Capítulo XVI - Jon

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Ele acordou como todos os dias antes desse. A luz do sol rasgando a escuridão úmida de sua cela, entrando pela janela alta e comprida, e lhe ferindo os olhos como agulhas invisíveis. Não era de forma alguma agradável, mas ele preferia ter o privilégio de saber quando mais um dia nascia do que estar na perpétua ignorância do sempre noite. Exatos cinco minutos depois do surgimento do primeiro feixe de luz que agitava a imundice em nuvens brilhantes, seu carcereiro batia três vezes na porta grossa e empurrava um mingau pastoso por uma pequena portinhola próxima ao chão. Dez minutos mais tarde, Therry, o imenso carcereiro careca taciturno que vestia o mesmo justilho de couro engordurado todos os dias, voltava para buscar o prato.

Nos dias ruins, Jon não conseguia obrigar seu corpo a si arrastar até o mingau para colocar qualquer coisa na barriga, mas hoje era um dos dias bons, e ele lambeu até o último grão seco de aveia no fundo do prato. Therry chutou a porta em uma pancada que reverberou através dos pesados ferrolhos.

— Ande logo com isso, Lorde Lobo. – Resmungou mal-humorado, mas isso não era de se estranhar, Therry sempre parecia ter um olhar ameaçador no rosto e uma tempestade prestes a desabar na garganta. Mas repentinamente um ar de riso adoçou sua voz estrondosa. – Ou melhor, arraste-se logo. – E riu consigo mesmo, em uma gargalhada alta que devia ter chacoalhado as dobras de seu pescoço.

Jon empurrou o prato vazio pela portinhola, sem achar nenhuma graça na piada infame. Ouviu o homem corpulento pegar o objeto e seguir seu caminho com passos pesados, deixando-o só novamente nos calabouços de Harrenhal. Ao menos aquela informação ele conseguira surrupiar das inúmeras conversas que seus guardas tinham, a madeira da porta era grossa demais e ele tinha sorte quando conseguia captar duas palavras que fizessem sentido. Depois de ter descoberto onde estava, ele gastava a maior parte de suas horas se perguntando como os Dustins, a Casa que detinha a fortaleza, não tinham conhecimento de sua presença. Mas ele escutara, nas histórias de menino, que as celas mais escuras de Harrenhal ficavam à pés da superfície, então ele tentava acreditar que apenas estava longe o bastante para que ninguém o percebesse.

Ou apenas podem estar junto a meus captores. Seus ossos doeram quando ele tentou se acomodar no chão de tábuas deformadas e cheias de farpas, preparando-se para esperar as três horas que antecediam a visita diária mais importante.

Nos primeiros dias ele percebera que contar o tempo e marcar os minutos da mórbida rotina melhorava sua lucidez, e não deixava que ele entrasse em um torpor indiferente. Mas isso também tinha suas desvantagens, assim ele sabia, com um conhecimento fatídico, o que esperar. E talvez isso piorasse tudo.

Jon recostou a cabeça na pedra fria e cheia de deformidades pontiagudas, fechando os olhos. As tábuas do chão rangeram para se acomodar ao seu peso. Ao longe, gotas pingavam em um barulho irritantemente contínuo, mas não deu muita atenção a isso, suas costelas trincadas podiam estar melhores do que ontem, ou mesmo que antes de ontem, mas ainda doíam como o inferno, e a cada respiração profunda demais, a dor fazia sua cabeça girar. Ele experimentou tocá-las, os dedos sujos de seu próprio sangue seco traçaram vagarosamente o caminho de um osso a outro. Sabia que perceberia os danos de uma maneira mais precisa se, com algum esforço, desamarrasse o gibão puído nas mangas e tocasse a si mesmo em pele. Mas tudo o que ele menos queria era uma doença pelos ares úmidos e com cheiro de lodo, então deixou do jeito que estava. Quando chegou à sétima costela do lado esquerdo, sentiu a irregularidade e um gemido involuntário escapou de seus lábios rachados.

Por experiência de acampamentos de guerra ele sabia que se elas cicatrizassem erroneamente, podia nunca mais lutar ou fazer algum esforço como antes, já que do jeito que estavam, elas apertariam seus pulmões e não deixariam que ele exigisse demais deles. Assim ele trincou os dentes e olhou para cima, com a parte macia da mão sobre o osso, o teto baixo de pedras escuras da cela agigantava-se diante dele e pareceu desaparecer em uma nuvem de dor quando ele pressionou a deformação do osso. Ele abraçou o corpo e fechou os olhos, arfando, e, assim que sua cabeça parou de lhe pregar peças, encostou-se novamente na parede que lhe perfurava as costas. Passou os dedos trêmulos pela parte que apertara e sentiu um mínimo alívio quando percebeu que o osso estava alinhado no lugar certo.

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