Good Night, Little Wolf

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Severus esperou todos saírem para olhar preocupadamente para sua pequena. Ela ainda comia sua carne tranquilamente, depois de terminar sua poção.

-Que foi papai? Há muitos anos não me olha desse jeito.-Com cuidado, removeu os óculos escuros do rosto da filha.-Papai!

-Sabe que os acho perfeitos. Não precisa esconde-los, filha. São parte de você.

A menina abaixou o rosto, olhando as próprias mãos. Levou alguns instantes para o pocionista ouvir um suspiro triste.

-Acha que ele gostaria? Não que seja importante o que ele acha... Mas e se ele achasse que eu sou uma aberração?

-Filha, essa é a última coisa que seu pai pensaria de você.-Afirmou, enquanto prendia os cachos castanhos em um rabo de cavalo frouxo, ouvindo sua menina rir.-Mas você pode perguntar isso diretamente a ele no fim da tarde. Ele adoraria ter a sua companhia.

-Ele nem sabe quem eu sou...

-Ah, lobinha... Você não conhece seu pai. Se ele não concluiu que é filha legítima dele, ao menos sabe que tem licantropia.

♧♧♧♧♧♧♧

Remus estava empoleirado no sofá, entediado. Seus pensamentos estavam focados naquela menina.

Quem ela era? E qual a razão da filha de Severus Snape sofrer de licantropia?

Remus logo culparia sua distração por ser pego de surpresa, pois quando deu por si, havia outra pessoa sentada no sofá oposto.

-Você é um pouco distraído, não? Por que não trouxe sua varinha?

-É mais seguro ficar longe dela. O que você faz aqui?

-Sempre venho aqui quando estou em Hogwarts. Estou surpresa que estar me perguntando. Papai tem certeza de que já sabia que eu era lobisomem também.-Ela se ergueu do sofá, se espreguiçando.-Vou pro andar de cima. Até amanhã, Remus.

-Boa noite, lobinha.

♧♧♧♧♧♧♧

Severus viu a filha caminhar pelo Grande Salão, bocejando. A figura atraia a atenção da maioria dos alunos por quem ela passava. Remus já ocupava sua cadeira, e observava a menina também. Não demorou para que ela estivesse sentada ao lado de Draco, que sorriu para a prima.

-Bom dia, Allie.

-Bom dia, Dray.-Ela voltou a bocejar.-Papai vai dar aula hoje?

-A manhã toda. Professor Black está indisposto hoje, e ele vai ficar com as aulas dele.

-Já sei onde vou conseguir alguma diversão hoje. Vou com você pra aula do terrível mestre de poções.

O loiro riu baixinho, junto com a prima. Os dois passaram a conversar em Alemão, o que fez todos os demais perderem o interesse no que falavam, e Severus pensava onde havia se metido. Sua filha podia ser terrível quando se propunha. E quando ela e Draco se uniam... Ele e Lucius se tornaram especialistas em feitiços de cura e reconstrutores.

-Ah, depois vem comigo para a aula de Estudo dos Trouxas. Acho que vai gostar da aula do Lupin.

-Não sabia que ele ministrava essa matéria. Vou pedir a ele se me deixa assistir.

Os dois ainda papearam um tempo, antes de se dirigirem a sala de poções, chegando junto ao Pocionista. Severus se permitiu abraçar a filha, beijando sua testa.

-Bom dia, lobinha. Como se sente? Quer algo para dor?

-Estou bem, papai. Não se preocupe. Eu vim assistir sua Aula, posso?

-Desde que me ajude a monitorar os alunos. Tenho alguns trabalhos para adiantar a correção, ou não poderemos ir a Hogsmead no fim de semana.

-Eu fico de olho, pode deixar.

-Ótimo. Bom dia, Draco.

-Bom dia, padrinho.

Os dois auxiliaram o pocionista a organizar a aula, colocando os ingredientes das poções nas cestinhas, e Severus sorriu para a forma cuidadosa que a filha escreveu as instruções no quadro. Ela tinha uma letra um tanto relaxada, tombada e estreita. Era uma letra bonita, mas não muito elegante. Quase a mistura da caligrafia dos pais. Ela se sentou sobre sua mesa, sorrindo travessamente.

-Corrige os trabalhos! Eu dou aula hoje.

-Claro querida. Claro.

Severus sorriu de canto, deixando por conta de sua menina. Os alunos adentraram a sala papeando, e se dirigiram aos lugares costumeiros. A conversa parou no instante em que a menina se ergueu, seu sobretudo preto lembrava, em parte, o esvoaçar da capa de seu pai, o que fez todos se calarem.

-Bom dia, quartanistas. Eu sou Alice Lunnya Prince, e vou ministrar a aula de hoje. As instruções estão no quadro e os ingredientes nas cestinhas. O trabalho é individual, e se surgir alguma dúvida não se acanhem em erguer a mão. Podem começar.

Um tanto intrigados com a moça, todos os alunos começaram a fazer suas poções. Alice se sentou no canto da mesa do pai, e se dispôs a observar os alunos. Em especial, reparou em um grifinorio que olhava do quadro aos ingredientes, e passou a empalidecer. Um tanto simpática ao menino, se moveu de onde estava até a mesa que ele dividia com outros dois meninos.

-Senhorita Prince...-Ele gaguejou baixinho.-Eu... Eu...

-Está tudo bem, Neville. Está muito nervoso. Vou te ajudar.

Pelos próximos 20 minutos, Alice ajudou o garoto a separar os ingredientes na ordem e quantidade exata, antes que o Caldeirão começasse a aquecer. Então ela o deixou ali, mais tranquilo, e voltou a se sentar na ponta da mesa. Logo ela viu uma mão se erguer. Até onde se lembrava, aquele era Blaise Zabine.

-Senhorita Prince...-Ela foi até a mesa.-Acho que errei na quantidade de raspas de unha de coruja.

-É só balancear com sangue de salamandra, senhor Zabine. Coloque com o conta gotas, até ela ficar de um lilás bem suave, então retorne a receita normal.

Aquela foi a aula de poções mais tranquila que tiveram. E Severus se divertia com a paciencia da filha e a adoração dos alunos pela lobinha. Depois de tudo devidamente encerrado, Severus seguiu com sua menina até as masmorras, onde lhe entregou mais um cálice com a mata lobos. Uma rotina das semanas de lua cheia. Nada de excepcional.

♧♧♧♧♧♧♧

Severus viu Remus parado em frente a porta de seus aposentos naquela noite. Ele aguardava o seu retorno da ronda, imaginava.

-O que quer, Lupin? Me importune apenas na próxima lua cheia, por favor.

-A menina, Severus. Quem é aquela menina? Por que ela sofre de licantropia?

-Sofre? Fique sabendo que odeio esse termo quando dito perto ou referente à minha menina, Lupin. Alice não foi criada da mesma forma que você, ela não despreza o que é.

-Por quê? Você odeia lobisomens. Eu quase matei você.

-E mesmo assim eu continuei amando você, seu estúpido. Não seja hipócrita Remus! Em que universo eu amaria minha filha menos do que ela merece por um insignificante problema peludo? Ela é minha filha, é parte de mim, é parte de um amor. Agora, pare de me importunar.

-De qual amor, Severus?

O pocionista apenas bateu a pesada porta de madeira, onde se encostou, tentando controlar a respiração, e o ritmo cardíaco. Logo se afastou dali, após ouvir os passos do lobisomem, seguindo até seu quarto. Tomou um bom banho quente, antes de vestir o pijama e deitar na cama, sendo agarrado pelo outro ocupante.

Um sorriso singelo surgiu no rosto do homem, que passou a desembaraçar com carinho os cachos castanhos.

-Papai estará aqui quando acordar.

Murmurou, quando os pesadelos ameaçaram começar.

Dear Wolf DaughterOnde histórias criam vida. Descubra agora