O mundo que me rodeava parecia fictício, como se eu fosse uma personagem a interpretar um dos piores papeis do filme. Não sei como é que eu tinha capacidade para sorrir, talvez a força da minha dignidade esteja ainda mais alta do que a minha própria conduta moral. Será que o que estou a fazer é o correto? Será que devo cooperar com o meu sequestrador? Sinto-me tão desesperada, sinto que não estou a ser eu mesma.
Olho para a comida no meu prato. Parece ser bastante apetitosa, mas o meu estômago está embrulhado numa pequena bola, impedindo que algo entre lá. O meu garfo mexe e remexe a comida, como o comportamento de uma criança de seis anos que faz birra para se alimentar.
Eu estava sentada numa mesa circular, cheia de casais aos risos e bem-humorados. Harry estava ao meu lado, ele não falava para mim, apenas permanecia a comer e a olhar para a mesa dos noivos. A sua cara não era de muito amigos, e eu só desejava que este dia passasse o mais depressa possível.
- Estás bem, Harry? - Um homem novo, com o cabelo castanho muito escuro, vira-se para ele e questiona.
- Sim. - Ele é curto e carrancudo.
- Não é o que me parece. - O outro insiste.
- Ouve lá, mete-te na tua vida, ok?
- Não vais criar problemas num casamento, certo? - O jovem franze a sobrancelha.
- Isso também não é da tua conta. - Termina. Vejo-o levantar a sua mão, a chamar o empregado. Este assim que o vê, vem rapidamente ter com ele.
- O que deseja?
Harry levanta o seu copo, que estava quase vazio. O funcionário pareceu compreender, e assente. O Harry já bebeu três copos, tenho medo que ele abuse e se torne violento. Tenho mesmo medo.
Dou um toque no seu braço para chamar a sua atenção. Ele não olha para mim, mas o seu suspiro faz-me entender que ele deu por mim.
- Não bebas mais.
- O quê? - Ele ri-se amargamente.
- Por favor? - Tento pedir o mais educada possível, para ver se ele cede.
- Para. Não percas o teu paleio nisto. - A sua expressão torna-se novamente séria.
- A sério, tu és inacreditável. - Bufo.
- Eu bebo o que eu quiser.
- E depois quem nos leva a casa?
- Eu. - Ele é firme nas suas respostas.
- Não me parece. Eu não vou contigo bêbado.
- Vais. - Ele range entre dentes.
O empregado chega com uma garrafa de vinho tinto. Os olhos do Harry iluminam-se quando este é derramado no seu copo. Antes que o funcionário vá embora, ele apanha o seu braço.
- Deixe aqui a garrafa. - Ele comanda.
- Mas eu não tenho aut-
- Tem a minha autorização e chega. Agora vá embora. - O ser de olhos verdes arranca a garrafa da mão do garçom.
A sua mão comprida vai de encontro ao copo, bebendo o líquido alcoólico todo de uma vez só. De seguida, ele volta a encher. Ele processo repete-se mais quatro vezes.
Ele está oficialmente bêbado e a sua cara é de poucos amigos.
Passados uns quinze minutos, estamos todos virados para a mesa dos bolos, a mãe do Harry sorri enquanto possui a sua mão na faca, entrelaçada com a do seu recente marido. Ela parece ser feliz, pelo menos é o que os seus olhos dizem. Já o seu filho tem os olhos pregados na mãe, eles estão muito mais escuros do que o normal e parecem chispar fogo. Não entendo estas suas reações, se ele odeia tanto a sua mãe, porque veio ao casamento? E porque é que me arrastou consigo e não uma amiga?
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The Kidnapped || h.s
Fanfiction"Nada nos faz acreditar mais do que o medo, a certeza de estarmos ameaçados. Quando nos sentimos vítimas, todas as nossas ações e crenças são legitimadas, por mais questionáveis que sejam. Os nossos opositores, ou simplesmente os nossos vizinhos, de...