Uma pequena nuvem?

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Na manhã seguinte, fui acordada por ele. Pelos vistos o meu relógio interno ficava algo baralhado quando ia dormir mais tarde. Em compensação acordar com a sua voz e ver o seu rosto como a primeira imagem do dia, fazia com que não me importasse muito com isso. Ele já tinha feito a sua higiene pessoal e já estava vestido mas queria esperar por mim para tomarmos o pequeno-almoço juntos. Isso fez com que tentasse não demorar muito e assim pudemos comer tranquilamente conversando um pouco.

- Até…

- Vem.

- Mas não vais chegar atrasado?

- Vem, eu deixo-te lá e depois vou para a faculdade. – Disse, insistindo que fosse com ele no carro e acabei por ceder.

Se ele queria assim tanto na minha companhia não iria negar pois o desejo era mútuo. Ele levou-me até ao Conservatório e em seguida, seguiu em direcção à sua faculdade. Enquanto olhava para o carro que se afastava, não notei que era observada de longe.

- Tu não me disseste que eles não se davam bem?

- Era o que parecia.

- Então ele veio deixá-la aqui porquê?

- Não sei. Tanto tempo a conviverem na mesma casa, é normal que…

- Não. Vou acabar com isto…

Quando entrei no Conservatório, a Isabel agarrou o meu braço mesmo antes de dizer-me “bom dia” e referiu que me tinha visto chegar na companhia do Dinis.

- Era mesmo ele, certo?

Confirmei para a sua alegria e mesmo que não tenha perguntado o porquê de ter faltado no dia anterior penso que terá ficado subentendido que havia sido por um bom motivo. Assim que o Nuno se juntou a nós também parecia feliz por mim e apenas a Diana era um pouco indiscreta tentando saber ao certo qual fora o motivo que me tinha levado a faltar às aulas. Apesar das suas insinuações, desviei sempre o assunto sobretudo para conseguir os apontamentos do dia anterior e saber se já tinham começado os ensaios com a nossa orquestra improvisada a qual teria que “orientar”.

- Começamos hoje. Estamos dispensados do último bloco de aulas três vezes por semana e eventualmente teremos que abdicar de algumas horas do fim-de-semana caso existam coisas a serem afinadas.

- Então hoje já teremos ensaio? – Perguntei nervosamente.

- Vai correr bem. Qualquer coisa, estamos lá. – Disse a Diana.

A presença do professor Gallardo serviu para aliviar muita da tensão que estava em mim com tantos rostos de olhos postos em mim, esperando que começasse a tocar as primeiras notas na harpa. Porém, ele avisou que não poderia acompanhar-nos sempre e que a partir dali, teríamos que nos ajudarmos uns aos outros mas seguir-me na música pois a harpa seria como uma espécie de “maestro” que sinalizaria através das suas notas quando os restantes instrumentos deveriam intervir. Essa ideia deixava-me nervosa mas o primeiro ensaio até correu bem. Conhecemos um pouco do repertório e percebemos rapidamente as dificuldades que poderíamos ter. Reparei que apesar do meu nervosismo, as notas fluíam sem problemas mas não podia dizer o mesmo do Nuno que parecia particularmente tenso durante aquele primeiro ensaio.

- És um bom violinista. O que aconteceu? – Perguntei.

- Sou bom a solo. Custa-me imenso saber quando devo ou não entrar na melodia e depois começo a pensar que entrei mal e começo a trocar as notas e as pautas todas.

- Também não estava muito calma. – Disse, tentando dar-lhe a ideia de que não era o único que estava inquieto.

- Mas acertaste as notas, ele esteve um desastre. – Comentou a Isabel.

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