar uma mulher como você. - deixa pra lá.

-Não quero estragar seu dia - uhm, não é bem verdade - , mas não estou interessada. Sinto muito. - potoca.

- Por que não tenta? Tenho certeza que nunca vai conhecer alguém como eu, além disso, estou interessado em você, sério.

-Me desculpe, mas eu não tenho interesse em entrar em uma relação agora, sabe como é...faculdade. - calúnia, eu só não queria ele. Ponto. Simples assim.

Sem um pingo de vontade de continuar naquele lugar, me levantei e recusei com a mão quando ele tentou fazer o mesmo.

-Vou andando.

O que, resumidamente posso dizer sobre o que aconteceu depois foi que meu pai ficou com muita raiva quando soube como o dispensei. Ele brigou feio, disse que eu não tinha responsabilidade para manter a faculdade, minha vida amorosa e muito menos meu próprio salário, disse milhões de coisas, jogou na cara as vezes que me ajudou e etc. Acho que, naquele dia, ele estava (da melhor maneira falando) com o ânus ardendo de raiva, mas para seu imenso azar, eu também estava.

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