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(C, assista ao vídeo)

Quando amanheceu comecei a tatear o lado para encontrar algo, mas só encontrei lençóis vazios. Me levantei com um solavanco e fiquei desesperada. Meu peito começa a bater acelerado e adrenalina me faz ficar elétrica.

-Pietro? -Começo a chamar. -Pietro!

Saio da cama e começo a procurá-lo pelo apartamento.

-Pietro! -Chamo.

-Oi! -Ele surge da cozinha. -O que aconteceu? -Pergunta preocupado.

Meu coração dá um pulo no espaço e volta, ficando aliviado quando vê o loiro alto e preocupado na minha frente.

O abraço.

-Pensei que tinha ido... -Murmuro.

Pietro passa a mão no meu cabelo, acalmando-me.

-Estou aqui, minha linda. -Ele toca meu queixo para que eu o encare. -Não há outro lugar para eu estar senão seu lado.

Sorrio e o beijo. Há como isso ficar mais perfeito?

Comemos juntos, e, como era fim de semana, optamos por ir ao parque.

Vesti meu melhor agasalho, já que o dia estava frio. Ele também tinha roupas novas.

Nossas mãos estavam juntas, enquanto percorríamos por todo o parque, rindo e brincando. Meu coração dizia que aquilo era real, mas meu cérebro gritava para que eu estivesse alerta, pois coisas boas duram pouco, e, as vezes, é quase nada!

Nos sentamos ao banco, ainda rindo. Então parei para olha-lo.

-O que foi? -Ele pergunta.

-Nada. -Dou de ombros. -Só estou feliz que esteja aqui.

Ele sorri e abaixa a cabeça. Brinca com minha mão.

-O que foi? -Pergunto.

-Nada. -Ele continua sem me olhar.

Eu disse que tinha alguma coisa errada! -Meu cérebro me ralha.

-É sério. -Tento sorrir. -O que foi?

Pietro olha para frente, suspira e olha para mim. Meu coração começa a se perturbar.

-Não sei quando voltarei... -Ele murmura.

-Voltar pra onde? -Pergunto.

-Pro outro plano. -Ele diz. -Sou um... anjo!

-Do que está falando? -Pergunto. -É uma piada? -Me afasto relativamente dele.

-Sempre soubemos que podia acontecer, só estou esperando que me chamem. Pode acontecer a qualquer momento... Uma criança com problemas familiares, que precise de um amigo... Não posso recusar caso me chamem.

-E por que raios voltou?! -Pergunto. Não vou chorar! Não vou chorar!

-Por você! -Ele tenta tocar minha mão, mas a puxo.

-Não! Não foi! -Falo. -Sei que não pode ser, porque, se fosse por mim, você nunca iria me deixar!

-Amo você! -Ele diz. -Eu jamais deixaria, se essa escolha coubesse a mim.

Eu não sei em quê acreditar, mas, no fundo, ele fala a verdade. Sempre soube quando ele falava a verdade. Ele não me deixaria se essa fosse a escolha dele. Ele não me magoaria de novo. Ele apenas não podia evitar.

Quando decidimos voltar eu já não estava sorrindo. Por quê? Só me perguntava o por quê!?

A noite, enquanto ele me envolvia em seus braços, chorei. Chorei pois, quando acordasse, quem sabe, ele não estaria mais lá. E, talvez, aquela seria a última vez que fazíamos amor. Então eu chorei em silêncio, na amargura do meu desespero. Sei que ele vai me deixar, só não queria acreditar!

*

*

*

Abri meus olhos, sentindo falta dos braços que me fizeram dormir. Eu já estava preparada para procura-lo novamente, mas parei ao ver um bilhete pregado em um quadro. Na metade do quadro, duas crianças estavam brincando, na outra metade, um casal se beijava. Nós!

Peguei o bilhete.

Querida amada minha, eu sinto em te deixar, mas, dessa maneira, acho mais fácil. Não quero que me veja ir embora e que fique remoendo essa lembrança. Lembre de mim. Lembre nós. Lembre do nosso amor! Seja feliz, independente do que aconteça. Eu torço por sua felicidade, e, mesmo não podendo ser ela, desejo que a tenha! Que seja feliz e que tenha uma vida plena!

-Pietro Clark, seu melhor amigo imaginário, e o homem que mais te amou nesse mundo!

*

Quando Flora termina de ler, ela me encara atônita.

-Ele se foi?

-Sim. -Bebo o café.

-Não está surtando?

-Estou triste, mas, sendo honesta, fico feliz por ter experimentado o amor uma vez do que nunca ter sabido amar! -Falo. -Não vou tê-lo, mas ninguém também terá o que tivemos!

-Fico feliz que pense assim, minha amiga. -Flora aperta minha mão sobre a mesa. -Estou orgulhosa.

*

Assim que piso no andar e os olhos se voltam para mim, penso bem e, sorrio.

-Bom dia. -Começo a falar para todos que passam por mim.

-Bom dia. -Eles retribuem, um tanto surpresos.

Entro na sala e vejo a mesa de Pietro. Noto o caderno que ele esqueceu. Decido abri-lo... O primeiro desenho é de mim, o que ainda me surpreende mesmo já sabendo!

-Sofia! -Sam entra apressado, me fazendo derrubar o caderno.

-Oi. O que foi? -Pergunto alarmada.

-Venha até minha sala agora! -Ele pede.

-O que houve? -O sigo.

Entramos na sala dele e ele fecha aporta.

-O que eu fiz? -Pergunto.

-Isso. -Ele aponta pro manuscrito que eu o escrevi.

-O que foi? Você não gostou? -Pergunto.

-Não. Eu o amei. -Ele diz. -Mas, precisamos de um final, um final épico.

-Sinto muito, Sam, mas não há finais épicos quando se brinca com a razão e a emoção desse jeito. -Falo.

Sam parece surpreso e me encara.

-Você o viu? -Ele pergunto com os olhos arregalados.

-Sim. -Murmuro baixo.

-Falou com ele?

Balanço a cabeça afirmativamente.

-E?

-Eu me despedi. -Sorrio de lado e uma única gota escorre pela minha bochecha.

-Ah, minha querida! -Ele me abraça. -Você vai ficar bem?

-Claro! -Murmuro e sorrio. -Ficarei bem, sim.

-Eu não sei se é o momento certo, mas gostaria de discutir os termos autorais.

Fico confusa.

-Como assim? -Retruco. -Você vai publicar?

-Claro! -Ele sorri. -Você não soube? Fiquei meio ofendido, mas veja! -Ele mostra a tela do computador.

-Ganhei o concurso. -Noto catatônica. -Como?

-A maioria votou no seu conto! Queremos a continuação. A publicação será breve, não?

-Claro! -Abro o sorriso. -Todos saberão dele! Vou entrega-la o mais rápido possível.

-Conto com isso! -Já estava prestes a sair quando ele interrompe. -Sofia, sei que você ainda está sofrendo, mas não deixe mais a dor abafar seus outros sentimentos.

Assinto, sorrio e saio.

Pietro mudou minha vida. Aquilo era mais do que eu poderia imaginar...

Meu Melhor Amigo ImaginárioOnde histórias criam vida. Descubra agora