Sinto um arrepio de frio percorrer o meu corpo e uma vontade de espirrar para acompanhar.
As noites cá em baixo eram cada vez mais frias e eu era uma pessoa muito sensível às mudanças do tempo.
Junto os meus joelhos ao peito, e abraço-me a mim própria, tentando de alguma forma aquecer-me. Se eu adoecer aqui, provavelmente vou morrer; ou ele me mata, ou morro sem tratamento e condições.
Todas as outras estavam escostadas umas às outras, irradiando calor humano. Mas eu não sou uma pessoa muito social, sou tímida.
A Bridget também estava sozinha. Ela não falou para mim desde que cá chegou, e eu, por mais que tente, não encontro nenhuma razão aparente. Provavelmente ela está assim por causa do loiro. Talvez ele lhe tenha feito algo mesmo nojento e devastador.
Dou um longo suspiro e lembro-me como eu passava os meus dias de inverno. O meu pai acendia a lareira todas as noites, e eu preparava um chocolate quente, pegando num cobertor. Adormecia muitas vezes ali. Eu adoro o fogo, é tão acolhedor e traz-me recordações saudáveis.
Pouso a cabeça em cima dos meus joelhos e tento apreciar o silêncio. Visto que isso acontece poucas vezes, pois as raparigas passam a vida a murmurar. Num eco quase morto, conseguia ouvir uma melodia tocada num piano.
O meu coração parecia encher um bocadinho. Quem quer que tocasse, tocava com amor e tristeza.
É a segunda vez que ouço um piano nesta casa, seria Harry? Não podia ser. O seu coração é demasiado frio, desumano e feio para conseguir tocar algo tão bonito, quente e triste.
Ele não pode ser triste. Este homem é um psicopata que não tem escrúpulos.
A melodia tocou por cerca de quatro minutos, e eu rastejei até à beira da porta, tentando de alguma forma ouvir melhor.
Fechei os meus olhos, sentindo-me num estado de melancolia, que me ia levar ao sono. Mas poucos segundos depois, a música pára.
Sinto um bocado desconsolada por ter acabado uma coisa tão bela. Ouço uns passos descerem as escadas e tento rastejar até ao meu canto menos visível, mas o meu corpo não correspondia. Estava tão fraca.
A porta abre-se e o meu coração acelera com medo. Olho para cima e vejo o homem mais temido nesta casa.
Ele tem um semblante carregado no sobrolho, e isso diz-me que ele está com mau humor.
Dou um espirro, que faz chamar a sua atenção. Merda.
Vejo-o a abaixar-se e a olhar para mim intensamente, sem falar. Não consigo enfrentar o seu olhar, e começo a sentir-me desconfortável.
"Estás doente?" Ele sussurra.
Abano a minha cabeça dizendo um 'não', tenho medo que ele me mande matar. Sinto a sua mão pousar na minha testa, provavelmente testando a minha temperatura.
"Estás quente." Ele continua, em sussurros.
Sinto os seus braços rodearam o meu corpo, pegando em mim ao colo ao estilo de noiva. O seu peito irradiava algum calor e eu não consegui aguentar, pousando a cabeça sobre o mesmo.
Sinto o seu corpo andar para fora da cave, levando-me para um sítio que desconheço.
Vejo ele a abrir uma porta de um dos quartos de hóspedes e deita-me na cama. Olho para ele, que o vejo a aproximar do armário e a retirar de lá um cobertor.
"Diz-me o que sentes." Ele pede, em voz baixa.
Posso dizer que estou surpreendida pela sua atitude, mas ainda não me quero precipitar. Vejo-o a tapar o meu corpo com a manta quentinha, e senta-se na berma da cama.
"Responde-me, Annabeth." Ele pede.
"Eu estou bem." Minto.
"Estás constipada? Sofres de alguma doença que desconheça?"
"Pensei que soubesses tudo sobre mim." Digo, e rapidamente me arrependo, pois vejo ele a apertar o seu maxilar, começando a ficar zangado.
"Foda-se! Apenas responde-me!" O seu tom de voz aumenta.
"É apenas frio. Isto já passa." Suspiro e viro as costas para ele.
Sinto a cama mexer-se e ouço a porta bater. Ele saiu daqui, e eu não posso estar mais grata por isso.
Reconforto-me na cama e adormeço.
-
A meio da noite, sinto, outra vez, uma mão a pousar levemente na minha testa. Franzi as sobrancelhas e abri lentamente os olhos. O homem sem coração, estava diante de mim, com um copo de água na mão e um comprimido
"Toma isto, vai-te ajudar a baixar a febre." Ele diz, um pouco frio, mas estou a ficar surpreendida com as suas atitudes.
Levanto o meu tronco e pego no medicamento e meto-o à boca, bebendo, de seguida, a água toda para ajudar a engolir.
Olho para os trajes dele, e vejo que está em tronco nú, apenas com umas calças de pijama que caiam desleixadamente nos seus quadris.
"Estás melhor ou pior?" Ele pergunta.
Analiso o meu estado de saúde, tenho dores de cabeça, dores de garganta, arrepios de frio mesmo com o cobertor, e o nariz um pouco entupido.
"Pior..." Sussurrei e baixei o olhar.
Ouço ele a bufar e posso dizer que ele está aborrecido por eu estar neste estado de saúde. Os seus dedos vão de encontro à topo do seu nariz, dando um grunhido.
"Chega-te para lá." Ele diz, desconfortável com o que vai fazer.
"O q-quê?" Murmuro em choque.
"Apenas chega-te para lá caralho!" Ele grita e eu encolho-me.
Faço o que ele me pede e vejo-o a deitar-se ao meu lado. O medo espalha-se por mim, e se ele me fizer mal?
"Tu vais..." Digo sem acabar a frase.
Ele entende o que quero dizer e olha para mim horrorizado.
"Não! Foda-se, não!" Ele suspira. "Eu posso ser um monstro, mas não faria mal a alguém doente." Ele corre a sua mão pelo seu cabelo. "Agora vê se dormes, e se sentires alguma coisa, avisa-me." Ele diz, e vejo-o a virar as costas para mim.
Ele vai dormir aqui?
*
*Ok, este capítulo não está grande coisa '-'
Mas pronto, o que acharam deste Harry? Porque é que ele mudou assim? Será que foi pelo que a Bridget disse?
Btw, podiam ler a minha fic Chandelier? :3 eu não sou muito de partilhar as minhas outras histórias no final dos capítulos, mas é que eu estou a gostar tanto de a escrever e queria a vossa opinião :(
Votem e comentem :3
LY ♡
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The Kidnapped || h.s
Fanfiction"Nada nos faz acreditar mais do que o medo, a certeza de estarmos ameaçados. Quando nos sentimos vítimas, todas as nossas ações e crenças são legitimadas, por mais questionáveis que sejam. Os nossos opositores, ou simplesmente os nossos vizinhos, de...