-Não precisa me levar.
-Mas eu quero.
-Eu não quero.
-Gui, vem logo, vai passar ônibus.
-Rafael, vai embora.
-Eu vou, quando você entrar no carro.
-Eu não vou.
-Ok.
Ele deixou o carro no meio fio poucos metros à frente e se sentou do meu lado.
-O que você tá fazendo?
-Eu disse que vou embora com você. Se você vai de ônibus, eu vou com você.
-E o seu carro? Vai tomar uma multa.
-Sem problemas.
-Vei, para com isso.
-Vai pro carro comigo?
-Não.
-Então, ok. Vamos de busão. Passagem tá quanto mesmo?
-Você é muito infantil.
-E é por isso que vou de ônibus com você, criança não pode dirigir.
-E chato.
-Sabe que foi quase um elogio, né?
-Aff.
-Poxa Gui, vamos? Eu vou de vagar. Juro.Pensei mais um pouco.
-Ok.
-Sério? -vi aquele sorriso de novo.
-Vamos logo, antes que eu desista.
Entramos no carro.
-Nem acredito que te convenci. Tu é tão marrento que às vezes eu nem sei chegar em você.
-Não sou marrento. Só... Deixa. Me leva embora logo.
-Tá bom.Deu partida no carro e, diferente do início da manhã que estava completamente nervoso, agora ele cantarolava, me encarava, sorria.
-Você não tem noção de como eu fiquei feliz vendo você pintado.
-Que?
-Não é que eu esteja zoando a sua cara. Se bem que o pessoal caprichou.
-Sério isso, Rafael?
-Ah, qual é? Você se divertiu. Conseguiu quanto?
-Até que me diverti. Uns 60 reais.
-Caralho. Esse tem lábia hein.
Fiquei quieto.
-Mas sério, deu maior orgulho te ver entrando no prédio. Eu fiquei só pensando, meu mole... o moleque da minha rua praticamente é foda.
Eu fiquei sem palavras.
-Me conta como foi lá. Pessoal da sua sala é legal?
-Foi massa. Mas não deu tempo de conhecer todo mundo por que a gente tava na rua.
-Entendi. Inclusive, aquele mangueiraço foi ótimo hein. Inveja.
-Você viu? Rafael, você perdeu sua amanhã toda me vigiando?
-Fiz umas paradas por aqui, mas sempre que tinha um tempo vinha te ver. Não sabia que horas ia sair. E não ia perder te ver pagar mico, né?
-Só gosta de me ver sofrer...
-Ô Gui, fala isso não. Deus sabe que isso não é verdade.
-Então, por que fez aquilo?
Ele se calou.
-Eu nem te conhecia.
-Mas tirou...
-Desculpa te fazer sofrer.
Silêncio outra vez.
-Você já almoçou?
Não o respondi.
Estávamos a duas ruas da minha casa, numa encruzilhada, onde o outro caminho era para casa de Rafael.
-Você já almoçou?
-Não e nem quero.
-Sua mãe tá em casa?
-Não, você, como o chefe dessa porra toda, deveria saber que ela sai no escuro e volta no escuro.
-Posso te levar pra comer?
-Não. Inclusive aqui tá ótimo. Valeu a carona.
-Não. Não desce agora, por favor.
-Rafael...
-Me deixa te levar pra comer.
-Não quero... abre aqui.
-Gui... você andou várias ruas a manhã toda e não comeu nada. Vai demorar pra você fazer almoço e tá cansado, deixa eu te levar pra comer. Por favor.
-Rafael, me deixa ir pra casa.
-Amor, eu só quero cuidar de você.
-Ab... -quase engasguei ao ouvir aquilo.
-Deixa eu te levar pra casa e te dar almoço. Prometo que não te encho mais o saco, não hoje.
Eu estava olhando pra ele, e vi sua mão tomando coragem e se posicionando no encosto do meu banco. Em sequência, vagarosamente encaminhou-a ao meu rosto e o alisou calmamente.
-Por favor.Apenas fechei meus olhos e pensar em tudo que estava acontecendo no momento e a confusão que se formou minha cabeça, fez com que uma lágrima caísse dos meus olhos.
Cuidadosamente, Rafa enxugou-a e permaneceu fazendo carinho em meu rosto.
-Prometo que não chego nem muito perto de você. Eu só quero participar um pouco desse seu dia tão importante e você também vai ficar sozinho o dia todo. Lá em casa tem um monte de comida e esquenta num instante. Posso deixar a porta aberta, não sei... Eu faço o que quiser, só... Me deixa ficar um pouquinho. Se quiser, podemos ir pra sua casa. Eu fico na varanda, ligo pra um restaurante. Não sei... Deixa Gui.
-Eu tenho que trocar de roupa.
-Tem roupa sua lá em casa. Tem minhas roupas também, a camisa do Flamengo. Tem tudo lá, só falta você.
Aquele sorriso. Por pouco permiti que ele avançasse mais um sinal.
-Deixa eu colocar seu cinto de novo.
-Pode de...
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Rascunho (Romance Gay)
Romance-Eu notei que você é bastante religioso e como eu não sou tanto... -riu- Minha avó era católica e eu fui o único neto que ela conheceu, meus outros primos nem são daqui do estado. Aí, ela me presenteou com isso aqui. Ele abriu e era um cordão com u...