Rafael
Se existia um ponto fraco quando se relacionava a mim, atendia pelo nome de Guilherme. Ignorei todos os comandos que a vida me ensinou para evitar cometer riscos. Não dei atenção ao meu instinto que dizia que deveria investigar a pessoa que havia me mandado a mensagem, era um número estranho, de um cara que dizia estar com Guilherme, não dava para pensar em outra coisa. Sem contar a raiva que me deu no segundo seguinte que li "amigo do Guilherme", "nós sabemos o que o faz feliz". Segurei meu próprio pulso para não arremessar o celular na parede e confirmei a conversa com o sujeito.
Depois de um banho, umas três garrafas de cerveja e muitos pensamentos na cabeça resolvi conformar-me e aceitar que o tal Marcos era o certo para fazer meu amor feliz. Mesmo tendo os visto juntos algumas vezes, aquele ato me atingiu em cheio, o cara teve a audácia de me mandar mensagem e ainda querendo conversar comigo. Queria uma receita de como manter Guilherme por perto e o fazer feliz?
Burro. Isso que eu era. Um fraco que não conseguiu manter seu amor e agora o via escapando para um playboyzinho qualquer. Trouxa, merecis ficar sozinho memo.
Na segunda-feira me arrumei para ir encontrar o ditocujo. Ia ser na faculdade do Guilherme, no horário inverso ao da aula. Fiquei sabendo que o moleque ia chegar atrasado no estágio dele por conta daquele papo, mais uma prova de que ele era o cara certo para Gui. Isso me encheu de raiva. Queria matar ele. Pensei algumas vezes em desmarcar ou não aparecer para evitar fazer merda, porém meu inconsciente martelava para que eu fosse. Era bom também para ter uma ideia de como era o cara, saber o que ele queria, se poria o Gui em risco. Isso me deixava nervoso e com raiva.
Não sei se tinha raiva dele ou de mim. Dele por ciúmes. Não conseguia fingir para ninguém isso. De mim por deixar aquilo acontecer e por estar entregando o único motivo de um sorriso meu esses dias a um qualquer. Ir àquele encontro era o mesmo que desistir definitivamente do meu futuro com o cara que amo. Contudo, era o certo a fazer.
-Marcos? -falei para o rapaz sentado no pátio da faculdade.
-Eu. Você... Hmm... Você deve ser o Rafael. Certo?
-Isso. Tu queria conversar comigo? Pode falar.
-Senta aí, cara.
-Pode falar, eu sei que gente como eu não pode ficar nesse lugar.
-Quem disse? O local é público, senta aí.
Sentei.
-Tu tá com tempo?
-Depende...
-Entendo, é que eu desmarquei lá no estágio porque acho que essa conversa vai ser muito importante tanto pra gente, quanto para o Gui.
-Manda aí...
-Quer comer alguma coisa?
-Mané, tu vai ficar enrolando?
-Não, pow. Então... Eu estudo no mesmo curso que o Guilherme e a gente é próximo.
Ajeitei-me no banco um pouco porqur aquela palavra soava desconfortável.
-Um tempo atrás, ele dormiu lá em casa e...
-Leke, eu não to a fim de saber das suas intimidades não. Tendeu?
-Vei... Não aconteceu nada, escuta.
-Tá. -não de onde eu conseguia pegar forças pra não voar em cima daquele filho da puta.
-No meio da noite ele começou a chorar, no começo eu ouvi gemidos baixos, achei que fosse um pesadelo. Quando eu fui ver ele estava desabando em lágrimas. Eu fiquei sem saber o que fazer, então só fiquei abraçado com ele até que o acalmasse e voltasse a dormir.
Naquele momento minha expressão de raiva se transformou em impotência. Eu ainda fazia o Gui sofrer, mesmo estando longe.
-A gente foi se tornando mais amigos e só depois de um tempo que ele veio me dizer o que tinha acontecido naquela noite. Vou ser sincero com você, eu sinto algo muito forte pelo Guilherme. Sério mesmo e ver ele daquele jeito me devastou. Tudo que eu queria era poder cuidar dele e fazer ele esquecer o sofrimento e é isso que eu tenho feito desde então.
-Cara, o que tu quer? Jogar na minha cara o que? Tu não conhece nada da nossa história. Você não sabe nada que a gente passou junto.
-O Gui me contou. Tudo. Parecia estar carregando um fardo no dia que me disse isso na praia.
-Foi depois do lançamento do enredo.
-Você realmente segue ele.
-Se liga, no meu mundo eu preciso cuidar do que é importante pra mim. Tu não vai entender.
-Tenta explicar.
-Você não tem nada a ver com esse assunto.
-Mas você quer achar um jeito de fazer Guilherme feliz, eu também.
-Velho...
-Não precisa contar...
-O que você quer então?
-Vai ser estranho dizer isso para tu. Guilherme me encanta muito, eu nunca tinha sentido isso por outro cara e gostar dele me faz parecer natural. Eu aprendi muito com ele e é sempre incrível quando estamos juntos.
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Rascunho (Romance Gay)
Romansa-Eu notei que você é bastante religioso e como eu não sou tanto... -riu- Minha avó era católica e eu fui o único neto que ela conheceu, meus outros primos nem são daqui do estado. Aí, ela me presenteou com isso aqui. Ele abriu e era um cordão com u...