Um

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Lilian Muniz

Acordo em um sobressalto com o despertador berrando ao meu lado.

- Calminha aí, já estou levantando. – Falo como se o despertador fosse me escutar e me dar pelo menos mais cinco minutinhos, sem descontar no meu trabalho, claro.

Levanto e passo a mão no rosto preguiçosamente, na esperança de espantar nem que seja minimamente o sono. Como queria ter nascido rica nesse mundão ingrato, custava eu ser dona de uma fortuna? Não, não custava nadinha.

Ando rapidamente em direção da cafeteria enquanto observo o grande movimento de pessoas apressadas, assim como eu, passando pela enorme avenida barulhenta.

Abro a porta e o sininho de chegada soa, trazendo o olhar feio de Carlito para mim.

- Atrasada. – Informa quando mal coloco os pés para dentro do lugar.

- Um minuto. – Confiro a hora no relógio grudado em meu pulso, que marca exatamente sete horas e recém um minuto.

- De um em um, logo você está pagando o dia. – Sorri amargo, exibindo seus dentes amarelados.

Atendo diversas mesas ao decorrer do meu turno e já sinto meus dedos latejarem por estarem espremidos o dia inteiro, pelos meus amados all star brancos. Qual é, sem julgamentos, ainda sou uma adolescente no corpo de uma adulta.

A noite logo aparece para minha felicidade, trazendo consigo o vento gélido das ruas que me faz apertar o casaco ainda mais sobre meu corpo.

Ando de cabeça baixa quando vejo algo se destacar no meio do chão molhado pelos leves respingos da chuva que ameaça chegar, me abaixo e pego em minha mão o objeto e me deparo com uma pequena e delicada pulseira, que só de olhar já pode se perceber que custaria algum dos meus órgão, ou vários deles.

Quando dou por mim já estou no chão e sinto algo gelado prendendo minhas mãos.

- Ei, tá maluco? -Grito para o policial em minha frente.

- Cale a boca, sua ladra. - Ele me chamou de ladra? Que abusado, espere só a...apago de uma só vez.


Desperto com vários burburinhos ao meu redor, em uma delegacia e algemada...Delegacia? Algemada?

- Até que enfim acordou, Bela adormecida. – O homem alto de cabelo loiro chega perto e reviro os olhos.

- Moço, pode por gentileza me informar o motivo de eu estar aqui, sendo que nem eu mesma sei. -Pergunto tentando controlar a acidez em minha voz.

- Não se faça de boba garota, você furtou uma pulseira. – Debocha.

- Mas eu nã... - Sou interrompida.

- Poupe suas explicações para o delegado. – Seu meio sorriso me faz ter vontade de enforcá-lo.

- Seu prego. – Resmungo.

- O que você disse? Tome cuidado com o que fala, garota, eu posso muito bem... -

- O que está acontecendo aqui?- Uma voz levemente rouca e grossa que faz qualquer um arrepiar soa atrás de mim, me mexo levemente e dou uma espiada por cima dos ombros tentando visualizar o dono da voz e....

Meu JuizOnde histórias criam vida. Descubra agora