O instante decisivo

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Existe um instante singular, quente e mágico, não mais que um segundo, que precede o beijo. Não fossem as leis da relatividade, o acharíamos muito breve. Um mero piscar. Contudo, às vésperas de um beijo, tal instante ganha minutos e horas.

Todas as conversas e quereres se condensam naquele momento numa intensidade cujas palavras escapam. Aparentemente, não há tempo suficiente para se descrever o que se passa nesse segundo, mas há tempo suficiente para se reviver meses de experiências que construíram aquele momento.

Você está lá, a um centímetro do toque, e tudo ganha um caráter explosivo. Uma mistura de querer o tempo parar, para não perder nenhum detalhe, com a sede de experimentar um mergulho quente e profundo. Tudo já foi imaginado, sonhado, pensado, desejado ardentemente e, finalmente, vai se concretizar. A respiração sobe, os sentidos se aguçam. Tudo em volta se cala, mas o corpo grita.

É o que Cartier-Bresson chamou na fotografia de o instante decisivo.

Em nosso clique, o som do mar, a textura da areia, o toque da brisa ganham contornos de literatura. Ainda não chegou ao beijo, mas é iminente. Nesses milésimos todas as palavras se queimam em vermelho batom. Falta pouco...

Falta pouco para condensar todas as sensações e sintonias. Um beijo que, ao se dar, não se quer que acabe. Um beijo que, nesse relativo espaço de tempo, já aconteceu e ainda está por acontecer. Que já se desenhou em conversas e mais conversas, que se faz a cada dia melhor e mais aguardado. Um instante. Um beijo. Decisivo. 

O riso, o raso e a rezaOnde histórias criam vida. Descubra agora