Como noche, como sueños, son los 'gatos' negros

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Gosto de lendas urbanas. Inclusive, sou contra aqueles que as tentam desvendar. Deixe-as. Quietinhas, só nos alimentando, instigando debates tarde da noite em botecos, desses bate-papos que só se findam quando alguém fala "vejamos no Google" e decreta-se o ponto final. Mas não no caso das lendas urbanas. Não há Google que as solucionem.


Curitiba é pródiga nas tais. Pirata Zulmiro, jacaré do Parque Barigui, vampiros que escrevem livros – muito antes da moda pegar – e por aí afora.


E não é que uma das lendas mais saborosas da cidade caiu por terra. Não, ela não foi desmascarada, foi confirmada. Por isso, deixou de ser mito. Porém, talvez, tenha se tornado maior.


Há por cá, na terra do pinhão mais que do leite quente, um restaurante, um centro pseudodançante, lar de esfomeados e mariposas, cujos teclados entoam os clássicos do cancioneiro popular noite adentro, chamado Gato Preto. Ponto de encontro de figurinhas carimbadas curitibanas e criador das melhores e mais deliciosas lendas urbanas locais.


Conta-se à boca pequena que, em dada madrugada, lá pelo final dos anos 1990, ninguém mais, ninguém menos que Julio Iglesias teria dado uma canja por lá.


Sim, Julio, o latin lover, cantou no Gato Preto.


É por essas e outras que viver vale a pena.


Por mais incrível que pareça, o caso é verdade verdadeira, diria aquele personagem, e foi confirmado pelo próprio cantor em entrevista ao jornal Gazeta do Povo.


Pensa só: você vira a noitada à base de Cuba Libre, cerveja, rum e adjacências, no caminho de volta para casa decide provar uma costela ao forno – especialidade das especialidades do local – para quedar a iminente ressaca do dia seguinte e, tchan-tchan-tchan, lá está ele...


"Soy dichoso como nadie,

porque cada dia me espera,

la dulzura de sus besos,

y ese amor inmenso que me da Manuela"


Putaquepariu, é de dar cambote em piscina de bolinha.


Quem estava por lá deve ter pensado que era um sósia, um cover, uma miragem. "Julio Iglesias, no Gato Preto? Mais fácil ganhar bom dia, regado a café de cortesia, do Dalton Trevisan".


Pior: celular era artigo de poucos. Como ligar para os amigos? E a selfie? Whatsapp?

– Deixa ver se eu tenho ficha telefônica aqui!


Sim, senhor, Julio Iglesias! Disse ele ao repórter: "Cantei, cantei e cantei. Me lembro perfeitamente, como se fosse ontem. Caminhei até lá, entrei no local e cantei algumas músicas com o pianista que estava tocando por lá".


Ainda sinto arrepio cada vez que leio esse troço.


Grande Julio, o astro, o homem que seduziu vovós, mamães e netinhas.


Você pode se perguntar: como ele se lembra? Rá!, não duvide do mestre. "É uma cidade muito especial. Tenho um carinho muito grande [por Curitiba]. Por muitas razões. Em especial, porque tive aí um grande amor, que eu adorava. Imagino que ela ainda viva na cidade", suspira.


Quem? Quem é? Diga-nos, Julio! Ou não, melhor não, criemos uma nova lenda... Afinal, por conta desse amor longínquo, nosso quase conterrâneo afirma que "é uma das poucas cidades das quais me lembro do hotel, do restaurante, das ruas, das pedras nas calçadas."


Das pedras nas calçadas!


Crazy!

I'm crazy for feeling so lonely

I'm crazy!

Crazy for feeling so blue


71 anos, 80 discos, que venderam mais de 300 milhões de cópias em todo o mundo, conquistas de despertar inveja em Giacomo Casanova e Don Juan, 2,6 mil discos de ouro, platina e diamante e cerca de 60 milhões de espectadores em seus shows ao longo da vida... e ele se lembra dos petit-pavé de Curitiba.

O riso, o raso e a rezaOnde histórias criam vida. Descubra agora