03- Praia

163 17 26
                                    

Acordar é uma coisa muito difícil, ainda mais depois da quantidade de bebida, do cansaço acumulado e pelo fato de ser domingo. Problema é que já eram 14 horas, precisava levantar pra curtir a coroa e também me alimentar, afinal, não só de cachaça viverá o homem, seria muito bom? Seria sensacional, mas não dava. Cheguei à cozinha e vi o que mamãe tinha deixado pra mim. Fiz o prato de macarrão com sardinha, meu Deus, eu amava aquele tempero e fui para o sofá assistir TV após pegar o meu copo de refri.

-A mesa é só de enfeite, né?

-Ah mãe, hoje é domingo, libera. -falei rindo.

-Não tem jeito, não é menino? -disse ela se sentando- Cadê o Luiz? Aquele safado não ia dormir aqui?

-Você conhece a peça né mãe. Arrumou mulher e foi embora.

-Típico dele. Tenho até medo da hora que você chegar nessa fase e encher essa casa de gente. Olha, eu não vou ficar limpando suas sujeiras não hein garoto. 

-Eu tenho a mesma idade dele mãe, acho que sou imune a isso.

-Duvido. Quando você tiver a primeira desilusão amorosa a gente conversa sobre.

-Credo mãe, seu filho nem beijar na boca direito, já tá querendo dar uma sofrência?

-Como se não precisasse beijar pra sofrer de amor.

-Eita que a mulher é filósofa.

-Palhaço. Se eu encontrar uma migalha que seja nesse sofá eu te faço limpar com a língua. -reclamou saindo de lá- Vou na casa da sua tia, vai comigo?

-Não vai rolar, marquei de ir na praia com um amigo.

-Que amigo?

-Você conhece não mãe -nem eu conheço- É do Campinho.

-Vocês tem cada ideia, ir na praia à tarde. Até chegar lá, tá na hora de voltar. -ela voltou- Você toma cuidado meu filho, tu sabe como o pessoal da praia trata favelado, ainda mais na praia.

-Ah mãe, não tem pra onde fugir, se a gente não sai fica preso aqui a vida toda.

-Eu sei meu filho. Vai só você e seu amigo?

-Acho que sim, pelo menos foi o que ele marcou.

-Tá bom. Fica esperto.

-Pode deixar.

-Tô saindo, te vejo que horas?

-Umas nove.

-Tá bom. Nove horas então. -pegou a bolsa e saiu. Eu não sabia ao certo que horas chegaria, mas se eu disse uma coisa, agora teria que ser, não existe jeito de mentir para a dona Neide e era tudo que eu não queria naquele momento.

O filme da sessão da tarde estava no fim, então resolvi tomar banho. Assim que saí do banheiro não entendi o motivo de tomar banho uma vez que eu passaria a tarde toda na praia, provavelmente dentro do mar. Mas isso aconteceu quando meu perfume estava pela metade. Não tinha jeito, estava acontecendo de novo, o maldito do Rafael estava dominando meus pensamentos e me fazendo tomar atitudes sem raciocinar. Percebi isso quando me olhei no espelho e notei a calça. Ia tirando a mesma, no momento em que escuto uma buzina. Tinha que correr.

Saindo de casa com uma bermuda jeans (a sunga de praia estava por baixo) e uma camiseta regata, um pouco hétero. O único acessório que resolvi levar foi o cordão inseparável com a imagem da minha santinha, eu mal me lembro de quando ganhei, mas não consigo deixar de usá-la, é minha proteção. 

Cheguei ao carro e parece que todo meu perfume não tinha sido nada diante daquela fragrância simplesmente hipnotizadora. Fora o homem que se apresentava no banco do motorista. Apenas cheguei, sentei, respirei e abri um pequeno sorriso, tamanha intimidação que Rafael me causava. Ele estava com uma bermuda tactel que apertava suas coxas e outras coisas que me deixaram muito nervoso. A camisa branca também apertava seu corpo sarado me fizeram olhar para o portão da minha casa para não respirar e me concentrar na vida ao invés de babar mais naquele ser.

Rascunho (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora