Dois

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Sinto meus músculos relaxarem com a água quente que cai sobre meu corpo, fecho os olhos, aproveitando aquele momento.

Desço as escadas já vestido em uma bermuda moletom e me deparo com um anjo de cabelos negros parados no centro da sala. Seus grandes olhos esverdeados me analisam assustados e tenho vontade de rir quando seu olhar desce para minha barriga exposta. 

- Quem é você? - Pergunto para ela, que abaixa a cabeça tirando minha visão de seu lindo rosto.

- Sou Helena e...- Quase não ouço sua voz suave e baixa, gagueja nervosa e termina de falar suas poucas palavras.

- E? - Incentivo-a a terminar sua fala.

- Sou a nova ajudante da casa. - Continua muito baixo, e a encaro.

- Quando anos tem, criança? - Não consigo conter o riso.

-  Tenho dezoito. E quem é você? - Pergunta com seus olhos curiosos me fitando. Caralho, eu não daria quinze anos para ela.

- Seu quase pat...- E sou interrompido pelo meu pai.

- Meu filho já está te atentando? - Se direciona a ela que ri, me fazendo revirar os olhos.

- Não, senhor. Acabamos de nos conhecer e...- Meu pai sorri pelo seu claro nervosismo.

- Senhor? Não faça eu me sentir tão velho assim. - Diz papai em tom de brincadeira. Milagre? 

- Pode subir para seu quarto. - Diz a ela, que passa por mim praticamente correndo.

- Nem pense em fazer nenhuma graça com ela.- Diz papai em tom sério.

- Quem gosta de criança é creche. - Assinto indo para a cozinha.

- Quem escuta falando assim, pensa que tem trinta anos. - Retruca me fazendo rir.

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Se passam meses e meu pai  continua no meu pé, agora insistindo para que eu comece logo investir em minha futura carreira, coisa que ainda não me importo no momento.

Estou entrando na cozinha quando paro, vendo Helena tentar pegar algo, que se espatifa no chão assim que é tocado pelas pontas dos seus dedos.

- Aí, meu Deus. - Soa desesperada, ainda sem perceber minha presença.

- Atenção mandou lembranças. - Gargalho e ela se vira para mim, com a mão no coração.

- Eu posso pagar, me desculpe. - Gagueja, ficando vermelha.

- Desencana, criança. Não era nada importante. - Respondo, olhando para os cacos da jarra quebrada no chão.

- Mas eu....- A interrompo.

- Já disse, desencana. - Falo pausadamente como se estivesse lidando com uma criança, e ela fica ainda mais vermelha, só que de raiva.

- Isso mesmo. Não se preocupe, Helena. - Me assusto com a voz de mamãe que está logo atrás de mim, acompanhada do meu pai.

- Vamos até o escritório. - Chama meu pai que sai e o sigo.

- Segunda-feira quero você me acompanhando em algumas audiências. - Começa quando me sento em sua frente.

- Nem a faculdade eu comecei ainda e...- Tento argumentar por sua decisão repentina.

- Não se preocupe com isso. Já arrumei tudo, estudo pela manhã e trabalho pela tarde. Acabou toda essa mamata, e dessa vez eu falo sério. - Termina.




PLÁGIO É CRIME!

Meu JuizOnde histórias criam vida. Descubra agora