Feliz Natal, Lobinha

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Severus gostava muito de cozinhar. Claro, Charles Lancaster cozinhava excepcionalmente bem. Mas sua menina sempre disse que, apesar da comida do padrinho ser boa, nada se comparava às habilidades do pai.

Era puro charme, disso ele tinha certeza. Mas era sumamente divertido ver sua filha invadir a cozinha de tempos em tempos, roubando pedaços do que ele fazia.

Ela ainda não havia recuperado o olfato totalmente. Haviam alguns relances de funcionamento. Nada significativo.

Seu olho estava, indiscutivelmente morto, e sua audição parecia voltar aos poucos.

As cicatrizes físicas eram muito poucas, e Remus havia entrado se cabeça na nuvem cor de rosa que a filha havia projetado.

Severus não. Aquela era sua filha. A conhecia desde a concepção. As lacerações haviam parado. Mas os pesadelos não. E o pente de balas de prata... Ele havia roubado da gaveta de cabeceira. Ela sabia, e ele também.

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O cheiro do Carneiro com mostarda assado tomara toda a casa. Severus, Remus, Lunnye e Charles Weasley eram os únicos presentes. De certa forma, o ruivo sentia que deveria passar o Natal ali, com apenas parte de sua família. Sua amada e seus sogros. Apesar de que teria de sair de lá diretamente para a Toca. Negociar com sua mãe não havia sido nada fácil.

Ele e Alice arrumaram a mesa,  enquanto Remus foi ajudar Severus com as formas. Alie fizera seu famoso arroz com creme e queijo para acompanhar o Carneiro assado.

Às 22:45 daquela noite do dia 24, eles estavam à mesa, começando a jantar. Não havia muito o que conversarem, então decidiram apenas aproveitar a companhia um do outro.

Charles prometeu que viria na manhã seguinte para abrir os presentes, mas entregou o de sua namorada. Era um pequeno diário, onde ele havia juntado todos os momentos que havia escrito em outros que tivera ao longo dos anos.

Claro que o ruivo acabou abrindo os seus antes de ir, afinal todos sabiam que Molly não o liberaria tão cedo para voltar a Sppinder's End. E, afinal, já eram 00:13. Oficialmente era Natal.

-Eu prometo vir amanhã, Alie.-Murmurou, enquanto beijava a testa de sua namorada, que estava acomodada em seu peito. Eles estavam na soleira da porta de casa.-Eu virei bem cedo, para acorda-la.

A lobisomem fungou baixinho, e se apertou mais contra o domador de dragões.

-Eu sei que virá cuidar de mim, Charlie.-Ela se afastou apenas para olhar o rosto do ruivo. Ele tinha os olhos verdes arregalados. Nunca havia ganho aquele apelido. E seu coração fez pressão em seu peito.-Ah, esqueci um presente.-Ela lhe entregou uma caixinha de madeira.-Está enfeitiçada, nem tente espiar!-Ele deu um sorriso travesso, antes de ter o rosto seguro com todo o cuidado e carinho do mundo.-Eu te amo. Mais do que tudo no mundo.

Charles encostou sua testa na da namorada, beijando a ponta de seu nariz, que ficara charmosamente tortinho depois do que houve com Lestrange.

-Mais do que tudo no mundo.

E o ruivo se foi, aparatando em sua casa, sendo recebido com uma bela mistura de ovos e farinha diretamente nos cabelos medianos. Depois de aazarar os gêmeos, foi tomar um banho para se reunir aos outros para abrir os presentes.

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Remus deu à filha um lindo colar, que tinha como pingente uma bela rosa azul em sua corrente de aço escovado. A castanha chorou, agarrada ao pai lobo, que não entendia o fato daquele presente ter tanto significado emocional.

-Feliz Natal, pai lobo.

Ao menos até receber o seu. Era um lobo de topázio, com uma pedra azul em um dos olhos, e uma pedra verde no outro. Junto dele havia um desenho, onde dois lobos estavam sentados em uma colina, juntos, observando a lua cheia.

Havia valor material no presente, claro. Mas o lobo acabou sorrindo em meios às lágrimas, abraçado com sua filha. Havia uma carga de amor naquilo... Fazia o lupino se arrepiar inteiro, e sentir um tipo diferente de agonia.

-Feliz Natal, bonequinha.

Era a vez de Severus. Ele tinha em mãos uma caixinha de música, com os doces favoritos de sua filha dentro.

-Acredito que eles a farão companhia esta madrugada, enquanto aprecia o presente de Charles.-Abraçou sua filha com carinho, se enterrando nos cachos castanho dourado.-Feliz Natal, querida.

A menina entregou ao pocionista um diário, seu padrinho havia a ajudado a confeccionar. Haviam fotos, cartas, páginas presas e soltas, além dos desenhos.

Mas o desenho da capa, feito em relevo, mostrava uma garotinha de cabelos cacheados segurando a mão de um homem adulto, guiando-os para mais perto da lua.

"Eu sempre vou estar aqui"

Era a frase escrita em tinta prata, em romeno, logo abaixo do desenho.

Severus se deixou ficar um longo tempo com a filha nos braços, apreciando seu cheiro, e a textura de sua pele e cabelos.

Logo mais todos foram para cima. Remus não percebera nada de estranho em seu companheiro, mas quando Snape se ergueu as 2:42, sem nenhuma explicação aparente, o lobo ficou em dúvidas se deveria segui-lo.

O ouviu caminhar até o quarto da filha deles, onde entrou sem estardalhaço, abafando tudo ao fechar a porta.

Severus encontrou sua menina sentada na cama. O diário de Charles estava ao lado direito. Os papéis dos doces estavam dobradinhos e organizados no criado mudo, e a arma estava no colchão, na frente dela.

O pocionista foi  seguido pelo olhar da filha, até se sentar na beirada da cama, de frente para ela. Acariciou o rosto e os cabelos castanhos uma ultima vez, antes de beijar a testa da menina.

Tirou o pente carregado de seu bolso, e o colocou na cama, ao lado da arma, antes de se levantar.

-Feliz Natal, Lobinha.-Repetiu o ato de beijar a testa da menina, dando-lhe um abraço quente e saudoso.-Boa noite, filha.

Sem esperar uma resposta, seguiu até a porta. Assim que trocou de lado na maçaneta para fechar a porta, acabou dando um sorriso triste.

-Até amanhã, papai. Eu te amo.

•~♤~•

03:13 de 25 de dezembro de 1994. Data e hora da morte de Alice Lunnya Prince Lupin.

Remus ouviu algo diferente no quarto da filha. Um som de não conhecia. Seguido do claro barulho de disparo.

O lupino saltou da cama, agitado. Mas Severus sequer se moveu. Havia uma tristeza irreal no homem. Algo pesava tanto que o impedia até de respirar. Mas não o impediu de trancar a porta com magia, evitando que o outro saísse.

-Deixe-a ir em paz.

•~•

Molly e Arthur Weasley viram seu segundo filho ficar branco. Empalidecer de uma forma sobrentural.

A caixinha que estivera em seu colo até o momento fez um clique, e se abriu sozinha.

Um pequeno Dragão de luz violeta, o patrono de sua namorada, surgiu, antes de se transformar em uma imagem dela própria, sorrindo como há tempos ele não via. E então a voz dela soou, baixinha. Apenas para ele.

-Mais que tudo no mundo.

E tudo se apagou.

Dear Wolf DaughterOnde histórias criam vida. Descubra agora