Seis

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Charles

Sentado no chão frio e duro do hospital, com o rosto entre as mãos deixo as lágrimas grossas rolarem por meu rosto.

Quando mamãe me ligou vim correndo para o hospital, sendo avisado que meu pai se encontrava na UTI, e ninguém, nenhuma pessoa ali sabia ainda seu diagnóstico.

O aperto em meu peito aumentava cada vez que escutava passos de alguém vindo para perto, ou quando a negação vinha após perguntar de notícias. Ele estava ali, me fazendo sentir o que nunca senti, o medo estava do meu lado.

Ergo a cabeça e vejo mamãe vindo acompanhada do médico da nossa família e me levanto em um pulo.

- Tem alguma notícia? - Pergunto com medo da resposta, observando mamãe com o rosto vermelho.

- Filho, o Dr. vai nos explicar. - Diz mamãe, segurando em minha mão, tentando me passar confiança.

- Por favor, fala logo. - Peço quase implorando.

- O Sr. Makby desenvolveu um tumor no pulmão, e devido a sua imunidade estar extremamente baixa ele teve essa recaída tão repentina e forte. Já demos início ao tratamento, infelizmente o tumor já está avançado. Agora só nos resta torcer para que seu organismo responda de imediato ao tratamento. - Termina de falar e meu coração falha uma batida, me fazendo cair de joelhos no chão.

Câncer, meu pai está com câncer.

Sinto os braços de Charlotte rodearam meu pescoço e ela chora compulsivamente, molhando ainda mais minha blusa.

- Eu quero vê-lo, por favor. - Peço desesperadamente para o médico que assente.

Depois de fazer todos os procedimentos necessários entro na ala que papai está, e sinto que estou com toda a certeza vivendo o pior dia da minha vida.

Pego em sua mão e sinto o quão gelada está.

- Papai, sai dessa cama e grita, briga comigo, mas volta, por favor. Eu vou mudar, vou te dar orgulho, motivos para sorrir e não te decepcionar.  Eu prometo. - Toco seu rosto, não conseguindo segurar as lágrimas que voltam com tudo.

Dois meses depois 

Exatamente sessenta dias  se passaram desde aquele maldito dia, dois meses que viraram uma eternidade cheia de angústias e incertezas.

Meu pai ainda continua na UTI, simplesmente sem melhora, sem esboçar qualquer tipo de reação.

Sempre ouvi falar dessa doença como a maldita doença, e agora realmente sei, o câncer é avassalador, ele destrói a pessoa em questão de dias, aquele homem forte e saudável se tornou magro, enfermo e sem vida.

E é como diz aquele famoso ditado ''Só damos valor quando perdemos''.

Eu não o perdi completamente, mas sinto como se fosse. Há um vazio imenso não só em meu coração, mas também em minha alma.

Ah, como eu queria abrir meus olhos e isso não passar de um terrível pesadelo, descer e ouvir mais um sermão daqueles, mas ainda sim ter ele ali do meu lado falando, esbravejando e não em um leito.

Charlotte

Encaro meu reflexo no espelho e não me reconheço, estou terrível, olhos inchados, cabelos bagunçados e sem brilho, mais magra impossível, simplesmente não tenho mais vontade de nada vendo o estado de papai, cada dia mais abatido e sem reação alguma.

Desço toda a escada sem pressa, desanimada  e percebo que apenas os empregados estão ali, vejo de relance uma foto de papai e mamãe juntos no centro da mesinha.
Caminho até lá, pegando-a.

- Acorda logo, papai. - Suplico já em lágrimas.

- Charlotte. - Me assusto com a voz de Jacob.

- O que quer aqui? - Pergunto, limpando as lágrimas e colocando a foto no lugar, estranhando sua presença.

- Vim ver como vocês estão. Estava chorando? - Pergunta preocupado, se aproximando.

- Não, deve ter caído algo em meu olho. - Tento parecer firme, sentindo meus lábios tremerem.

- Tem certeza? - As lágrimas retornam e corro em sua direção, abraçando-o fortemente.

- Não chore, fique calma. - Pede me apertando em seus braços.

- Eu não consigo. - Soluço, recebendo um afago no cabelo.

- Charlotte? Oh, desculpe atrapalhar, eu...- Helena nos olha sem graça e me afasto rapidamente de Jacob.

- Pode falar. - Sorrio fraco para ela.

- Seu pai, ele acordou.

PLÁGIO É CRIME!!

Meu JuizOnde histórias criam vida. Descubra agora