XXXII

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Durante uma semana só fui eu e o Luke a ver séries constantemente, fechados num quarto escuro. Apesar de ambos o negar, estávamos demasiado deprimidos para aproveitar o verão. Por mais vezes que o Ashton e o Michael tentassem nos tirar da cama, não conseguíamos. Caímos na rotina de ver séries durante 8 horas e dormir durante 16 horas. Se eu achava que estava deprimida naquela casa, ainda pior estou aqui. Sinto falta do Joe e estou constantemente com receio que algo aconteça à minha mãe, explicitamente que o meu irmão lhe faça algo. Todas as vezes que tento sair deste quarto, lembro-me que o Calum está do outro lado da porta e eu não sei lidar com a raiva que tenho contra ele. Será que é uma maldição de família esta raiva constante que literalmente me paralisa?

O meu telemóvel toca pela primeira vez desde que estou aqui e até o Luke revela choque em alguém estar a ligar para o meu telemóvel. Eu sei que devia ser melhor amiga e ajudar o Luke, tentar tirar-lhe deste quarto, mas não sei como e nem tenho as forças para tal ato. Fui uma namorada horrível e sou ainda pior amiga por auxiliá-lo nestas ações deprimentes. Mas não tenho forças nenhumas: o que é irónico pois dormi mais numa semana do que durante o ano inteiro.

Eu olho para o telemóvel, é o meu pai... Estranho. Levanto-me e atendo o telemóvel na varanda. Está um dia magnifico, o sol brilha no ecrã e mal vejo o ícone verde para atender. "Estou?" Eu digo observando o Michael, o Ashton e o Calum no mar à minha frente.

"Filha!" O meu pai festeja ao ouvir a minha voz e sorrio pela primeira vez derivado a interação humana e não provocado por palavras bem calculadas de uma série de televisão. "Então diz-me a tua mãe que foste de férias com uns amigos e não me dizes nada?" O meu pai pergunta e imediatamente sei que a minha mãe não lhe contou o que realmente aconteceu, como sempre para proteger o seu filho.

"Sim. Mas não te preocupes não preciso de dinheiro." Eu respondo não amigavelmente.

"E se precisares, eu dou-te! Não há problemas por teres ido. Ainda bem que foste, pensei que estavas deprimida e sinceramente ver-te fora de casa alivia essa preocupação." Ele responde achando que me está a ajudar com as palavras dele mas o contrário.

Apetece-me gritar que estou deprimida, que estive o ano inteiro, que não tenho vontade de viver, que só respiro porque tenho medo das consequências da minha morte, porque sei que destruiria a vida dele e da minha mãe. Mas se as consequências caíssem só em mim, pararia de respirar, pararia de pensar demais, de sentir nada num segundo e sentir tudo noutro, de estar tão cheia de raiva que não consigo viver ou avançar na vida, de estar tão sozinha que vivo na minha mente.

"Ok. Mais alguma coisa?" Eu pergunto querendo acabar a conversa, apesar de ter começado à poucos segundos.

"Está tudo bem?" Ele pergunta e eu confirmo a resposta que ele tanto deseja ouvir, também não há nada que ele pudesse fazer. "Bem, se precisares de alguma coisa diz. Mas as coisas estão bem aqui, a tua mãe já sai da cama, o Joe não para de falar e o teu irmão ainda não causou nenhum problema e eu já estou aqui há uns dias por isso é um recorde." Ele relata como se lhe tivesse perguntado algo.

"Espera! Tu já estás em casa há alguns dias e só me ligas-te agora? Grande pai!" Eu falo levantando o tom de voz e desligo o telemóvel não lhe dando oportunidade para responder. Imediatamente, o nome "Pai" volta a aparecer no meu ecrã mas ignoro a chamada. Ele coloca-me sempre em segundo plano, não, quinto plano. Primeiro o trabalho dele, depois o Max, depois o Joe, a minha mãe e, por fim, eu. Como sempre... É o que faz ser a filha do meio e a filha que nunca pede ajuda, logo nunca tem problemas nos olhos dele.

Por um segundo, saio do meu corpo e penso no que estou a pensar. Hilariante a conexão de palavra, eu sei, mas penso no estado em que estou. É pior do que querer morrer, é nem ter vontade de me matar. É como se a minha mente estivesse adormecida do resto do mundo e respiro por respirar. Se eu penso assim, como estará a mente do Luke? Deve estar mil e uma vezes pior! A dor dele é maior que a minha, penso eu. Se eu sei que não quero fazer nada com o meu corpo e mente inútil podia pelo menos usá-los para ajudar alguém que gosto.

"Luke!" Eu exclamo reentrando no quarto. "Levanta-te!" Eu ordeno aproximando-me dele.

"O quê?" Ele pergunta confuso.

"Le-van-ta-te!" Eu repito lentamente, retirando o cobertor de cima dele. "Está um dia magnifico e nós vamos aproveitá-lo!" Eu falo sorrindo, fingindo que toda a dor passou.

"Nem pensar. Vamos continuar a ver Teen Wolf!" Ele propõe e, por mais tentador que soe tal oferta, eu tenho de ser forte, por ele.

"Não! Já vimos todas as temporadas no mínimo duas vezes, está na altura de aproveitar todas as vitaminas que aguardam a nossa presença lá fora. Anda lá! Por favor... Por mim?" Eu peço sabendo que não devia ter dito essas ultimas palavras pois ele pode lê-las de outra maneira, mas tinha de as dizer, só assim é que ele se vai levantar.

"Alison, por ti: tudo!" Ele exclama levantando-se. Eu sorrio mas imediatamente sinto-me mal. Ele tem tudo que eu quero num namorado, o corpo, a mente... o corpo! Mas o meu cérebro não larga o Michael, porquê?

Ele corre para o seu quarto para mudar de roupa e eu faço o mesmo, mudando das leggings e da t-shirt, que sinceramente não me lembro quando as vesti, para um fato de banho azul com calções cinzentos de malha. Quando olho para o espelho fico surpreendida pelo facto de as marcas estarem ainda presentes, como assim? Já passou mais de uma semana e ainda se nota marcas leves de dedos à volta do meu pescoço, mas pelo menos as nódoas negras nos meus braços estão quase totalmente desaparecidas.

Agora tenho a oportunidade de cobrir ou deixá-las assim... Deixar com que todos as vejam. Apesar do Luke saber de tudo, a ideia de todos o saberem não me cai bem, mas num impulso saio do quarto sem um quilo de base no pescoço.

"Olha quem saiu da casulo!" O Ashton berra quando nos vê a entrar no mar onde eles se encontram a jogar volley. Como sinto falta de jogar volley, principalmente aquático. Imediatamente vem me  memória boas da minha equipa de volley no secundário e da minha família nas ferias de verão a jogar volley aquático, há muito anos atrás. Não pude negar jogar e o Luke juntou-se imediatamente ao jogo. Eu e o Michael contra o Luke, Ashton e Calum.

Não vou mentir todas as oportunidades que tive de atirar a bola para a cara do Calum, aproveitei. Recebendo alguns risos do Michael e olhares do Ashton para parar.

Durante o longo jogo, não pude parar de reparar no sorriso do Luke e também não pude parar de me sentir culpada em ajudar a depressão dele, juntando-me à festa, em vez de o ajudar. Por isso, prometo que, por mais que doa, não me vou deixar voltar a esse lugar emocional e ajudá-lo em tudo que possa, nem que tenha de fingir constantemente que está tudo bem.

Ele precisa da minha ajuda.

The A Team (fanfic portuguesa-5sos)Onde histórias criam vida. Descubra agora