Capítulo VIII - Jon

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Ele entrou no bordel como entrava no campo de batalha. Costas eretas, músculos rígidos, dentes cerrados e a mão na cabeça do lobo que adornava o punho da espada. Passou o polegar pelas orelhas pontudas até o focinho esculpido, sentindo os olhos como dois buracos fundos.

O vento frio da manhã entrou pela porta aberta, circundando-o como uma mão de um Caminhante Branco, com seus dedos gelados arranhando sua espinha. Os olhares começaram a virar-se para ele até que todo o recinto caiu em um profundo silêncio. Não havia muitas pessoas, ainda era cedo do dia, mas eles eram suficientes para fazê-lo se arrepender de ter ido ali. Mas não poderia ter mandado alguém. Seria arriscado demais não ir pessoalmente.

Trouxe ar para seus pulmões, procurando acalmar os nervos, mas teve pouco sucesso. Sentia como se estivesse prestes a decapitar um criminoso, o silêncio excruciante e a tensão pairando no fio da espada. Mas assim que deu o primeiro passo, foi como se tivesse baixado a lâmina e todos voltaram a falar, beber e rir como se ele não estivesse mais presente.

Jon caminhou até o balcão como se houvesse a ponta de uma lança ameaçando lhe perfurar as costas. Sabia que os homens e as mulheres ainda o seguiam com os olhos, tentando descobrir o que infernos ele estaria fazendo num lugar como aquele, mas tentou não prestar atenção nisso.

- Minha senhora. - Ele falou respeitosamente para uma mulher rechonchuda que sorria com dentes amarelos. Tinha os cabelos da cor de palha seca e o rosto redondo era coberto de sardas que desciam até o colo dos seios apertados propositalmente para fora do vestido decotado de forma descarada. - Procuro por Lorde Tyrion Lannister.

A mulher pareceu radiante pelo tratamento cortês e moveu os braços de forma que os seios fartos espremeram-se ainda mais para fora da roupa. Jon continuou com os olhos fixos nas opacas orbes verdes dela, perguntando-se como ela suportava o frio cortante vestida daquela maneira.

- Temo dizer que o 'nhor Mão está ocupado, meu 'nhor. - Ela piscou os cílios como se estivesse com areia nos olhos. - Mas posso ajuda-lo a encontrar outras coisas melhores. - E correu a língua leitosa pelos lábios salpicados de feridas.

Jon lutou contra o desejo de levar a mão ao nariz e se afastar. O cheiro do bordel não era agradável, uma mistura de vinho fermentado, mofo, madeira molhada, fluidos corporais e fumaça que lhe embrulhavam o estomago. Mas quando a mulher falou, o fedor ficou centenas de vezes pior, como o hálito de um cadáver em putrefação.

- Não será necessário... - ...minha senhora, ele quase completou, mas mudou de ideia. Era sempre perigoso que prostitutas confundissem cortesia com simpatia. - Chame Lorde Lannister.

Ela estalou a língua com desagrado. - Como quiser, meu 'nhor.

O lorde apertou o punho de Garralonga contendo um suspiro. Ousou olhar de lado e deparou-se com uma jovem apoiada num canto de parede, olhando-o como se pudesse despi-lo apenas com os olhos. Cabelos negros, rosto afunilado, mas pouco se via além do seio que estava fora, livre de uma das mangas caídas do vestido puído, que ela deixava à luz, enquanto seu corpo era encoberto pelas sombras. Ela sorriu maliciosamente e levou uma mão até a curva do seio, com a aureola mais escura entumecendo-se ao toque e levantou-o na palma. Jon engoliu em seco e resolveu encarar a madeira cheia de buracos do balcão.

Ele já havia contado 30 lascas amareladas na madeira pobre quando Tyrion finalmente apareceu. A mulher que o atendera ainda piscou em sua direção antes que ele agarrasse o meio-homem pela gola do manto e o arrastasse porta afora.

- Ei, devagar com isso, Lorde Snow. Não há demônios lá dentro. - Tyrion desvencilhou-se da mão dele, enquanto amarrava os cordões dos calções. - O que é tão importante para ter feito o grande Lorde Stark entrar em um bordel? Quase pensei que quisesse se juntar a mim.

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