Capítulo XXII - Jon

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Os gritos romperam o silêncio de seu sono e o fizeram acordar com o coração disparado. O menino afundou as mãos nas peles que o protegiam dos ventos da noite e apertou-as com toda a força que o medo do desconhecido conferia. Arfando pesadamente ele olhou para os lados, e ergueu-se dos travesseiros lentamente, apenas para constatar com alívio o vazio escuro do quarto. Mas logo eles vieram novamente, lamúrias tão sofridas e desesperadas que ele sentiu sua garganta apertar-se.

Jon engoliu em seco e reuniu coragem para afastar as cobertas de seu corpo e sair da cama. Nas pontas dos pés ele foi até a porta, tomando cuidado para não tropeçar nas roupas que deixara teimosamente ao chão ou esbarrar na parca mobília. Com as mãos suando ele abriu a porta e agarrou-se no frio do ferrolho, colando a bochecha vermelha na madeira para espiar pela fresta o corredor mal iluminado. A princípio não conseguiu enxergar nem mesmo um palmo à frente de seu nariz, mas um vulto passou correndo, fazendo-o piscar de susto, e assim que o primeiro archote se fez útil ele reconheceu uma mulher das cozinhas carregando uma bacia com água até a borda. Ela parecia andar apressadamente em direção aos gritos e a sua curiosidade de criança quis segui-la.

Depois de esfregar as palmas no tecido rude das calças, ele foi atrás dela. Mas mal havia dado dois passos quando ecos aproximaram-se e outra pessoa segurou seu ombro. - O que está fazendo aqui, criança? Isso não é hora de estar acordado! Volte para cama! - Mas a mulher que o repreendera não perdeu tempo empurrando-lhe para o quarto porta adentro; segurando toalhas imaculadas em branco, ela deixou-o para trás ao dirigir-se em frente, com um balançar apressado de ancas e passos leves. Jon mordeu o lábio, a indecisão de obedecer a ordem ou ir ver o que acontecia batalhando dentro de si. Quando quase estava convencido de que seria melhor retornar para suas peles quentes, a voz de seu irmão chamou-lhe.

- Ei! Venha aqui! - Robb sussurrou de algum lugar à sua direita, e ele virou-se, procurando cegamente a figura de cabelos ruivos que o requisitava tão urgentemente. Uma mão gelada puxou-lhe pela dobra do braço para as sombras onde se escondia. - Não fique aí parado no meio do corredor. Quer estragar tudo?!

- Estragar o quê?! - Jon sussurrou no mesmo tom eriçado, e agachou-se na reentrância da parede que seu irmão escolhera; um espaço pequeno entre duas colunas, mas suficientemente grande para corpos magros e ossudos de dois meninos com apenas sete dias de seus nomes. De frente um para o outro, seus joelhos se tocavam. - E você sabe o que está acontecendo?

- Estava tentando descobrir, mas você continua falando tão alto quanto um gigante! - O ruivo impediu que ele respondesse ao tapar sua boca com as mãos, e antes que pudesse protestar com indignação, ele viu as saias cinzentas na noite de uma serviçal que voltava de onde os gritos se originavam. Assim que ela sumiu na primeira curva, Jon livrou-se irritadamente das mãos dele. - Eu ouvi uma das mulheres falar alguma coisa sobre o bebê. Acho que meu irmão está nascendo. - Robb ergueu os ombros. - Ou irmã.

Jon Snow olhou para a escuridão que se alongava, escondendo a extensão do corredor. Pensou em mencionar que a criança que nascia era tanto sua irmã quanto dele, mas sabia que o menino não falara aquilo por maldade, mesmo que tivesse doído da mesma forma, então tentou deixar de lado. Robb remexeu-se em seu lugar, atraindo o olhar do bastardo.

- Acha que estão machucando ela? - Ele encolheu-se quando mais um grito veio, parecendo ser perpassado dolorosamente pelo som forte e rouco.

- Bem... - O menino começou, querendo de alguma forma retirar o olhar sofrido do semblante do irmão, mas sem saber como. - Se a barriga da sua mãe é o bebê, então ele tem que sair por algum lugar não é?

Robb uniu as sobrancelhas. - Então eles estão abrindo um buraco?

- Deve ser. Para ela gritar tanto. - Jon arregalou os olhos, incrédulo, quando uma ideia assustadora lhe ocorreu. - Se ela tem dois filhos, então ela tem...

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