Capítulo XI - Daenerys

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Ele não sabe. Repetiu pela centésima vez para si mesma. Não tem como ele saber. Ela suspirou tentando trazer alguma calma para si, mas estava impossível. Suas mãos tremiam e seu coração estava acelerado. Sentia-se mal agora que parecia estar mentindo para ele, como nunca se sentira ao longo de todos esses anos que escondera aquilo. Mas naquela hora... Por um segundo pareceu que ele sabia.

Eles estavam tendo um ótimo momento, ele a beijando daquela forma... Apenas a lembrança já trazia calor à seu corpo. E havia sido tão bom senti-lo perto de si novamente depois de tanto tempo. Dany se remoera durante cada dia daqueles meses, na indecisão de mandar ou não alguma letra. Chegara a escrever dezenas de cartas, e todas haviam encontrado um caminho para o fogo. Havia certa lógica naquele pensamento, o de não contar nada a ninguém, mas ela não era qualquer pessoa. Ia se casar com ele, isso devia significar algo, então proibira a si mesma de colocar qualquer gota de tinta no papel para ele.

Reconciliar-se logo havia sido agradável, e se todas as vezes que eles brigassem algo daquele tipo fosse acontecer, ela não se importaria com algumas discussões. Mas ele falara aquilo, sobre os segredos. Uma pergunta quase boba para ela, que não pretendia esconder nada dele nunca, exceto por tê-la feito se lembrar do que mais ninguém sabia.

Até que o sol nasça no oeste e se ponha no leste. Até que os rios sequem e as montanhas sejam sopradas ao vento como folhas... Dany expirou, a imagem de Jon Stark caído no chão branco, com flocos de neve derretendo nos cabelos e um riso morno, surgiu em sua mente. Ela mordeu o lábio. Você ainda se casaria comigo se soubesse que eu nunca lhe darei filhos? Aquilo era algo dela, nunca conseguira compartilhar com ninguém, mas parecia tão errado ele não saber - como nunca parecera errado que Hizdahr zo Loraq, o falso homem que casara por paz em Meereen, não soubessese de coisa alguma. Mas Jon... ele tinha esse direito, não? De forma alguma havia escondido propositalmente, mas também não sabia como contar.

- Vossa Graça está bem? - Missandei parou as tranças que fazia para olhá-la. Daenerys assentiu, recusando-se demonstrar suas dúvidas, e a mulher voltou ao penteado em seus fios prateados.

Olhando-se no espelho, mesmo em um quarto iluminado por velas, ela devia se sentir radiante. O vestido em seu corpo era o mais belo que já usara em toda sua vida. Da saia até o busto a maior parte era linho branco como o leite, mas, onde começava sua cintura, ramos vermelhos de seda se entrelaçavam, indo formar espirais que engrossavam até que seus ombros fossem cobertos apenas de fios rubros. As linhas de seda de Myr abraçavam seus braços até os punhos, num bom amparo para o frio da noite. Nas costas, cordões de veludo escuro haviam sido trançados para manter a roupa presa em seu corpo, desenhando suas curvas de mulher.

Dany levou os dedos à sua coroa dourada, cravejada de rubis da cor do sangue. Não sabia porque, mas ouro parecia inadequado ali no Norte, como um manto de peles nas areias de Dorne durante o Verão. Mas era preciso que ela usasse seu maior símbolo de poder, para que a solenidade do seu casamento fosse percebida.

Ao lembrar-se da cerimônia que aconteceria daqui a minutos, suas entranhas se contorceram. Não lhe ocorrera que ficaria nervosa apenas para dizer algumas palavras em frente a uma árvore com rosto, mas suas mãos suavam e ela sentia frequentes arrepios.

A princípio ela idealizara um casamento em Porto Real, no Grande Septo que ela reconstruíra, de frente para o Alto Septão, sob a vigília dos Sete. Mas devia ter imaginado que seu futuro esposo seria apegado demais aos costumes nortenhos para aceitar tal coisa. Não, ele queria que eles fossem unidos com os deuses antigos como testemunhas, de pé, entoando seus votos para um rosto de madeira enrugado. Ela tentara se opor, mas ele estava resoluto, daquele jeito silencioso, e ela apenas conseguira a barganha de que um septão estivesse presente e que eles também dissessem as falas da sua religião. Resmungando um pouco, ele concordara.

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