Tenho medo da Galinha Pintadinha

10 1 0
                                    

Eu tenho medo da Galinha Pintadinha. Pronto, falei. Aquilo não é coisa certa. Diriam aqueles à minha direita que ela é uma galinha de bem. Balela! Tem pacto. Acredite.

Vi com meus próprios olhos. Cenas de exorcista, de mentalista, de hipnotista (perdão, foi para rimar)... Hipnotizador, melhor. O caos se estabelece, uma criança chora, berra, esperneia, resmunga. E agora, quem poderá nos defender?! "Eeeeu..." A Galinha Pintadinha.

Coloca-se o vídeo e a paz se faz. E o neném começa a rir e a bater palmas e a chacoalhar, pra frente, pra trás, pra frente, pra trás, alegremente. Não desgruda mais os olhos. Esboça cantarolar mesmo que ainda só saiba vogais.

E não adianta, tem de ser ela. Nem tente outras musiquinhas, videozinhos, bichinhos animados. É ela, somente e tão somente ela que dá resultado.

Meninos, eu vi. Com esses olhos que a terra há de comer e as penadas bicar.

Quando o vídeo teimava em terminar, o choro voltava, como se um sufocar tomasse conta do bebê. Como se lhe tirassem o mamá, a chupeta, o chocalho, como se lhe dessem de presente um CD do Lobão (me tirem o tubo!) e ainda lhe espalmassem.

"Coloca outro vídeo, rápido!"

E então, "Parabéns, parabéns, parabéns".

Cenas inexplicáveis. Tranquilidade e um júbilo infante que não cabem num cenário habitual. Vai contra tudo o que se estuda em biologia, sociologia, psicologia, cartomancia.

Tenho medo da Galinha Pintadinha. Medo dela e da paz camuflada, forçada, que produz.

Uma paz inexplicável. Uma contagiante felicidade inverossímil. Inebriante. Narcótica. Por que ela? Por que só ela? Por que aquela música, com ela e seus coleguinhas a subirem e descerem alternadamente?

"Parabéns, parabéns, parabéns!"

Eu vi. Foi assustador.

O riso, o raso e a rezaOnde histórias criam vida. Descubra agora