Capítulo XIV - Daenerys

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A coroa pesava em sua cabeça. As espadas do trono incomodavam e ela mantinha as costas eretas para não espetar-se com as lâminas do encosto, de uma maneira que ela nunca precisara fazer antes. Suas mãos estavam cruzadas polidamente sobre o colo com os dedos brancos de tensão, mas seu rosto estampava a placidez e imparcialidade que Sor Norryn Hightower buscava para a solução de seu problema.

As terras do lorde, recém adquiridas pela morte de um primo, permaneciam nas mãos da tia, Lady Opúria Hightower, e ele solicitava a intervenção real para ser seu direito garantido.

— A mulher esta ocupando meu castelo! Ela e todas aquelas dezenas de filhas choronas. Comendo minha comida, gastando a água dos meus poços, dormindo nas minhas camas e usando meus cavalos de justas para arar! – Ele abriu os braços, falando mais para a corte que assistia do que para a rainha. – Qualquer idiota sabe que esse tipo de cavalo  não pode puxar uma tração de ferro. Mas como é mulher, acho que posso entender. – Alguns desajuizados, ou tolos, riram como bajuladores que eram. Ele voltou-se para a mulher no Trono de Ferro. – Tudo o que peço é que a retire de minha casa. Nada mais do que meu direito, Vossa Graça.

A rainha olhou para ele, com desprezo destilando de seus olhos. Um homem de meia idade, com a barba castanha meticulosamente aparada e um gibão colorido com o cinza e vermelho da sua Casa. A barriga proeminente, filha do vinho em excesso e falta de real ocupação, servia de suporte para a pesada corrente de ouro que ele usava com orgulho. Homem... Ele não é um homem de verdade. Apertou as mãos, para controlar a fúria de alguma forma.

— Sor Norryn, quantos dias do nome tem a mais velha de suas primas? – Perguntou com o queixo erguido. A criatura contorceu o rosto inchado, em confusão. – Responda. – Exigiu rispidamente.

— Acho que Selena tem oito. Não presto atenção nessas futilidades, tenho coisas mais importantes para fazer. – Suas bochechas flácidas tremeram e ela viu gotículas de saliva voar.

— E tudo o que me pede é que eu expulse uma senhora viúva, com filhas pequenas da única casa que elas têm? – Sentia as unhas perfurarem a carne macia das palmas, tamanha era a força que ela usava para se conter. Por que um ser como este ainda está respirando e andando livre, enchendo a barriga de vinho, dormindo em lençóis de seda, enquanto ele... Fechou os olhos para se acalmar. Depois de encher os pulmões e soltar o ar vagarosamente ela fixou suas íris violetas no homem. – Eu deveria expulsar você, Sor Norryn. Tirar-lhe todos e quaisquer títulos e posses. Deveria garantir que nunca mais tivesse conforto pelo resto de sua vida medíocre. – Viu, com certa satisfação, ele arregalar os olhos já esbugalhados por natureza e seu queixo tremer. O homem precipitou-se para ela, caindo de joelhos ao chão. O som dos ossos contra o mármore acerado ecoou no salão mortalmente silencioso. Antes que ele pudesse implorar pateticamente pela vida, ela falou. – Não irei fazer isso. Ao contrário, de hoje em diante você irá cuidar de Lady Opúria e suas filhas até o dia das suas mortes. E se acaso chegar aos meus ouvidos um sussurro sequer, de que elas não estão sendo bem tratadas, eu servirei sua cabeça para Drogon apreciar.

Ainda com os olhos saltando das órbitas, o homem assentiu, balançando a cabeça repetidas vezes e tropeçando nos próprios pés ao sair apressado do recinto. Dany segurou um suspiro e relaxou os ombros discretamente. Olhou para Tyrion Lannister, sentado em uma cadeira acolchoada alguns degraus abaixo.

— Quantos ainda faltam? – Perguntou sem demonstrar o cansaço que dominava seu corpo.

O meio-homem baixou os olhos para um pergaminho comprido que estava sobre sua pequena mesa redonda. – Sessenta e sete. – Seu semblante carregava uma expressão de desculpas, mas não era falta sua que o povo de Westeros exigisse a atenção de sua soberana.

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