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Aperto o play e começa a reprodução:

-Psicóloga Flora Hethy. Paciente Sofia Smith Müller. Hoje estamos usando a técnica de hipnose. Vou começar agora. -Há um breve segundo, que faz meu coração dar um pulo no espaço e voltar em menos de um segundo. -Sofia, você consegue me ouvir?

-Sim. Eu consigo. -Digo monótona. Quando eu disse isso?

-Sofia, você consegue me dizer quem é Pietro? -Flora continua com sua busca na minha mente embaçada.

-Meu melhor amigo imaginário. -Respondo sem relutância.

-E pode me dizer sua lembrança mais antiga com ele?

-Estamos nos encontrando em uma cafeteria. Eu amo o café de lá. Ele está do meu lado e eu...

-Não. -Ela me corta, mas não com falta de educação. Sua voz é suave. -A mais antiga. Antes dessa.

-Ahn... Ele dobrando uma curva, em direção ao restaurante da minha mãe...

-Não. Sofia, antes dessa. -Sua voz ainda é maneirada, embora eu ouvisse  é um pouco de persuasão. -Você conheceu ele. Viveu com ele. Onde estão suas lembranças?

-Não lembro.

-Sua mente está aberta para nós duas descobrirmos, mas você tem que me falar pra sabermos.

-Não tem nada. -Falo.

-Tem. Você sabe. -Ela continua a insistir.

De repente começo a ouvir sons. Algo batendo. Parece couro.

-A paciente está batendo no acolchoamento do sofá. -Flora relata. -Sofia, diga o que está vendo.

-Ele! -Digo em desespero. Como assim?

-Ele quem? -A voz de Flora sai preocupada.

-Ele! -Um grunhido sai da minha garganta. -Não! Não!

-Sofia. O que Ele está fazendo?

-Está batendo na minha mãe! -Grito.

-Quem?

-Meu padrasto! Não. Saia! Saia!

Padrasto? Eu tive vários. Muitos mesmo. Talvez fosse aquele que mamãe odiava falar. Eu também não falava, mas nem sequer lembrava o porquê! Até agora pelo menos.

-Seu padrasto? Como assim, Sofia? -Ela parece respirar para que estivesse apta a me acalmar. -Acalme-se. Respire fundo. Você está deslizando em suas memórias. Precisa focar no que é importante. Precisa focar no Pietro.

-Não. -Minha voz se desespera. -Ele está se virando. Ele está indo até meu quarto. Está batendo na porta.

-Sofia. Saia dessa lembrança. Saia. -Flora soa alarmada.

-Ele abriu a porta. -Relato.

-Sofia. -Ela me chama. Sua voz beira o desespero.

Fico muda. Não há mais barulho.

-Sofia? Sofia!

-Sim? -Respondo calma.

-O que aconteceu? -Ela sussurra, como se não quisesse mexer comigo.

-Alguém apareceu. -Noto. -Meu pai!

-Seu pai está morto. Sofia, seu pai morreu quando você era criança! Antes do seu primeiro ano!

-Não. Ele está aqui. Está bem na minha frente. Ele matou "Ele". Me salvou!

-Sofia, como?

Meu Melhor Amigo ImaginárioOnde histórias criam vida. Descubra agora