Ouçam "Gothic Storm - Whisper Of Hope"
O som melancólico e, em certas partes, agoniante preenchia todos os cantos da sala. As minhas grandes mãos percorriam as teclas brancas e pretas graciosamente, tentando procurar um equilíbrio entre os graves e agudos que saiam do enorme piano.
A música era a única coisa que me compreendia, eu podia maniar todos os sons e formar a melodia que demonstra a pessoa que eu sou.
Eu conto a minha história através da música. Os mais sensíveis aperceber-se-ão do que sinto já à imenso tempo.
Eu sou um ser humano incapaz de amar, incapaz de ter pena, incapaz de sofrer. Não mais. Já tivera sido isso tudo, anteriormente. Mas eu mudei. Todos mudamos por diferentes razões, ou porque não estávamos a ser nós próprios, ou porque algo nos mudou, ou porque somos uma pessoa demasiado confusa para manter sempre a mesma personalidade.
Eu amei, eu fui humano, eu sofri. Eu tenho uma história que nunca foi contada, que nunca contarei a ninguém. A história que revela o mais profundo de mim, o mais vulnerável. Eu odeio-me por isso, eu odeio a vulnerabilidade, odeio tudo a que se pode chamar de sentimentos. Odeio-me a mim próprio, não pelo que faço, mas porque existo.
Neste momento, pareço uma pessoa depressiva. Mas eu não sou depressivo, sou vazio. Não tenho nada que me complemente, não tenho nada que me compreenda, não tenho ninguém.
Já tive, mas não foi verdadeiro, porque nada neste mundo é verdadeiro, assim como eu. Quem acredita em sentimentos é demasiado parvo para perceber que nada disso existe. Não existe palácios de cristal, não existe rosas sem espinhos, não existe amor sem ódio.
O amor e o ódio parecem tão oposto, mas na realidade são demasiado idênticos. São dois extremos polares que se atraem com demasiada facilidade, e foi isso que aconteceu comigo. Eu atrai-me pelo ódio, pela escuridão, pelos monstros, pela infelicidade.
Acreditam no inferno? Eu acredito. É lá que vivem todos os demónios, é lá que vivem os demónios que me rodeiam. Eu sou o inferno, eu sou o lar de todos os monstros que me rodeiam.
E foram eles que me mudaram. Eu perdi o resto de humanidade que me restava, eu não me importo com ninguém, não me importo comigo mesmo sequer. Eu sou só uma pessoa oca, eu não sou um ser humano.
O ser humano tem humanidade, por isso que ambas as palavras são da mesma origem e eu não faço parte dessa origem.
Os demónios são criaturas horríveis que giram em torno das nossas cabeças, dos nossos corações. Os demónios podem ensinar-nos muitas coisas, uma delas é deixar de sofrer, deixar de se importar.
É o inferno aquela lembrança habitual de fogo? Não. Esse lugar é escuro, fundo, gelado. É muito frio, consegue-se sentir o coração gelar a cada minuto que passa, é por isso que há pessoas frias, calculistas, arrogantes, egoístas. Esses adjetivos descrevem parte de mim. Parte. Eu sou muito pior do que isso.
Eu sou o escravo do diabo, eu só penso no meu bem-estar, no meu prazer e faço qualquer coisa para o obter, mesmo que isso faça mal às outras pessoas.
Enquanto que todos necessitam da paixão, eu necessito do prazer.
No meu mais profundo subconsciente, onde só consigo lá chegar com a ajuda da música, com a ajuda do piano, eu quero que alguém sopre calor para o meu coração, que me puxe do buraco, que me dê uma luz no meio da escuridão. Mas esses pensamentos duram pouco tempo, não sou capaz de pensar que quero ser salvo.
Mas o que me deixa num buraco quase sem chão, é saber que ninguém me vai trazer o calor para mim. Não existe a esperança, não existem milagres. Eu estou a morrer congelado e ainda ninguém se apercebeu.
"Odiar é punir-se a si mesmo."
"O ódio é a vingança da cobardia."
"Quando o nosso ódio é demasiado vivo, colocamo-nos abaixo daqueles que odiamos."
"Que me odeiem, desde que me temam!"
"O ódio é a tristeza acompanhada da ideia de uma causa exterior."
"Um coração que sabe odiar é sempre criminoso."
*
*
Isto não foi a continuação do episódio anteitor, mas eu precisava de deixar claro umas coisas acerca de sentimentos e percebesse claramente de quem fala. Ele é uma pessoa demasiado fechada e só conseguiram entender mais sobre o Harry com estes seus pensamentos, enquanto toca piano :)
Desculpem por estar pequeno, mas acho que se tornava aborrecido fazer um enorme texto a falar de ódio e outro tipo de sentimentos :(
Espero que tenham gostado desta viajem cerebral/sentimental ahaha :p
Votem e comentem como sempre fazem *-*
LY ♡
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The Kidnapped || h.s
Fanfiction"Nada nos faz acreditar mais do que o medo, a certeza de estarmos ameaçados. Quando nos sentimos vítimas, todas as nossas ações e crenças são legitimadas, por mais questionáveis que sejam. Os nossos opositores, ou simplesmente os nossos vizinhos, de...