09 - Briga

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A roda parecia girar para outro lado naquela semana. Se na primeira vez que ficamos meu amante sumiu, dessa vez fazia de tudo para estar perto ou simplesmente conversar comigo. Aproveitei que estava de férias da escola e de folga do campinho para poder descansar, ou melhor: ficar deitado digitando ou ouvindo as histórias de Rafael. Às vezes a risada acabava tendo um tom maior e tínhamos que nos segurar para não acordar minha mãe.
Sim, ele pulou minha janela algumas vezes. Não ficava muito, era sempre uma passada para me dar um beijo ou só me ouvir dizer que estava tudo bem e depois continuar seus compromissos. O que mais valia pra mim naquilo tudo é que ele estava ali. Pouco a pouco, durante essas quase três semanas, o maldito conseguiu me fazer quebrar a ideia de que seria usado. Nas coisas mais pequenas como uma mensagem do nada, como: "Ainda tem lasanha", "Hoje eu tô só seu apelido bronha", ";)".
Era véspera do resultado do meu vestibular e como eu estava muito nervoso, o vagabundo resolveu me levar para o bar. Bebemos até duas horas da manhã, certeza que tinha sido de propósito. Voltamos ao apartamento do amigo dele. Dessa vez, chegamos aos beijos, quase acordando o prédio inteiro. E depois de termos transado no banheiro, na cozinha e na cama, fui surpreendido.
-Você acabou comigo hoje, não consigo mais fazer nada. -revelei.
-Poxa amor, só por que eu ia me oferecer pra pagar uma pra você agora?
Fiquei estático de novo. Não sabia se o nível de álcool era muito pra ele não ter notado seu ato falho ou a minha reação, ou ainda se aquilo era proposital. Resolvi não colocar muita lenha na fogueira e guardar aquela lembrança pra mim.
-Que foi? Parece até que eu nunca te chupei.
Permaneci sorridente feito um bobo apaixonado.
-Vamos dormir que hoje eu tô morto. Amanhã eu cobro o serviço.
-Mas vai ter taxa. -brincou.
-Eu tenho bônus já. -retruquei.
-Se quiser um prêmio maior podemos aumentar seu bônus agora. -jogou na cara.
-Você não começa que depois não vai aguentar.
-Quer apostar? -sussurrou.
-Vamo dormir Rafael?
Passei.
Eu estava dentro.
Eu passei.
Eu não acreditava no que estava escrito na tela daquele computador.
Mas eu passei.
A primeira pessoa que soube estava do meu lado sorrindo orgulhoso como se já soubesse a resposta. Parecia ser ele me aprovando.
Passei.
Meu sonho ia começar.
Meu futuro ia começar.
Eu não acreditava que minha vida ia mudar.
Eu estava errado, minha vida já estava mudando. E agora era hora de conhecer novos lugares e novos mundos. Era hora de eu ser alguém. Eu ia parar de ser estatística e ia ser alguém na vida. Eu ia ter uma história. Eu ia contar histórias. Eu estava dentro. A minha vez chegou.
-Caralho Rafa, você tem noção? Eu não tô crendo. -estávamos abraçados comigo chorando no seu peito.
-Eu já sabia que isso ia acontecer, moleque. Tu merece é muito. Liga pra coroa, ela tem que saber. Cara, vai ter comemoração. -ele desfez o abraço e me olhou nos olhos- Eu estou muito orgulhoso de você, tu representa todo mundo. Quando você sobe, a gente sobe junto. Tu merece é muito. Parabéns. -recebi um selinho e depois ele me abraçou.
Na noite desse mesmo dia Rafael fez questão de ir lá em casa, arrumado pedir permissão pra minha mãe para me levar para comemorar o resultado.
-Nossa, um homem galante desses a gente não consegue negar, né!
-Vai lá se arrumar que eu espero.
- Enquanto isso a gente vai conversando. Meu Deus, seu rosto não me é estranho.
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-Vamos?
-Nossa filho, que produção! Achei até que iria pra sua formatura antes mesmo de entrar na faculdade. -zombou minha mãe.
-Obrigado por acabar com minha auto estima mãe.
-Para de ser pirralho, foi só um elogio. -cutucou Rafael.
-Vai defender ela? Quer dizer que se juntaram para me encher o saco?
-Rafael leva esse menino logo antes que eu mude de ideia. -expulsou minha mãe.
Quando Dogão abriu a porta, deu de cara com minha tia que primeiro se assustou, depois o fitou, parecia gostar do que via e por arregalou os olhos. Eu tinha medo do que aquele olhar representaria e acelerei nosso caminhar ao carro. Antes dele girar a chave do carro, parou por alguns instantes e me encarou. Abriu aquele sorriso, balançou negativamente a cabeça e ligou a ignição.
-Vai falar por que tá rindo assim?
-Você tá muito lindo.
-Fala sério. Tá debochando de mim? Eu não sei aonde a gente vai, só achei que era uma noite que eu queria me vestir melhor. Sei lá, comemorar.
-Eu não tô rindo de você, moleque. Eu tô segurando todas as coisas pervertidas que minha mente tá pensando. -fiquei vermelho na hora.
A noite foi novamente perfeita. A promessa feita na praia parecia se repetir a cada dia que saíamos ou que passávamos juntos. Era incrível cada momento e como ele me fazia bem só pelo olhar ou pela conversa suave que me tirava a atenção do mundo. Exceto em um momento que ele teve que atender o celular, me deixando um pouco desconfortável pelo fato de saber o que era. Isso aconteceu duas vezes. Eu não sabia como reagir e ele fingia que estava de boas.
Do restaurante japonês que fomos e vale destacar que eu comi muito, não sabia como aquela iguaria era tão deliciosa resolvemos esticar para o cinema. Pegaríamos a última sessão de corrêssemos. Até hoje me arrependo daquelas frase. O maluco simplesmente colocou o carro a 120 na avenida mais movimentada da cidade. Eu disse que a gente poderia pegar um filme em casa, era só baixar e assistir naquele monstruoso sofá.
Arrependi das minhas palavras quando ele começou a chupar meu pescoço e a massagear meu pau em pleno lançamento de filme. Acho que a tensão por ser pego e não poder fazer barulho era a coisa mais alucinante que acontecia com meu corpo naquela sala. O maldito tratou de calar minha boca com um beijo e imediatamente desceu em meu colo abocanhando meu pênis descoberto. Eu sabia nem em que fileira estava ou qual parte do filme era, talvez até a sala estivesse errada, o que acontecia naquele momento era uma viagem do meu ser para outro mundo chamado prazer. Seus movimentos e sua boca suculenta me deixavam arrepiados e meus hormônios trabalhavam para a liberação. Não demorou muito e eu anunciei que ia gozar, o que acelerou seus movimentos, me surpreendeu e excitou ainda mais, provocando alguns gemidos involuntários que foram tapados por sua mão até meu ápice. Nem preciso dizer que quando chegou minha vez, meu estado era um: ensandecido. Nunca chupei tanto aquele pau, incentivando e cortando o gozo para aproveitar ainda mais aquela sensação de comandar o prazer do parceiro. Saí daquela posição talvez meia hora depois visualizando a cara do meu homem completamente suada com aquele peito subindo e descendo a todo instante. Foi incrível.
Depois dessa tour, fechamos a noite num barzinho bebendo dois litros de cerveja para completar a festa. Ao chegar em casa, meu amante me fez um carinho no rosto e soltou mais um 'Parabéns' me fazendo lembrar do acontecimento principal do dia. Nos beijamos delicadamente e me despedi dele.
Entrei com muita cautela em casa, passava-se de 1 da manhã. Tirei a blusa, o tênis, a calça e os pus em seus devidos lugares. Fui de cueca mesmo na cozinha para beber um copo d'água e descansar, ainda pensando na loucura que fiz no cinema. Como eu era capaz de me deixar levar por esse homem? Quando eu criei tanta coragem assim? 

Rascunho (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora