Lágrimas

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No dia que se seguiu, o Dinis recebeu uma chamada de um colega que fez com que tivesse que sair mais cedo de casa mas não sem antes assegurar-se que o Sr. Caetano me levaria até à entrada do Conservatório e verificaria que ficava mesmo no interior do edifício. Continuava preocupado com os acontecimentos recentes e de momento nada do que lhe dissesse, acalmava esse receio daí que decidi apenas seguir à risca os passos que pretendia que tomasse para evitar mais surpresas desagradáveis.

- Que bom que os dois estão a entender-se. – Comentou a Isabel, acabando de comer a sua primeira torrada enquanto eu já terminava a terceira.

- Estou feliz por estar novamente em casa com ele. Nunca quis realmente sair e ele entendeu os meus motivos.

- É, antes tinha uma opinião muito má acerca dele mas acho que felizmente, até existe uma grande possibilidade de serem felizes juntos ainda que o casamento tenha sido invulgar no começo.

- Também fico contente por ver que a tua opinião acerca do meu casamento parece diferente. – Comentei, vendo o Nuno e a Diana passarem de mãos dadas pelo bar do Conservatório. – Ah é verdade, o Dinis também gostou do presente que tu e o Márcio compraram.

- Então valeu a pena a hora em que estivemos indecisos sobre o que comprar. Eu já queria arriscar a cor azul ou rosa mas ele achou melhor comprar algo neutro como o amarelo. Estou ansiosa por saber se será menino ou menina.

- Também eu. – Falei, acabando de beber o chá de cidreira que tinha pedido que me tranquilizava e parecia ajudar a controlar os enjoos. – Mas acho que só a partir dos quatro meses dá para saber.

- Atenção que quero ser das primeiras a saber. – Exigiu em tom de brincadeira.

Subitamente, vi o grupo que normalmente acompanhava a Verónica entrar no bar, sendo que cada uma delas dirigiu-se a uma mesa diferente. A sua intenção era bastante óbvia. Queriam espalhar alguma notícia o mais rapidamente possível. Por momentos, cheguei a perguntar-me se ela também se teria apercebido da minha gravidez e transformara esse assunto no tópico dia ainda que fosse certo que ela não tinha rigorosamente nada a ver com a minha vida.

Por outro lado, essa atitude não parecia dela. Se fosse o caso de tentar envergonhar-me à frente dos outros, teria vindo falar comigo directamente e não mandar as suas amigas espalharem um rumor a meu respeito. Pelo menos era essa a ideia que tinha dela mas não podia ter certezas acerca de nada até que ouvisse o conteúdo do rumor.

- O que será que aquelas cobras andam a espalhar por aí?

- Não sei mas deixa-me inquieta. – Confessei.

- Dá-me trinta segundos. – Disse, indo até a uma mesa que estava a pelo menos cinco metros da nossa e após uma curta troca de palavras, retornou com um ar algo surpreendido e confuso.

- O que te disseram? Não era nada sobre mim, pois não?

- Não por estranho que pareça, ela hoje não se dedicou a tentar infernizar-te a vida.

- Então, o que se passa?

- Estão a dizer que ela e o professor Gallardo estão neste momento com a directora do Conservatório para saberem se o que dizem é verdade.

- Como assim?

- As amigas da Verónica disseram que o professor Gallardo tentou insinuar-se… bem, tu sabes. Fez-se a ela.

- Estás a colocar mesmo a hipótese de ser verdade? – Perguntei de certa forma horrorizada com essa ideia.

- Já te contei que ele foi afastado anteriormente do Conservatório por se ter envolvido com uma aluna. Não seria a primeira vez.

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