When We Are Children

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Se havia uma coisa em que Severus Snape era mestre em reconhecer, era a aclamada Injustiça. E o jovem Slytherin, que acreditou veemente obter um lar quando ingressasse em Hogwarts, estava completa e irremediavelmente desgostoso.

Claro, as injustiças que sofria em casa eram de outro patamar, mas o que os marotos faziam não deixavam de ser violência. Uma violência escandalosa, e que eles faziam questão de que assim fosse. Como Severus sentia falta da violência velada em casa. Achava ser menos humilhante, embora muito mais doloroso. O repuxo incômodo dos pontos desastrados que sua mãe dera ao longo de seu tronco, e o ardor das marcas circulares que adornavam a extensão de seus braços lhe mogoavam fisicamente. Mas a mente e o coração já não se importavam com o temperamento explosivo e violento do pai.

Snape estava cansado daquilo, já deixara de estudar na biblioteca porque era óbvio demais, e eles costumavam persegui-lo lá dentro. Agora estava escondido entre algumas pedras e arbustos, enquanto lia Alice no País das Maravilhas, era sua ficção favorita. Amava o universo criado por Lewis Carroll.

Retirou a capa da Sonserina, antes de erguer as mangas da camiseta preta, deixando suas queimaduras respirarem, isso aliviava o ardor, especialmente por ser um dia de frio brando.

Em algum momento, marcou a página que lia, se encostando contra a pedra gélida, fechando os olhos. Quase era Alice, atravessando para o País das Maravilhas. Aquele mundo aparentemente lindo e essencialmente macabro lhe trazia paz. Talvez por ser sua própria inversão.

-Esse parece ser um bom lugar pra ler.

A voz estava bastante rouca e gasta, mas perfeitamente reconhecível. Isso fez com que o sonserino suspirasse de frustração, antes de dirigir o olhar ao garoto que, sem convite algum, se sentara ao seu lado.

-Não pode, por favor, sumir para Hogsmead como, aparentemente, todos fizeram hoje? Não estou muito adepto a ser colaborativo às brincadeiras de vocês. Não hoje.

-Não tem "vocês".-O lobo fez aspas no ar.-James, Sirius e Peter foram a Hogsmead. Eu estou de castigo, Madame Pomfrey me proibiu...

-Estou sentindo o cheiro de sangue daqui, Lupin. Não sou nenhum idiota.

Remus aparentava um certo nervosismo, mas não expunha totalmente o quão receoso estava naquele dia. Mas o nervoso foi substituído por indignação quando seus olhos chegaram às marcas na pele branca. Eram marcas de ponta de cigarro.

-Quem fez isso com você? Está doendo? Quer uma poção curativa?

-Não, Lupin. Para todas as perguntas. Estou bem, melhor hoje que não estou tendo de aturar nenhum de vocês. Ou não estava.

O lobisomem se encolheu um pouco em si mesmo. Mas estava sumamente interessado naquelas marcas. Aquilo não era coisa de Sirius e James. Não podia ser.

-É sério, Severus.-O outro ficou em riste ao ouvir seu primeiro nome ser pronunciado.-James e Sirius fizeram Isso? Como puderam...

-Em que mundo você vive, Lobisomem? Acha, realmente, que a capacidade cognitiva daqueles dois permitiria que me imobilizassem o suficiente para fazer isso? Por acaso esqueceu que o cérebro do grupinho de marginais é você?

Dear Wolf DaughterOnde histórias criam vida. Descubra agora