XXIII

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Já ouviram falar dum ser sobrenatural chamado Kanima?

Resumidamente, é uma abominação ou, como eu gosto de lhes chamar, aspirantes a lobisomens com problemas emocionais, que até acabam por ter mais poder que os alfas devido à falta de humanidade.

Mas o meu ponto é, segundo a mitologia, eles quando morrem, evoluem para algo ainda melhor, maior e ainda mais mortífero.

Ou seja, por vezes o fim de algo, a morte de um capítulo, é o início de algo melhor, como se fosse uma atualização.

Talvez aquele namorado que parecia excelente e que quando tudo acabou pensavas que melhor não há, talvez haja. Ou aquela melhor amiga que ressentes acaba por abrir vaga para uma melhor amiga ainda melhor.

E isso não implica uma nova pessoa ter que entrar na tua vida.

Imagina que aquele namorado percebeu que deveria ser melhor no vosso tempo separados ou que aquela melhor amiga se apercebe que o que têm é bom e em vez da vossa amizade acabar, melhora.

Evolui para algo ainda melhor.
No meu jantar de aniversário senti que era o fim de algo.

E foi o fim de algo, das nossas mentiras e segredos e o começo de um novo capítulo. Uma evolução.

Agora rezemos que esta Eevee se torne num Vaporeon e não num Jolteon.

“Vamos parar com estes joguinhos, sim?” Eu pergunto depois de alguns segundos e eles franzem, sem compreender.

“Ok, fazemos assim, cada um de nós diz uma coisa que não gosta do nosso grupo ou algo que devia mudar. “ Eu proponho esperando resistência, mas o Calum aceita logo.

“Eu gostaria que pessoas não me contassem segredos que eu quero contar tanto! Um dia vou explodir segredos.” Ele admite olhando para o Luke.
Sinceramente, esperava que aquilo fosse para mim, mas por causa do olhar dele, parece que não.

“Já somos dois!” o Ashton concorda com o Calum. “Eu queria mesmo que essas pessoas falassem umas com as outras em vez de falarem comigo e pedirem confidência.” Ele completa olhando para o Michael e eu.

“E eu queria que começassem a dizer nomes!” O Luke reclama frustrado.

“Talvez isto não tenha sido a melhor ideia. Esqueçam!” Eu falo desistindo do meu plano.

“A sério? Agora que chegou ao momento da verdade claro que foges!” O Luke discute de volta.

“Tu é que te enervaste logo, queres dizer algo, diz de uma vez por todas!” Eu respondo levantando a voz.

Todos ficam em silêncio, pois as pessoas à nossa volta olham para nós, devido ao barulho.

“E digo, só aposto que tu não queres que uma pessoa descubra o que sei!” O Luke ameaça com um tom mais baixo quando a atenção sai do nosso grupo.

“Então digo eu! Michael, tu foste a razão pela qual eu e o Luke acabamos, ele perguntou se eu gostava de ti, eu disse que sim e por isso acabamos!” Eu falo virando-me para o Michael que mantém os olhos abertos e a boca fechada.

“Ah e há mais! A razão pela qual eu não vim mais cedo para o campus? Eu tive um acidente nessa manhã, lixei o carro todo e fiquei sem carta e depois estava demasiado deprimida para vir e fingir que estava tudo bem.” Eu completo rapidamente e lágrimas formam-se nos meus olhos e quando ninguém fala, elas saem livres, mas controladas.

Hoje tenho passado o dia todo como se fosse um zombie, sem emoção.

Tudo começou quando bateu as doze badaladas, dando início ao dia em que nasci.

Meia hora passa, nem uma mensagem ou chamada.

Ainda com esperança verifico as redes sociais, talvez alguém não tenha mensagens e me tente contactar online, digo a mim mesma, enquanto vou ao Twitter e depois ao Instagram, mas nada.

Por isso vou ao Facebook sabendo que de certeza alguém já escreveu no meu mural, mas nada.

Uma hora passa e verifico o meu e-mail, mas já de esperar, nada.

Mesmo assim vou para a cama dando desculpas como “É um dia de escola e de trabalho, talvez tenham adormecido, mas de manhã alguém se lembrará.”

E acordo bem cedinho, só para levar com desilusão na cara.

0 notificações.
0 mensagens.
0 chamadas.

Persistentemente invento mais uma desculpa, “ainda é cedo, provavelmente ainda estão a dormir.”

22:00h diz o relógio do restaurante e todos ouvimos o seu aviso baixo devido ao silêncio entre nós.

22 horas e ainda nem uma mensagem, nem chamada.

Nada do meu pai, da minha mãe, do meu irmão, nem dos meus tios e avôs. Nada.

Nada dos meus amigos de casa ou de conhecidos que ainda no ano  passado me desejaram felicidades.

Só umas mensagens no Facebook de pessoas de quais os nomes não me lembro.

As únicas pessoas que se lembraram encontram-se nesta mesa.
E eu não as quero perder.

“Peço desculpa por te ter magoado, Luke. E por te ter metido numa confusão da qual nunca quiseste fazer parte, Michael. Desculpa Calum, por pedir para manteres segredo de algo que só causou confusão. E desculpa Ashton, por largar isto tudo em cima de ti, pedindo indiretamente para manteres segredos dos teus melhores amigos.” Eu falo quebrando o silêncio quando me apercebo que por eu achar que eles são os meus melhores amigos não quer dizer que eles achem o mesmo.

Este tempo todo tenho nos chamado família, mas nunca um deles invocou tais sentimentos ou algo parecido.

Eles já se conheciam e eram amigos antes de eu chegar. Talvez eles não tenham escolha.

O Michael e o Calum são melhores amigos de infância. O Calum e o Luke também são amigos desde infância e o Luke e o Michael já se conheciam há muito tempo, apesar de só se tornarem amigos no ano passado.

Eu sempre pensei no Ashton como o que veio de fora, porque foi o último a se juntar, mas ele já conhecia o Michael há anos e já fazia parte do círculo de amigos deles muito antes de eu chegar.

Eu basicamente forcei-me em todos eles.

“A conta!” Eu peço ao empregado que a traz rapidamente.

Nenhum deles fala e eu levo o silêncio deles como concordância, mas conseguia ver perfeitamente que estavam todos confusos, pois eles não vivem na minha cabeça, não sabem a história que construí.

“Eu tenho que ir, tenho planos com outros amigos.” Eu minto depois de pagar a conta.

Eles olham entre eles estranhando as minhas palavras.

“Ok, espero que tenhas tido um bom aniversário.” O Ashton despede-se, abraçando-me antes de eu ir embora.

Ao ir ouço eles a falar questionando entre eles o que acabou de aconteceu e porque estava eu tão estranha.

Eu vou para o meu dormitório, já que não há outros amigos… E as dozes baladas voltam a tocar e estupidamente verifico se há algum desejo de bom aniversário, mas nada.

Só desilusão…

Lembram-se do Kanima?

Outra coisa sobre ele, o Kanima entrega-se completamente a um mestre para encher algo que lhes faz falta, algo que os deixa vazios por dentro.
Eles dedicam-se ao mestre cegamente, substituindo seja lá o que lhes falta com o seu mestre.

Sem nunca saber se as intenções do mestre são genuínas ou se os estão a usar.

Nesta situação eu sou o Kanima.
Usei-os para preencher o vazio que sentia.

E o que acontece ao Kanima quando perde o mestre?

Morre.



The A Team (fanfic portuguesa-5sos)Onde histórias criam vida. Descubra agora