Os meus olhos abriam lentamente, porém a opacidade do pano que me encapuçava impedia-me de obter uma imagem nítia do panorama que estava a rodear-me. A lembrança do pesadelo percorre a minha mente, assim que sinto os meus pulsos atados com cordas.
- Não era necessário teres-lhe feito isso! - Uma voz grossa e ríspida cospe.
- Era a única maneira de a sossegar... - O outro tenta desculpar-se.
- Se calhar, se não fosses tão cabeça desvairada e não te esquecesses de trancar a porta, ela estaria aqui intacta! - Ouço passos.
- Harry...
- Sai. - Ele manda.
- Não viste o que ela--
- Sai, foda-se! - Harry berra.
Um gemido é escapado pela minha boca. As cordas traçavam a minha pele de uma forma áspera e dolorosa. A porta do local onde me encontrava é fechava com uma força moderada, fazendo-me estremecer. Sinto o pano sair da minha cabeça, custando-me ao ínicio à luz do ambiente.
Olhos verdes encontram os meus fazendo-me criar pele de galinha. De seguida, as suas grandes mãos vão de encontro aos meus pulsos, retirando todos os vestígio de corda. O silêncio que a atmosfera produzia tornava o ambiente mais pesado e constrangedor. Abri a minha boca para falar, mas rapidamente sou interrompida.
- Não digas nada. - A sua voz estava mais amena que o normal.
Decidi que devia de obedecer, e mantive calada enquanto ele tirava as cordas dos tornozelos. Ele parecia focado no que fazia. Assim que terminou a sua tarefa, ele sentou-se ao meu lado.
- O que tiveste durante a noite? - Ele murmura.
- Nada... - Sinto as minhas bochechas adquirirem um tom mais rosado, clamando a vergonha deste momento.
- Podes dizer-me, por mais estúpido que seja. - A sua voz rouca insiste.
- Foi só um pesadelo... O r-rapaz é que exagerou... - Sussurro.
- E não achas que um pesadelo é motivo suficiente para ter medo e gritar?
- Eu não sou uma criança, Harry. - Dou um suspiro profundo.
- Todos nós temos medo de alguma coisa. Fala-me do teu pesadelo. - Ele pede.
Este Harry nem parecia o mesmo do costume. Lembro-me que ele disse que nada iria mudar, mas aqui está ele, que veio de tão longe só para ver como eu estava. Que raio de raptor é este?
- Eu digo se me contares um segredo teu. - Desafio.
Ele solta uma gargalhada e assente, querendo dizer que iria fazer o que tivera pedido.
- Pergunta o que quiseres, e eu verei se te posso responder. - Ele incentiva.
- Então... - Começo a pensar em possíveis questões para ele. - Porque é que me raptaste, em vez de ires falar comigo?
- Porque tu nunca acreditarias num estranho, e além disso a tua mãe disse-me para eu te levar para minha casa e tomar conta de ti. - Tenta explicar.
- Mas tu meteste-me dentro de uma cave, junto com as tuas sequestradas. - Observo os meus dedos mexerem-se uns nos outros.
- Tinha que tornar as coisas o mais credíveis possível. Não te poderia deixar fugir e contar à polícia. Eu tinha que esperar pelo momento exato para te contar. - Os seus olhos percorrem-me, fazendo encolher.
- E por que é que me bateste? Por que é que me beijaste? Por que é que me fizeste aquilo no carro? - Mordo o meu lábio, sentindo lágrimas formarem-se com a lembrança.
- Porque estava bêbado em todas essas alturas. Estou arrependido por tê-lo feito. - Ele confessa.
- Magoaste-me tanto... - Um soluço escapa-se da minha garganta.
- Fazemos assim, - Ele vira o seu corpo completamente para mim. - Eu prometo que não te volto a prender ou a tocar-te, e tu em troca prometes não fugir ou contar a alguém sobre o que eu faço.
A sua proposta era promissora, estava cansada de ficar trancada vinte e quatro horas por dia dentro de casa. Olhei para ele de relance, examinando pormenorizadamente as suas feições. Assim que notei que estava a ser honesto, assenti. Ele parecia mais aliviado por eu ter aceite a sua proposta.
- Fico feliz que tenhas aceitado... Agora, Annabeth, fala-me do teu pesadelo.
- B-bem, eu estava presa a uma cadeira... - Desvio o meu olhar do dele. - E alguém estava à minha frente com um alicate na mão, a dizer que me ia tirar a virgindade...
- Quem era ele? - Sinto o seu corpo a ficar tenso.
- Eras tu. - Murmuro tão baixo que parecia inaudível.
Olhei-o de lado, sendo capaz de ver a sua expressão chocada. Ele hoje demonstrou-me que conseguia ser uma pessoa diferente daquilo a que estava habituada a presenciar.
- Sabes que eu não faria isso. - Ele dá um risada seca.
- Não tenho culpa de sonhar desta forma. - Dou um suspiro.
- É o teu primeiro sonho comigo? - Ele interroga, pousando a sua mão no meu pulso. Abanei a minha cabeça, dizendo que já não era a primeira vez que isto tivera acontecido.
O seu corpo levantou-se do chão, e de seguida, ajudou-me a fazer o mesmo movimento. Estavamos frente a frente, ele com o seu olhar no meu, e eu com o meu olhar no chão.
- E se fizessemos algo bem feito para que impeça os maus sonhos voltarem? - Ele pergunta.
- Por exemplo? - Os meus olhos verdes encontram os seus da mesma tonalidade.
Num movimento rápido e inesperado, sinto os seus lábios encontrarem os meus de uma forma mais carinhosa do que das outras vezes.
*
*Desta vez demorei menos para atualizar, palma para mim!!
Digam-me o que acharam deste capítulo, façam um comentário para me deixarem mais feliz :)
Pergunta: À quanto tempo acompanham esta história? :D
LY ♡
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The Kidnapped || h.s
أدب الهواة"Nada nos faz acreditar mais do que o medo, a certeza de estarmos ameaçados. Quando nos sentimos vítimas, todas as nossas ações e crenças são legitimadas, por mais questionáveis que sejam. Os nossos opositores, ou simplesmente os nossos vizinhos, de...