Capitulo 1 ✔

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O cimento duro estava abaixo do meu corpo, arrefecendo-o sem piedade. A desumana realidade que iria enfrentar começara a partir do momento em que abri os meus olhos. Encontrava-me numa divisão de pequenas dimensões, muito similar a uma cave. Apenas uma luz muito fraca irradiava o lugar, dando-me uma visão de paredes cinzentas e sujas. Com a ajuda das minhas mãos, levantei o meu tronco. Dores musculares ativaram-se por todo o meu corpo, deixando-me somente mais fraca, frágil.

Olhei novamente ao redor reparando, desta vez, vários olhares postos em mim. O meu coração acelerou, sentia ser libertada adrenalina e medo. Não sabia se havia de ficar quieta e calada, ou se devia gritar por socorro. Não sabia onde estava, e muito menos o que me iria acontecer. O meu queixo tremia da mistura de emoções que estava a sofrer.

O silêncio que era composto por todas as mulheres que concerniam na mesma divisão suja, mas não durou muito tempo até ouvir pequenos burburinhos de fundo. Aproveitei a desatenção de algumas destas mulheres para me refugiar num dos cantos donde me encontrava. Sentia-me mais protegida contra a parede fria e no cantinho escuro do que por debaixo da luz, que mesmo por mais fraca que fosse, me expunha de uma forma bizarra.


"Olá." Uma das vozes espalhou-se.

Observei cada canto mais uma vez, para saber se detetava a fonte da mesma, mas o eco e a quantidade de pessoas que aqui se ajustavam não ajudava no processo.

"Gostaríamos de saber como te sentes..." A voz feminina continuou com o seu discurso.

Abanei freneticamente a cabeça, recusando falar e expressar-me para tanta gente. Eu não as conhecia, nem elas me conheciam a mim.

A rapariga que estava encostada à parede deslocou-se para o pequeno círculo luminoso que estava marcado no chão e virou-se para todas as outras que me encaravam.

"Chega! A pobre da rapariga ainda agora acordou e vocês já estão à espera que ela fale? Talvez ajudavam-na mais se lhe explicassem que merda se está a passar, que foi o que vocês quiseram quando estavam no lugar dela!" A sua voz era ríspida com as restantes mulheres, mas senti-me bem quando ela me defendeu.

Senti que ela poderia explicar-me o que se passa sem que fosse demasiado intrometida. Todas pareceram concordar e obedecer, inclinando cada uma para um lado. A morena que estava há segundos de pé, caminha de volta para o seu lugar.

"Espera..." A minha fala saiu arranhada.

Ela olhou para trás, rodando o seu corpo para mim.

"Talvez te possas sentar à minha beira?" Gaguejei.

Demorou alguns segundos até que tenha feito uma decisão concisa, mas fiquei agradada por ela ter escolhido sentar-se à minha beira. Não sabia por onde havia de começar a interrogar sobre tudo o que se está a passar, mas a minha oportunidade foi pouca quando ouço uma chave ser introduzida na porta.

A minha respiração, que se tinha acalmado há um minuto, voltou a acelerar de forma descontrolada.

A porta abriu-se, revelando um homem alto, de cabelo castanho e relativamente comprido, possuidor de um olhar severo e de um cenho imensamente franzido. Ele parecia procurar com os seus olhos algo em concreto, começando pelo seu lado esquerdo e terminando no lado oposto. Quando o seu olhar pousou em mim, o som dos seus sapatos calcarem o chão eram ouvidos e sentidos por todos.

Ele caminhava até mim, em passo acelerado. Senti-me a entrar em pânico, quando as suas mãos alcançaram o meu corpo. A minha barriga é pousada em cima do seu ombro, deixando-me quase de cabeça para baixo. Não consegui controlar os gritos presos na minha garganta, não sabia o que estava prestes a acontecer.

O homem trata de trancar novamente a porta e, de seguida, carregar-me até ao local onde ele me tinha destinado, por outras palavras, uma casa de banho.

Ele pousa o meu corpo no chão abruptamente, fazendo-me soltar um gemido de dor. Olho para cima, encarando mais detalhadamente a cara dele. Possuía olhos verdes, lábios ligeiramente carnudos, olhar carregado e, novamente, cabelo que lhe emoldurava o rosto de uma forma cativante. Ele não tinha cara de má pessoa, mas também não era possuidor de uma excelente aparência.

"Tens exactamente trinta minutos para estares completamente limpa e tratares de todas os problemas alheios femininos, entendeste?" Ele informa-me.

Sem puder responder de alguma forma, ele abandona a pequena divisão, trancando a porta consigo. Não sabia o que fazer, se haveria de obedecer ao que ele me tivera dito ou se havia de me encolher a um canto e esperar que passem os tais minutos que ele referira anteriormente. A grande maioria de mim dizia que para a minha sobrevivência deveria de me meter debaixo da água do chuveiro, provavelmente este seria um dos últimos banhos que iria tomar antes de ser morta.

Levantei-me do chão de tijoleira branca e liguei a água da banheira. Tentei de várias formas que ela saísse quente, mas a caldeira que tratava do aquecimento parecia não funcionar. Dei um grande suspiro, começando por despir a minha roupa. Tinha três toalhas ao meu dispor pousadas no tampo do vaso sanitário. Assim que entrei dentro da banheira, a água gélida arrepiou o meu corpo de uma maneira que não estava a contar, parecia quase um choque térmico. Os poros da minha pele fecharam causando a famosa "pele de galinha".

Depois do duche, enrolei uma toalha à volta do meu corpo e outra no meu cabelo. Pude observar uma gilete pousada em cima do lavatório, mas não sabia se havia necessidade de pegar nela. Eu não era possuidora de muitos pelos nas pernas, felizmente. Mas ainda assim, a parte mais assustada de mim relembrou-me as palavras daquele homem. Eu tinha que estar completamente "limpa".

Passados os trinta minutos, logo após ter terminado de vestir a roupa limpa que estava também cá dentro, a porta abre-se apanhando-me de surpresa. O homem, cujo nome ainda não sei, agarrou-me pelos braços arrastando-me até uma outra divisão. Não tentei sequer lutar contra ele, sabia que a minha força era mínima comparada com a dele.

Ele abriu a porta de madeira, mostrando uma espécie de quarto. Porém, dentro dele, estava uma mulher deitada na cama completamente nua. O seu corpo possuía marcas incrivelmente dolorosas só de olhar. Eram semelhantes a chicoteadas, queimaduras e agressões sexuais.

"Ela chama-se Joanne, sabes por que é que ela está neste quarto, neste estado?" Ele interrogou com uma voz sombria, mas eu não sabia se havia de lhe responder ou ficar calada. "Responde-me!"

"N-não sei..." A minha voz falhou, mostrando toda a minha fraqueza emocional.

"Ela tentou fugir. Nunca me desobedeças, Annabeth, as consequências são terrivelmente dolorosas, tenho a certeza que não as vais querer testemunhar no teu próprio corpo." Ele ameaça.

As suas palavras deixavam todos os meus cinco sentidos em estado de alerta. Eu estava com medo de este homem me vir a matar ou torturar-me. O pior de tudo, é que eu não me lembrava de como cá tinha chegado. A última imagem que me lembro antes de acordar neste lugar, foi de estar a jantar com a minha família.

Após ter observado por uns longos minutos o corpo daquela mulher, sinto-me novamente ser arrastada de volta para o lugar onde acordei, para o lugar onde iria, muito provavelmente, passar os últimos dias da minha vida.

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O que acharam? Estão mesmo a gostar? :)

Obrigada por lerem, nem sabem como fiquei contente com o número de comentários e leituras no prólogo :o

Espero que neste capítulo seja igual :3

The Kidnapped || h.sOnde histórias criam vida. Descubra agora