Um novo rumo?

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- Vejo demasiada tristeza nesses olhos.

Surpreendi-me ao ver que o professor Gallardo estava sentado à minha frente com o cotovelo sobre a mesa. Afastei-me um pouco para trás, pedindo desculpa pela minha distracção.

- Será que não posso mesmo ajudar? – Perguntou.

- Agradeço a preocupação mas… - Respirei fundo para evitar lágrimas naquele momento. – Isto acabará por se resolver.

- Está a dizer-me isso há quanto tempo? Olhe para o seu rosto, o seu semblante, a sua atenção nas aulas.

- Já disse que lamento a minha distracção.

- Não quer conversar comigo? Podíamos ir até a um café e desabafar…desabafar faz muito bem e quem sabe, ouvir uns conselhos também lhe faça bem.

- Mais uma vez agradeço a sua preocupação. – Levantei-me. – E também volto a pedir desculpa pela minha falta de atenção. Até depois, professor.

Andava a evitar os intervalos para não ter que forçar sorrisos na frente da Isabel, do Nuno ou até mesmo da Diana. Percebia as suas boas intenções ao tentar animar-me mas não corresponder às suas expectativas também não estava a fazer-me bem. Por isso, optava por ficar na sala ou então ir até à casa de banho com a desculpa de que tinha coisas para fazer ou estava indisposta. E assim para evitar ir até ao bar ou até ao salão de convívio, fui até à casa de banho e aproveitei para passar água no rosto. Ao mesmo tempo que enxugava as lágrimas, novas já se haviam formado.

- Flora…

Limpei rapidamente o rosto.

- Nós estávamos a querer dar-te espaço. – Começou a Diana.

- Mas depois percebemos que se calhar só te estávamos a deixar sozinha quando o que deves estar a precisar, é de um abraço. – Falou Isabel, abraçando-me.

Lutei por conter as lágrimas mas era inútil. Era demasiada tristeza para guardar dentro de mim e em seguida, senti o toque no meu cabelo. Era a Diana que trazia um sorriso pouco habitual no seu rosto. Um sorriso de compreensão.

- Ok, chega desta depressão que até a mim está a contagiar! – Disse, limpando o meu rosto depois de alguns minutos de silêncio. – Vamos todos dar uma volta!

- Agora? – Perguntou a Isabel.

- Mas ainda faltam algumas aulas… - Lembrei.

- Nem pensar! Ninguém vai assistir aula nenhuma neste clima depressivo! Vou chamar o Márcio, tu chamas o Nuno que deve pensar que morremos na casa de banho e vamos todos dar uma volta!

- Mas…

- Nem mas nem meio mas, Flora!

Por mais que tentássemos argumentar com a Diana sobre as aulas, ela acabou por levar a melhor e ao passarmos pela entrada do Conservatório, as senhoras da recepção estavam preparadas para travar a nossa saída ou pelo menos fazer algumas questões mas a Diana agarrou na minha mão ainda com mais força e disse que corrêssemos todos. Foi dessa forma que saímos e no exterior estava o Márcio dentro do carro que percebeu que tinha que arrancar antes que as senhoras tivessem tempo de descer as escadas atrás de nós. Dentro do carro, Diana pediu desculpa por me ter feito correr porque sabia que ainda não podia mover com total liberdade um dos meus pés mas afirmou que fora necessário. Já a Isabel e o Nuno nem queriam acreditar na forma inacreditável como tinham deixado as aulas a meio.

- Parecíamos uns criminosos. – Comentou o Nuno.

- Se bem que não precisávamos de ter saído daquela forma porque elas não tinham porque perguntar para onde íamos. – Disse Isabel pensativa.

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