O ardil e o chocolate

16 1 0
                                    


Passeava pela 5ª Avenida, em Nova York, quando passei em frente a uma loja da Lindt. Sim, o chocolate. E sei o que você, desavisado leitor, deve estar sentindo neste momento. Sei perfeitamente que o sabor, o aroma, o derreter na boca vieram, incontrolavelmente, à sua mente neste exato momento. Lindt, ai, ai!


Quando passei em frente à famosa loja de chocolates, talvez os mais deliciosos do lado Noroeste da Galáxia, estava decidido a me segurar. Não, não, eu não precisava daquelas delicias naquele momento, afinal, estava em NYC, com minha namorada, a passear e turistar. Portanto, perfeitamente saciado dos prazeres mundanos.


Não e não!


Foi neste momento, quando a decisão de seguir em frente estava definitivamente tomada, que percebemos que à porta da chocoloja havia um funcionário com uma cestinha dando chocolatinhos Lindt a quem entrava. Eu disse DANDO! De graça... ai, ai, ai...


Olhei para minha namorada e ela, com a cumplicidade e sapiência que nos é peculiar, disse, praticamente lendo os meus pensamentos: "a gente podia entrar só para pegar uns chocolatinhos free e daí seguimos nosso rumo. Que tal, hein, hein?".


Ora, por que não? Usaríamos da "malandragem do bem". Entraríamos na loja – não era a intenção do rapazinho à porta? – pegaríamos os doces grátis, daríamos uma volta lá por dentro, disfarssoviando, e sairíamos felizes, com o dever cumprido.


Mas você aí bem deve saber: chocolate é coisa do Tinhoso. E o demônio é ardiloso!


Quando entrei na loja da Lindt, percebi que estava ferrado. Não vi, mas é certo que o jovem à porta, que acabara de me entregar "chocolates de graça", esboçava seu sorriso algo Alex DeLarge por trás de mim.


Logo que pisei dentro do espaço já dei de cara com diversas caixas de acrílico forradas de chocolatinhos de todas as cores, sabores, notas e intenções, a granel, sedentos por serem degustados. Ainda poderia ter me safado, contudo, em um segundo de deslize, provei o bombom que havia recebido na entrada... E ele se derreteu e foi deslizando pela minha língua, garganta, inebriante, dissimulado, cremoso e achocolatado. 


Quando dei por mim, estava com duas sacolas cheias de todos os tipos de chocolates que você possa imaginar. Já os provava ali mesmo, lambuzando-me, com a ponta do nariz pintada de cacau, passando apenas as as embalagens no sem recheio no caixa ao pagar a conta – ou melhor, ao assinar o pacto. Sim, pois havia vendido minha alma às custas de uma inocente tentativa de malandragem. Muito mal sucedida, diga-se de passagem.


E o Alex lá, de chapéu coco, avental, cesta forrada a substituir a bengala, sorrindo e gentilmente oferecendo "who want a chocolate?"

O riso, o raso e a rezaOnde histórias criam vida. Descubra agora