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~12 dias restantes~
Batidas violentas na porta me fizeram cair da cama. Ainda sonolenta, corri para ver quem era e fiquei surpresa ao ver minha mãe, com uma cara não tão amigável assim, através do olho mágico.

Abri a porta e ela nem precisou de um convite para entrar feito uma bala porta adentro.

-Não me diga que não recebeu meus recados!? É assim agora? Eu crio minha filha para ela me ignorar? -Ela sai batendo pé até a cozinha.

-O que aconteceu? -Pergunto.

-E precisa acontecer alguma coisa para que eu te visite?

Ah. Entendi. Ela estava carente. De novo. Tinha que arrumar um namorado para ela, mas só depois de resolver essa situação. Preciso anotar para não esquecer!

-Mãe, o que você quer? -Pergunto.

-Aqui. -Ela tira um papel de dentro da bolsa e joga em cima da ilha. Pego o papel.

-O que é isso?

-Convite de casamento. Não é mágico? É o que as pessoas fazem quando vão amadurecendo. -Ui. Senti a alfinetada.

-Entendi o recado. -Bufo. -Mas não posso aceitar. Não tenho par para ir.

-Jura? E o Cameron? A mãe dele disse que ele estava louco atrás de você. -Ela comenta pegando o resto do bolo de chocolate e comendo.

-Ele não presta mamãe. É igual, senão pior, do que todos os homens que já conheci!
-Falo e vou até o quarto, pego a toalha, mamãe me segue.

-Só acho que você deve parar. Sofia, você está ficando velha, não percebe!?

Faço uma cara horrorizada, e muito ofendida, pra falar a verdade!

-Sejamos honestas, minha filha, você já está quase com trinta anos. Tem certeza que não encontrou alguém razoável para viver com você para sempre? Ou até o divórcio, sei lá.

-Mamãe! -A censuro.

Ela dá de ombros.

-Na verdade, -Penso bem. -Acho que encontrei, mas o perdi.

-Então vá procurá-lo.

-E o que acha que estou fazendo? -Retruco, amarga.

Saio do quarto e vou pro banheiro, ela me espera sair.

Enrolada na toalha, entro no quarto novamente e a encontro na borda da cama, segurando um desenho. O meu desenho! Me aproximo dela e me sento ao seu lado.

-É esse rapaz? -Ela pergunta.

-É. -Respondo, olhando o desenho extremamente realista em sua mão. Parece que alguém de fora estava desenhando.

-Ele é lindo. -Ela sorri com dor. -Ele parece tanto com o meu primeiro amor.

-Seu primeiro amor? -Repito.

-É. Era meu amigo. Quando tentamos algo mais, eu não estava preparada e nem ele. Nos magoamos. Aquilo quebrou meu coração. Eu nunca mais fui a mesma. Casei com seu pai, eu sei, e não me arrependo já que o amava também. Não tanto quanto meu amigo, mas mesmo assim ainda era amor. Só que quando seu coração ainda pertence a outra pessoa, não há mais ninguém que possa tê-lo.

Minha mãe funga e então percebo seu nariz escorrendo. Ela o enxuga e enxuga as lágrimas também. A abraço e dou-lhe um beijo.

-Filha, -Ela me encara. -Precisa encontrá-lo. Mesmo que dê errado, mesmo que precise tentar de novo, você precisa disso. Viver com essa incerteza não é viver! Nem sequer é existir. É só estar aqui, mas não estar realmente aqui!

Franzo o cenho.

-Eu não faço a mínima ideia do que isso possa ser. -Sorrio e lado e ela ri.

-O encontre. Diga a ele o que sente. Não tenha mais medo. -Ela diz e me abraça.

Sei que estou a beira de me debulhar em lágrimas, então a abraço forte, recebendo o apoio que eu precisava para continuar a minha busca.

*

Era quase meio-dia. Estava exausta. As galerias, assim como muitos estabelecimentos, fechavam por causa do horário de almoço. Já não tendo outras opções, entrei em uma lanchonete. Estava com um cheiro bom, o que fez minha barriga roncar.

Muitas pessoas ocupavam as mesas, fazendo com que minha única opção fosse me espremer no balcão. Um garçom logo veio.

-Quero um combo. Porção extra de batatas fritas, por favor. -Digo.

O garçom apenas concordou com a cabeça e saiu. Peguei meu celular e havia algumas mensagens.

Florinha: Encontrou ele? Quer ajuda?
Florinha: Você está bem? Está tudo bem?

Sam: algum sucesso com a busca?
Sam: Ps: sei que é algo chato, mas ainda quero seu conto.

Argh! Jogo o celular na bolsa e apoio os cotovelos no balcão. Distraída, espero o pedido. O rapaz não demora a trazer.

-Aqui. -Ele leva o prato a frente. -Um combo com porção extra de batatas fritas.

-Obrigada. -Digo.

-Ei! Espera! Eu conheço você! -O garçom exclama me encarando.

Confusa olho por trás dos ombros.

-Eu? -Pergunto.

-É. -Ele sorri. -Você é a garota do quadro.

-Garota do quadro? -Repito. -Desculpa. Deve estar me confundindo.

-Não! É sério! Olha! -Ele aponta para um lugar atrás de mim.

Me viro e as pessoas ao redor começam a notar a situação. O garçom aponta para uma parede, onde um quadro de quase um metro está pendurado onde, provavelmente, antes era apenas uma parede de tijolos sem graça.

Uma grande pintura com a minha cara está dando vida ao local. Eu estou sorrindo, como na vez em que eu e Pietro fomos ao parque. Estou perto do chafariz, meus cabelos meio avermelhados parecem castanhos, e estão molhados, assim como meu vestido amarelo de bolinhas brancas. Estou sorrindo para ele. E eu, realmente, pareço muito feliz.

-Sou eu. -Percebo.

-Caramba. -O garçom continua. -Você é realmente linda. É meio que uma honra conhecê-la.

Me viro rapidamente.

-Onde conseguiram isso? -Pergunto com o cenho franzido.

-Ahn... -O garçom começa a ficar nervoso. -Foi um homem.

-Que homem? -Continuo a pressiona-lo.

-Loiro! -Ele diz rápido. -Foi um homem loiro!

-Quando? -Ergo uma sobrancelha.

-Faz uns três dias, eu acho. -Ele acaba por dar de ombros.

Saio do balcão e caminho por entre as mesas até o quadro. Ao me aproximar noto a mistura de cores que se sobressaem em tons claros, dando leveza a figura.

É um sinal!  Só pode ser!

-Para qual direção ele seguiu? -Pergunto ao garçom.

O garçom se assusta de novo.

-Direita.

-Direita?

-Sim. Direita. -Ele responde rápido. -Por ali.

-Obrigada.

Pego a bolsa e saio, com mais um pouco de esperança no peito.

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Desculpa a demora :/

Meu Melhor Amigo ImaginárioOnde histórias criam vida. Descubra agora