Capítulo XXI - Arya

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O céu estava tão fechado quanto as enormes portas do castelo. Vista à distância, Winterfell parecia tão pequena quanto uma das casinhas de bonecas que acumulavam poeira no canto mais escuro de seu antigo quarto. Mas mesmo ao longe, com suas torres e ameias desaparecendo por entre a bruma cinzenta, a fortaleza conseguia trazer à tona um turbilhão de emoções que ela não sabia que guardava. E por isso ela parou, segurou as rédeas de seu cavalo negro e aspirou o ar familiar. O vento do Norte atravessou suas peles e fez seus olhos arderem, perfurando as barreiras que tão duramente ela impora sobre seus sentimentos.

— Jon... – O nome do irmão escapou por entre seus lábios secos e pareceu dispersar-se ao seu redor, sendo engolido pela terra que ela lutara tanto para voltar. Inevitavelmente a última imagem turva que guardava dele foi invocada pelas árvores cobertas de neve pendente, e esquecendo completamente toda a exaustão que acometia seu corpo, ela fincou os calcanhares nos flancos do animal e rezou para que ele de alguma forma ainda fosse o mesmo.

O sol ainda era uma criança jovem, empurrando seus raios teimosamente para o mundo escuro, quando ela chegou perto o suficiente para ser avistada. Um lanceiro veio cavalgando curvado e tremendo sob sua capa grossa de peles, a barba com crostas de gelo. Parou a uma distância segura, frente a ela, e fez o cavalo fincar as patas na neve remexida. – Devo alertar para que se afaste, minha senhora. A menos que se identifique, não pode passar deste ponto. – Sua voz soou rouca, mas segura e impondo os limites que ele achava necessário.

A garota ergueu a cabeça, fazendo o capuz pesado de sua capa escorregar para suas costas e deixando pela primeira vez em muito tempo que suas verdadeiras feições fossem plenamente vistas. Os curtos cabelos escuros presos, e os marcantes olhos cinzentos como as nuvens. – Meu nome é Arya Stark, e o senhor está atrapalhando meu caminho.

Durante a viagem ela sabia que exigira demais do cavalo, e quando o desmontou à frente das enormes portas que guardavam as muralhas duplas, as patas do animal tremeram de cansaço. Arya bateu levemente na coxa musculosa dianteira, enquanto segurava os freios e o puxava para frente. – Você foi bem, garoto. Vai poder descansar agora. – Assim como eu. Aquele pensamento aqueceu seu coração e ela esfregou os dedos gelados no couro.

O homem que a acompanhava fez um sinal para que um vigilante abrisse o portão e ela prendeu a respiração ao escutar a madeira da trava sendo erguida e as dobradiças congeladas rangendo ao serem forçadas. O pátio não estava tão cheio quanto ela esperara, com poucos homens carregando maços de palha e mulheres com cestos cheios de peças de roupa amarrotadas, ou baldes de água fria. O castelo ainda acordava, mas ela andou com pressa até a entrada principal.

As portas do Grande Salão assomaram diante dela, tão grandes e robustas que faziam-na sentir-se como uma criança outra vez. Mas não eram as mesmas, ela lembrava-se da antiga imponência que seu pai ganhava ao abrir sem muito esforço aquelas gigantes – enquanto ela esforçava-se para empurrar com o ombro – mas estas eram novas, tão estranhas e erradas às suas memórias que pareciam feias e rudes. Mas ela imaginava que quando o fogo chegara e consumira tudo, seus irmãos não haviam tido escolha à não ser substitui-las.

Arya subiu os degraus com as pontas dos dedos latejando de frio e o coração bamboleando-se entre apreensão e ansiedade. Empurrou a pesada porta do lado direito e deslizou para dentro. O salão estava abençoadamente quente, acolhendo-a como uma manta, e ainda iluminado com as fracas luzes de tochas provavelmente restantes da noite anterior. Ela fechou os olhos, deixando o calor banhá-la e que seus sentidos fossem preenchidos pelo aroma do pão recém-tirado do forno.

— A-Arya?! – Por um breve instante seu coração falhou, enganando-se sabe-se lá como com o tom da voz e enchendo-se de alegria. Ela virou-se sorrindo, para avistar uma névoa de cabelos ruivos antes que a mulher colide-se contra seu corpo cansado. Alguma coisa pareceu esmorecer dentro dela, mas a menina abraçou a irmã com a força que lhe restava. Sansa afastou-a com as mãos sobre seus ombros finos, tão parecida com sua mãe que a menina pensou que fosse desabar ali mesmo. – Como... Onde... Onde você estava? Por que não veio com Brienne quando teve oportunidade?!

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