- O que estás aqui a fazer?
- Precisamos de falar. – Respondeu-lhe.
- Dinis importas-te? Não estou num dia muito bom para chatear-me e ainda por cima, estou atrasada.
- Dou-te boleia e conversamos pelo caminho. – Sugeriu. – Entra, em cinco minutos chegas lá.
Isabel ponderou. Sentia-se tentada a negar logo de caras mas por outro lado, a pressa e mesmo o facto de pressentir que seria melhor trocar algumas palavras com ele, fizeram com que aceitasse a sugestão. Entrou no carro e mal colocou o cinto de segurança, ele perguntou:
- Estás bem?
- O quê? – Perguntou surpreendida com aquela pergunta.
- É óbvio que já sabes a verdade. Está escrito na tua cara. – Disse, pondo o carro em funcionamento. – Por isso, perguntei como estavas.
- Pois… foste tu que descobriste. Admirei-me como não contaste logo. Sempre tive a ideia de que tu não vais lá com “paninhos quentes”.
- Sei perfeitamente que tu nunca tiveste uma boa opinião sobre mim e não te culpo por isso. – Respondeu, não tirando os olhos da estrada. – E a Flora? Como está? Nem sequer respondeu à mensagem que lhe mandei.
- Aquela em que nem perguntaste como ela estava. – Retrucou Isabel. – Como queres que esteja depois das coisas que lhe disseste?
- Não estou completamente errado e tu sabes disso.
- Ah sim? Até na parte em que duvidaste que o filho que ela está à espera é teu? Estás certo aí? É que se continuares a pensar assim, acho muito bem que ela nunca mais olhe para a tua cara!
Ele exerceu alguma pressão no volante do carro.
- Isso… falei sem pensar.
- No teu caso, falar sem pensar é um problema crónico. – Criticou a Isabel, olhando para o Dinis embora ele não desviasse o olhar da estrada. – Aquela miúda faria qualquer coisa por ti. Ela até já teria morrido por ti como tu pudeste comprovar anteriormente e tu o que lhe dás em troca? Desconfias mesmo que ela tenha tido alguma coisa com outro homem que não fosses tu? É mesmo isso que pensas dela? Se a resposta for positiva, tu não a conheces e não mereces tê-la como tua mulher. Aviso-te já que se não gostar da resposta, podes parar o carro porque prefiro ir a pé.
- Não consigo aceitar que ela me tenha mentido…
- Achas que ela é capaz de te trair? Responde, Dinis. É muito importante que eu oiça essa resposta.
- Não… - Murmurou.
- Então pára para pensar por um minuto! Bolas! Serás assim tão cabeça dura? Será que conhecendo-a, não consegues mesmo entender porque razão ela ajudou o Carlos? Será que és capaz de pensar no que poderia ter acontecido naquele rapto se outro gajo estivesse estado com ela? Não vou dizer que concordei logo quando soube que ela pretendia ajudá-lo sem te dizer porque eu sabia como irias reagir. No início, também não queria acreditar que ele merecesse a bondade dela mas depois compreendi que estava errada. Eu sou capaz de admitir quando estou errada e tu? És capaz? Ou esse teu orgulho é mais forte do que o teu amor por ela?
Ele parou o carro pois já estavam na frente do Conservatório mas todas aquelas palavras ainda ecoavam nos seus pensamentos. Sobretudo a última pergunta. Sim, para ele o orgulho sempre estivera à frente de muita coisa na sua vida. Preservava o seu orgulho mais do que outra coisa qualquer e na maior das vezes, não lhe parecia totalmente errado. Aliás, as únicas vezes em que pensou estar errado estavam relacionadas comigo. Por minha causa, começou a pensar que aquele orgulho não era a solução certa se quisesse ser feliz.
- Não, o meu orgulho não é maior do que amor que sinto por ela. – Respondeu, olhando para Isabel que lhe sorriu.
- Que bom. – Afirmou, deixando cair uma lágrima. – Agarra-te a esse sentimento e deixa todo o resto de lado. Esquece todos aqueles maus pensamentos que te fazem ficar longe da pessoa que amas. Pára de lhe falar com a cabeça, fala-lhe com o coração. Não deites tudo a perder porque não há melhor coisa do que amar e ser correspondido.
- Obrigado Isabel.
- De nada. Agora vai lá. – Disse, limpando o seu rosto. – Não sei se a vais apanhar acordada porque ela passou a noite em branco comigo só para não me deixar a chorar sozinha.
Ele sorriu de leve.
- É, típico dela. – Disse, vendo a Isabel sair do carro. – Olha, Isabel…
- Sim?
- Tens razão quando dizes que não há coisa melhor do que amar e ser correspondido e tenho a certeza que tu também irás experienciar algo assim com alguém que te mereça.
Isabel sorriu, deixando cair mais uma lágrima.
- Espero que sim. Agora vai lá, não percas mais tempo. – Acenou e viu o carro partir com uma certeza dentro de si, as coisas iam arranjar-se.
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Sentimentos
Teen FictionFlora, uma jovem criada de um modo muito tradicional e rigoroso vê-se confrontada aos 18 anos com um casamento por conveniência. Ela que sempre foi alguém apaixonada por histórias de romance, vê-se envolvida num casamento sem nenhuma das característ...