Capítulo 2: Como já dizia o filósofo, "Meu Deus do céu, Berg"

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Capítulo 2... Como já dizia o filósofo, "Meu Deus do céu, Berg"

P.O.V.- Lia

Em minha defesa, fiz o que qualquer pessoa em grande estado de surpresa faria: falei em bom e alto som "MEU DEUS" e pensei seriamente em ir embora, mas eu fiquei parada lá, a própria imagem do filme "Grandes Olhos".

-O que foi? - Bruno perguntou como quem não quer nada mas, pela sua postura, era perceptível o estado de alerta. Acho que deve ser por eu ter feito uma cara de "eu vou te matar e guardar seus restos num potinho" que uma fã maluca faz. Ele estava virando e indo embora! Meu Deus do céu, meu Deus do céu!

-Bruno! Que surpresa te ver por aqui! - só falei verdades.

Naquele momento, revisei a língua portuguesa. Olhou para mim tão feiamente que pensei, por um segundo, tê-lo mandado pra puta que pariu e o cacete à quatro.

-O quê? - ele disse novamente, não do mesmo jeito. Mais puto.

-O que "o que"? - onde isso tá dando, meu Senhor... - eu nunca mais te vi, por isso fiquei surpresa. Você ficou famoso, né? - não querida, imagina! - Sua carreira de modelo é boa, mas é melhor escritor ainda, parabéns. Para onde você ia? Eu tenho tanta...

-Eu te conheço?

Naquele momento, céus, terra e o mundo subterrâneo pararam. Eu me senti como se estivesse num palco e tivesse acabado de me apresentar com todo o talento que tinha, mas nenhuma palma foi batida. Como alguém que derruba o sorvete, como alguém que solta um terrível peido num elevador cheio de gente, como uma criança que escuta um "que desenho horrível" e não sabe como reagir.

-Sim.... - minha alma disse no lugar da minha consciência - Nós nos conhecemos há muito tempo...

-Ahhh... Você é aquele tipo de fã que fala que me conhece, sendo que nunca me viu, é? - ele se aproximou lentamente de mim, com o olhar mais escarnioso do mundo - Por favor, faça alguma coisa coisa da vida em vez de se preocupar com a minha.

Tudo estava sendo escutado, mas as coisas que falava não podiam ser entendidas. Ele estava me xingando? Calma, ele estava me incriminando?!

-Espera! - disse quando já estava metros de distância - Eu realmente te conheço! Eu sou...

Foi aí que uma vozinha esquecida sussurrou "o mico que tu pagaste, Lia... O mico". Ah, sim. Não foi só daquela vez que eu me constrangi com relação à ele, nas vezes seguidas que nos encontramos eu estava em um estado tão deplorável, psicologicamente falando, que o tratei muito mal.

- Quem é você? De onde nós conhecemos? - perguntou debochando quando se virou.

Ele não era o mesmo, eu não era a mesma, aquela situação estava ficando estranha. Podia até ter sido uma pessoa não tão legal assim para ele, mas não a ponto de nem sequer ser lembrada. Nos conhecemos desde crianças, como ele pôde? Aliás, como ele pode tratar alguém assim mesmo que fosse o caso de ser uma desconhecida?

- Foi o que pensei.

Minhas bochechas começaram a arder, senti levemente lágrimas brotarem no canto dos olhos, mas não ia chorar por causa dele ali nem que me pagassem. Abaixei a cabeça, me acalmando para não falar com a "voz de choro".

-Desculpe por incomodar, Bruno. - o encarei, rezando para que ele lesse minha mente e soubesse que estava falando a verdade, me reconhecesse. Nada aconteceu.

Nos afastamos e seguimos caminhos opostos. Eu ainda gostava dele, mas uma parte do meu amor unilateral estava bem de mau.

Minutos depois da merda...

- Eu não acredito nisso! - disse Kaylee, minha melhor amiga desde a infância. Havia somente duas pessoas que poderia confiar minha vida, uma delas era ela.

-Pois é, bicho. Pois é. - dei uma boa mordida na coxinha, a razão de ter saído de casa, para começo de conversa. Atualmente, estou ganhando dinheiro fazendo entregas e uma mulher as pediu para uma festa... Comprei mais por motivos óbvios.

-Mano, ele têm demência? Como não pode se lembrar de ti? Meu Deus...

-Eu não o culpo, nós não tivemos nenhuma relação além de colegas. Mas sabe, ficamos tanto tempo juntos, olhamos tanto um pro outro que é inacreditável ele ter me esquecido completamente. Nós éramos os únicos com olho puxado na turma, poxa.

- Será que ele teve aminesia?

- Não, Lee, não é possível... - falei, mas refleti. Será? - O que vou fazer agora?

-Segue o exemplo daquele filme lá, onde a menina tem aminesia, qual é o nome....

- "Como na primeira vez"?

-Isso! Tua chance de conquistar ele é agora.

-Acho que tu não entendeste o nível de desgraça da situação, mana, ele não só não lembra de mim como me acha uma Zé ninguém. Ele acha que eu sou uma fã mentirosa e interesseira.

-Ahh... - abaixou o olhar e encarou os próprios pés - é triste, é triste. - falou vagamente, mas com sinceridade.

E era mesmo triste, mas as coxinhas e músicas de One Direction tocando num pequeno som suavizavam a situação.

P.O.V. - Bruno

Odeio gente assim, que finge e faz de tudo para se dar bem. Uma parte de mim se arrependeu por não perguntar o nome para guardar junto com ele um pouco de estresse, mas outra queria esquecer dela completamente.

Pensamentos ruins ocuparam minha mente até chegar em casa, onde criei mais odiosidade. João, meu chefe, estava sentando no sofá. Ele claramente estava pelo capítulo de amanhã. Nunca atrasei nenhuma prazo mas, por ser um dos mais famosos escritores da editora, sou muito cobrado.

Antes que ele pudesse falar, adiantei-me: - Saí para tomar um pouco de ar, sabe como é a pressão, não faz nada bem. Vou terminar o capítulo hoje de noite e, logo em seguida, te envio. Estará pronto antes de meio dia.

-Bruno, não estou aqui para te cobrar o capítulo, mas sim por outra coisa. É importante.

-Uhm.... Tá bom. Vamos pro meu escritório, tem que ser rápido.

- Nós queremos fazer um concurso de dança. - disse antes de chegarmos lá.

-Desculpe mas, posso saber o que isso tem a ver com livros?

-Essa é a questão, nós queremos investir em outras áreas, sabe. Não queremos ser somente mais um editora, mas uma grande empresa que fábrica artistas.

-Ok... E o que eu tenho a ver com isso, João?

- Precisamos que você trabalhe conosco na propaganda e, como escritor mais famoso e jovem da editora, seja um dos juízes.

Não era uma má ideia, aparentemente, mas era muito súbita.

-Espera aí, deixa eu ver se entendi certo: está me chamando para outro trabalho mesmo sabendo que meu livro está quase no final, ou seja, na parte mais importante?

- Nós podemos dar um jeito nisso, e não é para já que vamos realizar o projeto. Mas não se preocupe com o pagamento, se é disso que se trata.

- Não é nem um pouco sobre isso, é só sobre o livro. Posso até fazer o que vocês quiserem, mas antes terá que me explicar exatamente esse plano aí e deixar meu livro terminar com estabilidade. De acordo?

-Sim. - disse sorrindo de orelha à orelha. Ele não parecia ser meu chefe, e sim um amigo pedindo sempre favores e cobrando pelos deveres de casa, mas eu o respeitava. - Obrigada, Bruno, por confiar em mim.

-Aham, aham, fecha a porta quando sair, por favor. - disse por impulso, focando na história que precisava ser escrita com urgência.

Ele bateu a porta como quem a bateria para um rei e se retirou majestosamente. Sorri, mas quando o fiz lembrei do sorriso da menina da rua. Nojo e eu éramos sinônimos. Suspirei.

-Espero nunca encontrá-la de novo, amém. - estalei os dedos e os teclados do Notebook pareceram entrar em completo foco. Seria uma longa noite...

𝔻𝕣𝕖𝕒𝕞 𝕆𝕟Onde histórias criam vida. Descubra agora