Capítulo IV - Jon

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A espada caiu de surpresa com um barulho metálico que foi abafado pelos outros sons do pátio.

- Muito bom Jon. - Sor Rodrick elogiou sinceramente e ele retirou a lâmina sem fio do peito do irmão. - Pegue a espada, Robb. - O garoto ruivo se abaixou para obedecer, mas Jon já lhe estendia o objeto, erguendo as sobrancelhas em uma interrogação provocadora. Robb por sua vez sorriu, auto depreciativo, aceitando o que era oferecido. - Por hoje é só, meninos. Vão se lavar, estão mais fedidos que cavalos depois de chuva. Vão, andem. - Ele empurrou as cabeças deles em direção ao castelo que acordava.

Os garotos riram se sentindo doloridos e cansados, e apoiando-se um no outro, como sempre acontecia depois dos treinos diários. Mas Jon os preferia, aqueles com espadas, arcos e cavalos, do que as aulas do Idioma Comum, contas e ocasionalmente dança.

- Jon! Robb! - Seus nomes foram gritados por uma voz esganiçada e tipicamente infantil de um garoto de 6 dias de seu nome. Eles se viraram a tempo de ver um chumaço de cabelos ruivos e bagunçados correr e abraçar a perna do bastardo.

- Bran. - Ele lhe assanhou os fios, mais como um cumprimento do que um carinho. O menino levantou o rosto alegre com alguns dentes faltando no sorriso, moveu-se para trás e passou a espiar os lados entre as brechas dos corpos dos dois garotos. Sua posição era como... Se ele estivesse usando os meninos de escudo.

- O que você fez dessa vez, Bran? - Robb chegou à mesma conclusão que o meio-irmão e franziu o rosto jovem, mas enormemente superior como 12 anos sabem ser, para o mais novo.

- Eu escalei. E mamãe viu.

Os mais velhos trocaram olhares. Isso significava que Lady Catelyn estava vindo, irritada, e puniria qualquer um envolvido no crime, a escalada, incluindo possíveis irmãos mais velhos que tentassem acobertar o criminoso, Bran. Principalmente Jon, apenas pelo fato de ser ele.

- No três. - Robb sussurrou, Jon assentiu e agarrou a mão do irmão menor. - Um...

- Brandon! - A voz da mulher fez-se ouvida e eles correram em euforia.

Jon abriu os olhos devagar, o sono ainda agarrado à seu corpo, o deixando letárgico. Não precisou de muito tempo para se situar, pois só havia um lugar onde ele conseguia dormir tranquilamente. Ele respirou fundo o ar puro e gelado, esfriando satisfatoriamente suas vias internas, sabia que era uma irresponsabilidade sua dormir ao ar livre, correndo o risco de ser pego por uma tempestade repentina ou alguma doença do frio; mas não conseguia se impedir de ir ali e fechar os olhos. Apenas no Bosque Sagrado ele se livrava de seus fantasmas e podia pensar em paz. Ocasionalmente acabava dormindo, já que todas as suas noites eram perturbadas, sempre mal dormidas, e ele acordava terrivelmente cansado.

E tinha bons sonhos. O único lugar onde tinha sonhos quando dormia, e esses eram sempre lembranças agradáveis como aquela de a pouco, que deixavam um vazio dentro de seu coração, mas ainda preferíveis que os costumeiros pesadelos da noite.

Fantasma mexeu-se para tirar a neve acumulada em seu focinho. Jon viu que havia um pouco em sua própria cabeça e, percebendo que deveria estar ali mais tempo que normalmente ficava, ele apenas limpou o amontoado de gelo, para depois acomodar-se melhor no represeiro e no lobo, aproveitando o corpo quente do animal.

- Não vamos voltar ainda, - murmurou acariciando as orelhas do lobo, - você sabe que eu tive uma reunião difícil.

E era verdade. Parte principal da razão para tantas famílias nortenhas terem sido convocadas a sair de seus castelos para vir até Winterfell durante um Inverno daqueles, havia sido aquela reunião. Durante os curtos anos do Outono e os primeiros do Inverno, Westeros havia estado em guerras. Mesmo os Starks com seu permanente aviso "O Inverno Está Chegando", haviam entrado nessas batalhas levando o povo do Norte para a carnificina e esquecendo completamente do tenebroso frio que chegava. Agora, eles estavam enfrentando o mais longo e gelado Inverno em mil anos sem terem se preparado. O gelo consumira plantações, congelara rebanhos inteiros e o que ele não tocara os Caminhantes haviam terminado de destruir. Sem nenhum estoque realmente aproveitável, Jon fazia o seu melhor para não deixar todo o Norte morrer debaixo da neve.

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